Buscando… | Crítica | Searching, 2018
A novidade de Buscando... fica na capacidade do diretor em usar uma ferramenta relativamente recente como linguagem e sem cansar o espectador.
Apesar da internet já fazer parte da nossa vida há muito tempo, ela é uma ferramenta relativamente nova. E em muitas vezes, quando o cinema tenta usá-la como parte da linguagem, costuma errar a dose – algo que não acontece em Buscando… O diretor pensa o filme para jovens e trata seu público-alvo com inteligência, compreendendo como funciona essa era de hiperconectividade e hiperinformação. Havia um risco ao colocar telas do computador e de smartphones como a única janela da história, principalmente por causa do ritmo. Chaganty, no entanto, não se deixa perder e consegue nos manter tensos enquanto queremos pular para a tela e participar dos eventos que nos são apresentados de maneira tão familiar.
Uma das coisas mais difíceis em contar uma história sem apelar para muletas, como o flashback, é a naturalidade de justapor essas informações. Poderia vir por meio de conversas ou uma visita à uma filmagem. O que Chaganty faz aqui para modernizar essa naturalidade é contar a história de David (Cho), Pamela (Sohn) e Margot (La) por meio da evolução dos seus computadores, indo do Windows 98 até o MacOs mais atual. É como se você, que nasceu antes de estar rodeado por computadores, visitasse aquele álbum de família que está guardado em algum armário de casa. Mas essa abordagem faz mais sentido para quem o filme foi pensado.
E como a tecnologia é um personagem, nos sabemos o que ela sabe. E existe muita informação nesse filme: uma dezena de notificações, legendas das transmissões de TV, tudo acontecendo ao mesmo tempo – e aqui ficam os parabéns à Sony Brasil que traduziu para o português todas as informações que aparecem na tela. Até a razão de aspecto do filme é ligeiramente mais fechada nos lados para dar a impressão que estamos assistindo tudo pela janela de um computador. A própria tela nos conta coisas sem que precisem ser verbalizadas, como a cena que Margot liga para o pai de madrugada e podemos ver um frasco de remédio para dormir, o que faz a produção também ser algo como um mockumentary atualizado.
Portanto, é perspicaz da parte do diretor usar essa ferramenta como parte da investigação do próprio David e da Detetive Vick (Messing). É verdade que essa investigação é apenas uma modernização do que seria feito num filme de 20 anos atrás: ao invés de fuçar os diários em papel da filha, David abre computadores antigos, busca fichas de endereços em pastas de HDs que estavam parados e continua buscando informações da filha desaparecida pelos rastros virtuais que ela deixou para trás. Felizmente, o diretor não se perde muito com filmagens de cliques em vários botões, mesmo que essas cenas existam, ao acelerar as cenas das pesquisas de David em oposição aos planos longos e sem cortes das conversas que acontecem por meio de smartphones ou webcams, o que mostra também a qualidade dos atores e atrizes.
A única coisa que impede que o filme seja melhor e se valha melhor dessa naturalidade que gostaria de passar é a trilha sonora. Não tem nada a ver com a qualidade da música, mas ela não vem de maneira orgânica, o que seria resolvido, por exemplo, se o pai colocasse as músicas que a filha tocava no piano para aplacar a saudade e a preocupação, seja por uma playlist de mp3 ou CDs gravados amadoramente. Isso até acontece de vez em quando, mas a insegurança do diretor em querer criar um clima de suspense, ele prefere apelar para esse artifício mais comum. O que não é necessariamente um erro, apenas não condiz tanto com a proposta inicial.
Isso, porém, fica no nosso subconsciente e vai incomodar apenas quando pararmos para pensar nas soluções do filme. Aliás, uma das maiores qualidades desse filme policial e que depois de levantar da cadeira é que todas as pistas foram dadas para nós pelo mesmo meio que conhecemos Margot ao mesmo tempo que o pai faz isso. Ele toma um baque ao entender a filha por meio de seu histórico de buscas, postagens no Instagram e o Facebook – e não é como se eles vivessem num mundo paralelo onde essas redes sociais seriam trocadas por uma busca no Bing, por exemplo. São esses detalhes que nos colocam dentro da história, pois entendemos aquele mundo como o nosso.
Claro que o filme levanta também uma questão de privacidade, pois David invade o histórico da filha, que podemos considerar sagrado. Mas essas questões morais são colocadas de lado por um bem maior, pois o único jeito dele conhecer Margot de verdade, sem ela estar ali, vai ser buscando esses fragmentos que ela deixou por aí, um tanto sem intenção, para que ele possa salvá-la seja lá do que for. E como nós na plateia também desconhecemos Margot, somos transportados para a vida de David, uma empatia necessária para podermos nos importar tanto com a protagonista quanto o universo ao seu redor.
Apesar de ser um filme menos trágico que se sugere, dado o universo que se encontra e pelo desfecho que pode desagradar quem procura algo mais cru, Buscando… funciona como filme de investigação, drama e família. Além do cuidado técnico da produção – você pode notar que as telas de vez em quando têm problemas de conexão, qualidade ou de codec – o roteiro vai nos dando pedaços de informações para montar um quebra-cabeças sem nunca parecer pedante, confiando na inteligência do espectador e ao mesmo tempo sem facilitar a vida dele, naqueles típicos momentos que vão te fazer querer bater a mão na testa de algo que foi, literalmente, mostrado na tela à sua frente.
Elenco
John Cho
Michelle La
Debra Messing
Sara Sohn
Direção
Aneesh Chaganty
Roteiro
Aneesh Chaganty
Sev Ohanian
Fotografia
Juan Sebastian Baron
Trilha Sonora
Torin Borrowdale
Montagem
Nick Johnson
Will Merrick
País
Estados Unidos
Distribuição
Sony Pictures
Duração
102 minutos
Quando a filha de David, Margot, desaparece sem deixar vestígios, seu pai precisar descobrir quem era a filha verdadeiramente para que possa então encontrá-la.
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