O Pequeno Príncipe | Crítica | Le Petit Prince, 2015, França
A versão de 2015 d’O Pequeno Príncipe é uma homenagem à obra de Antoine de Saint-Exupéry, mas consegue ir muito além disso.
Com André Dussollier, Florence Foresti, Vincent Cassel, Marion Cotillard, Guillaume Gallienne, Laurent Lafitte, Vincent Lindon. Dublado por Marcos Caruso, Larissa Manoela, Priscila Amorim, Mattheus Caliano. Roteirizado por Irena Brignull, Bob Persichetti, baseado na obra de Antoine de Saint-Exupéry. Dirigido por Mark Osborne (Kung-Fu Panda).
A melhor coisa da nova versão de O Pequeno Príncipe é que o diretor Mark Osborne e os roteiristas Irena Brignull e Bob Persichetti fogem do clichê de contar de novo a história que já conhecemos. A produção é, no cerne, uma homenagem à obra de Antoine de Saint-Exupéry, mas consegue ir além ao contar como podemos relacionar essa história simples e singela com a nossa própria vida, o crescer e as perdas que encaramos no caminho, mas sem esquecer aquele passado alegre e colorido dos tempos de criança. Some isso a uma fantástica animação 3D que se mistura com stop-motion, e você terá uma das melhores experiências cinematográficas desse ano.
Qualquer pessoa que assistir a esse filme sairá com, no mínimo, um elogio: ele é lindo. Há outras palavras para descrever a produção de Osborne – fascinante, cativante e emocionante são algumas – mas é impossível deixar de se deslumbrar com a qualidade da animação 3D, com a grande profundidade de campo que sempre deveria ser, e com o cuidado do stop-motion, pois seria muito cômodo a animação seguir o mesmo estilo da vida do Aviador (Dussollier/Caruso) e da Menina (Poincaré/Manoela). Então, é de encher os olhos de quando a história entra na outra história e conhecemos a narrativa do Pequeno Príncipe (Santamaria/Caliano). Em oposição ao CGI, o diretor nos faz viajar por páginas, então os personagens parecem bonecos de papel, e há detalhes perfeitos, como a viagem de avião pelas nuvens onde podemos perceber aquelas fibras típicas que aparecem quando rasgamos uma folha papel. Esse visual mais clássico, digamos assim, é a homenagem ao mundo de Exupéry.
As rimas visuais são bem claras no mundo real, mas é bem divertido notar como o mundo da menina e sua mãe (Florence Foresti/Amorim) é modular e cinza: as maçanetas são quadradas, janelas e até as árvores são podadas de modo cúbico e sem graça. E é bem simbólico perceber que o acidente que projeta a hélice do avião do Aviador abale tanto as estruturas da casa tanto quanto a da vida das duas. Aviador que, em oposição a elas, vive num espaço mais aberto e alegre, com música, cheio de cores e onde praticamente nenhum objeto tem formas quadradas.
Partindo do princípio que certas histórias devem ser passadas para frente – e nesse caso, é um signo interessante ver que isso aconteça por meio de um avião de papel – a aventura do Pequeno Príncipe salva a Menina em mais de um aspecto. As conversas e os questionamentos abrem sua percepção e a fazem viajar por um mundo tão fascinante como um pequeno tesouro que encontra. É curioso ver como as cores e as formas entram na vida da Menina ao receber do Aviador um jarro cheio de moedas para compensar os danos causados por ele. No meio delas ela acha uma bola de gude colorida, uma concha, e um boneco do Pequeno Príncipe, algo que estava invisível aos olhos anteriormente e o verdadeiro tesouro dentro de outro.
Essa produção e tão espetacular que seria possível emoldurar variados frames num quadro – em especial os da animação stop-motion. A trilha sonora de Hans Zimmer, com participação da cantora Camille, é tão cheia de doçura com seus toques e melodias contagiantes que complementam essa beleza visual. Mas Zimmer soube muito bem adaptar suas notas no mundo dos adultos visitados pela Menina enquanto procura o Pequeno Príncipe. Naquele mundo dos adultos com uma luz verde e com um ar doente os timbres são mais tristes, assim como o visual extremamente deprimido. Não que o mundo que a Mãe e seus vizinhos vivam seja diferente, já que até o verão naquela cidade se torna cinza e chuvoso.
Você deve se perguntar ao ver o pôster do filme o por que de contar de novo a história? Porque, talvez, você tenha esquecido O Pequeno Príncipe. Esquecido no canto da sua memória pode estar uma infância que hoje se tornou algo cinza e pálido. A grande mensagem do filme é que não podemos parar o tempo, e nem devemos querer isso. A vida é cheia de alegrias, decepções, bons e maus momentos, e o problema não é envelhecer, mas o tipo de adultos seremos. É uma bela mensagem aliado a um belíssimo filme que ficará marcado na memória, com todo o direito de estar lá, para fazer lembrar as necessárias cores da nossa vida.
Sinopse oficial
“O Pequeno Príncipe, dirigido por Mark Osborne (Kung-Fu Panda, Monstros Vs Alienígenas), é um tributo à obra popular de Antoine de Saint-Exupéry. O filme é centrado na amizade entre um excêntrico velho, O Aviador (Marcos Caruso) e uma garotinha bem crescida que se muda para a casa ao lado com sua Mãe (Priscila Amorim). Através das páginas do livro do Aviador e seus desenhos, a menina (Larissa Manoela) descobre a história de como ele há muito tempo caiu em um deserto e encontrou o Pequeno Príncipe (Mattheus Caliano), um menino enigmático de um planeta distante. As experiências do Aviador e o conto das viagens do Pequeno Príncipe para outros mundos fazem a menina e o Aviador ficarem muito próximos, embarcando juntos em uma aventura memorável.”
Veja o trailer de O Pequeno Príncipe
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