O Chamado 3 | Crítica | Rings, 2017, EUA
O Chamado 3 é uma produção que deixa a franquia onde Samara estava em sua aparição anterior: no fundo do poço.
Elenco: Matilda Lutz, Alex Roe, Johnny Galecki, Vincent D’Onofrio, Aimee Teegarden, Bonnie Morgan | Roteiro: David Loucka, Jacob Aaron Estes, Akiva Goldsman | Baseado em: Ringu (Kôji Suzuki) | Direção: F. Javier Gutiérrez | Duração: 117 minutos
Seja Samara conhecida pelo remake de 2002 ou pela Sadako do original japonês, é fato que a personagem de úmidos cabelos compridos e pele murcha azulada faz parte do imaginário dos filmes de terror. E em O Chamado 3 tudo isso é colocado por água abaixo – e peço perdão pelo trocadilho. O roteiro é de uma previsibilidade monstruosa, as atuações são péssimas e os momentos-chave que deveriam assustar a plateia causam riso, o que destrói a experiência por completo. Mesmo que a intenção fosse fazer um filme descompromissado, nada justifica a falta de cuidado em quase todos os sentidos dessa desastrosa produção.
A falta de experiência de Gutiérrez – esse é apenas seu segundo filme – é notória desde o começo. A história conta com dois prólogos sendo que, pelo bem da narrativa e do ritmo, precisávamos de apenas um. Por algum motivo o diretor conta com que a audiência seja inábel em entender o que acontece na frente deles, e isso se repete mais vezes durante o filme. Então, Gutiérrez não apenas conta como Gabriel (Galecki) encontra um aparelho VHS, mas também como a hoje peça de museu foi parar num brechó. Só então, depois de dez minutos perdidos, é que somos apresentados à protagonista Julia (Lutz) e seu namorado, Holt (Roe).
Durante a sucessão de eventos sem sentido, o momento que mais faz é existir um estudo sobre Samara (Morgan) – um ser que influenciou a vida de um considerável número de pessoas. Não é a primeira vez que isso acontece em filmes de terror, vale dizer. Tanto Jason Vorhees quanto Freddie Kruger já foram descobertos como seres reais (dentro de seus respectivos universos), sendo um caçado pelo governo dos EUA e o outro controlado. Podemos comprar até mesmo o interesse de Gabriel em comprar o VHS no começo do filme, pois é algo que a suspensão de descrença nos permite. Diferente dos próximos minutos.
É verdade que é bem relativo a questão de gostar ou não – e, de novo, o papel da crítica não é dizer isso e pronto – mas quando você não acredita no que sai da boca dos personagens é aí que o filme perde o espectador de vez. Cada diálogo é dotado de uma preguiça inacreditável – cada frase parece telegrafada de tão óbvia – e juntando com péssima capacidade de interpretação da dupla de namorados, Gutiérrez não consegue, em nenhum momento, fazer que eles nos sejam caros. O que fica é a impressão de um roteiro que não foi lapidado, apesar de ser reescrito duas vezes, feito às pressas para tirar algum proveito de uma série que há dez anos foi deixada para trás.
Outro exemplo da preguiça recorrente do roteiro a seis mãos é o forçado uso do número sete em toda a narrativa. Partindo do original e dos sete dias que a maldição da Samara leva para se finalizar, a produção é inundada com o número: Holt e Julia notam o relógio da casa dele às 7:07; o lugar onde os experimentos de Gabriel acontecem é no sétimo andar de uma universidade; a primeira morte que vemos também acontece perto das 7. Até uma palavra importante na trama tem sete caracteres em inglês – e aqui a única sutileza. Não há necessidade de martelar tantas vezes assim.
Assim como o diretor martelar o óbvio. Por mais uma vez – talvez sete? – Gutiérrez não deixa a trama fluir e faz com que Julia ou Holt vocalizem aquilo que estamos vendo, mesmo que os personagens estejam sozinhos. Seja uma inscrição ou as visões de Julia, muito é narrado como se fôssemos cegos – e nem mesmo se fôssemos, pois nem a áudio-descrição, se fosse o caso, funcionaria assim. É impressionante que os roteiristas e o diretor nivelem tão por baixo a audiência, como se o filme fosse feito para crianças. E não é, considerando as cenas de violência, mesmo com o quase conservadorismo em relação ao sexo.
Além da falta de carisma de Julia e Holt até as motivações secundárias são improváveis, para não dizer convenientes. O maior exemplo é quando os dois presenciam um acidente de carro e a polícia local, por um motivo que é ignorado, começa a fazer os trabalhos de resgate por um dos acidentados que claramente não sobreviveu – podemos dizer isso pelo estado do carro. Isso só acontece porque o outro personagem precisava morrer para não entregar a história cedo. E o pior: a história não respeita o próprio universo ao fazer Samara deixar sua assinatura para trás, ainda no reino das conveniências.
Com certeza o que vimos é um filme. Há um diretor, produtores, roteiristas, fotógrafos e todos outros inerentes e necessários a uma produção cinematográfica. O que falta em Chamado 3 é uma alma, algo que os personagens também parecem não ter. O quesito susto foi jogado para longe, o filme não tem sentido – inclusive parece foi montado diferente da maneira que foi concebido, o que explicaria a falta de sentido no roteiro – com elementos esquecidos e repete o grande mal da maioria dos filmes de terror de hoje, esse gênero tão maltratado que temos que nos apegar até às produções medianas para esquecer os exemplos como o que Gutiérrez nos trouxe nesse ano.
O Chamado 3 | Trailer
O Chamado 3 | Pôster
O Chamado 3 | Galeria
O Chamado 3 | Sinopse
Anos depois dos eventos que despertaram a maldição da fita que mata sete dias depois de ser assistida, Samara está de volta. Dessa vez o alvo é Julia (Lutz) que assistiu ao filme para salvar a vida do namorado, Holt (Roe). Mas algo está diferente. Dessa vez, Samara está chamando sua amaldiçoada e o casal se une numa jornada para decifrar esse novo mistério e acabar com a maldição para sempre.
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