Mogli – O Menino Lobo | Crítica | The Jungle Book, 2016, EUA
A nova roupagem de Mogli – O Menino Lobo é um deslumbre visual e não se esquece de suas raízes.
Com Neel Sethi, Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Lupita Nyong’o, Scarlett Johansson, Giancarlo Esposito, Christopher Walken. Roteirizado por Justin Marks, baseado na obra de Rudyard Kipling. Dirigido por Jon Favreau (Homem de Ferro).
A história de menino criado por lobos é um tanto universal, vide Rômulo e Remo. E depois de tanto tempo da clássica animação de 1967 – e vamos fazer de conta que o filme de 1994 não existiu – Mogli – O Menino Lobo está de volta mais deslumbrante do que nunca, numa narrativa leve e rápida. Vindo na esteira de outros clássicos animados que foram adaptados ao live action, esse é a primeira produção do estilo que se destaca depois das duas últimas tentativas da Disney. E mantém o espírito infantil com alguns elementos mais sombrios, nem tão pensada para as crianças e nem tão pesada para que elas não possam curtir.
Seria impossível não falar do que mais salta aos olhos durante a projeção do filme: chegamos num ponto onde está difícil de diferenciar o CGI do mundo real. Mesmo nos closes de animais falantes, como a boca se movendo para mostrar as vozes que conhecemos, é uma evolução impressionante. Os animais da floresta são todos ultrarrealistas também para não se destacar, pelo bem ou pelo mal, de Mogli (Sethi). Enquanto o jovem corre e pula entre árvores, lagos e pedras, podemos imaginar a dificuldade do jovem ator em lidar com telas verdes ou azuis, contando com muita imaginação. Felizmente, a história não se vende apenas pelo requinte tecnológico.
Essa quase realidade vem também de Fraveau utilizando efeitos de câmera documentais, como o zoom, ou fazê-la de partícipe – e a plateia, consequentemente – quando gotas de água caem na lente numa cena de perseguição. E sendo o bom diretor que é, mostra habilidade na paleta de cores que servem para separar momentos e cenários. Em geral, essa é uma história bem cheia de cores muito vivas ou muito densas e por isso é recomendável dispensar o 3D que escurece essas cores tão importantes para a trama e que faz pouco favor à narrativa, apesar de bem feito e explorando a grande profundidade de campo.
Ainda falando de cores, podemos notar como elas funcionam em alguns momentos-chave. Quando Shere Khan (Elba) sai das sombras, mesmo num ambiente de luz e familiar para Mogli, temos a representação do perigo num lugar que deveria ser de uma relativa paz. Já perseguido pelo tigre, Mogli parte da parte conhecida de seu lar, atravessando uma parte sombria e enlameada, morada de Kaa (Johansson). A píton tem uma voz envolvente e sensual, assim como o jeito de se mover e falar, sibilando cada “s” pronunciado. As cores brilhantes só voltam quando Baloo (Muray) vem para alegrar novamente a vida do jovem. E assim como outros animais, o urso tem características bem humanas – além de vizinhos fofoqueiros.
Mesmo passando no mundo de tigres, lobos e gambás, a história é uma alegoria para o mundo humano. E o roteirista Justin Marks transporta com naturalidade esses elementos para a tela: mesmo que fique no subconsciente, notamos as semelhanças. Bagheera (Kingsley) pode ser uma pantera – um animal com menor porte que um tigre –, mas seu ar nobre e corajoso servem de inspiração para toda a floresta. Shere Khan está no lado oposto, usando o medo como arma, distorcendo as próprias palavras para alcançar seus objetivos como qualquer líder fascista. E há toda uma espiritualidade na sociedade na alcateia que acolheu Mogli desde pequeno, o que torna ainda mais simbólico quando o tigre toma o lugar de Akela (Esposito), tornando-se assim um déspota.
Tudo isso para reforçar a lição de moral desse tipo de conto. Diferente das investidas anteriores – Malévola (Maleficent, Dir Robert Stromberg) e Cinderela (Cinderella, Dir Kenneth Branagh, 2015) – a história do humano criado por lobos não precisava de adaptações. Porém, há algumas mudanças para deixar o filme mais sério, como o uso de menos interlúdios musicais que a animação dos anos 1960. Elas ainda existem para homenagear o trabalho que inspirou essa produção, mas os responsáveis pelo novo filme preferiram estruturar melhor e com mais tempo as nuances da nossa sociedade refletidas nesses fantasiosos animais, falando de questões como raça, segregação e preconceito.
Fraveau e Marks não acertam sempre no desenvolvimento dos personagens, como na sequência do Rei Louie (Walken – quase mimetizado em forma de orangotango) que ficaria mais crível na sua ganância se não cantasse – o segundo momento musical do filme, desnecessário até – e parecesse menos Darth Vader com seu discurso no estilo “junte-se a mim” para Mogli. Aliás, essa sequência não acompanha todo o cuidado que vinha acontecendo antes na história, principalmente na questão do som do palácio despencando, não sendo tão impressionante como deveria ser.
Ainda que o terceiro ato seja menos interessante – dando a impressão que correram para que o filme não ficasse mais longo, considerando o público alvo – essa nova versão Mogli – O Menino Lobo é bela e com conteúdo, ainda que não seja a primeira vez que visitamos a história. É uma produção que se preocupou desde os quesitos técnicos – a cena em que Mogli e a plateia veem a história do jovem pelos olhos de Kaa é de uma beleza estética sensacional – sem deixar de lado o espírito de aventura e crítica social do original. É a oportunidade de mostrar a história para a nova geração, algo que nem todo o remake/reboot consegue fazer.
Sinopse oficial
“Dirigido por Jon Favreau (Homem de Ferro), baseado nas eternas histórias de Rudyard Kipling e inspirado no clássico longa de animação da Disney, Mogli – O Menino Lobo (The Jungle Book) chega uma aventura épica inédita sobre Mogli (novato Neel Sethi), um menino criado por uma família de lobos. Mas Mogli sente que não é mais bem-vindo na floresta quando o temido tigre Shere Khan (voz de Idris Elba), que carrega cicatrizes causadas por caçadores, promete eliminar o que ele considera uma ameaça. Forçado a abandonar o único lar que conhece, Mogli embarca em uma cativante jornada de autoconhecimento, guiado pela pantera e mentora Bagheera (voz de Ben Kingsley) e pelo alegre urso Baloo (voz de Bill Murray). Pelo caminho, Mogli encontra criaturas da selva que não são exatamente bondosas, incluindo Kaa (voz de Scarlett Johannsson), uma cobra cuja voz sedutora e olhar penetrante hipnotizam o menino-lobo, e Rei Loiue (voz de Christopher Walken), o nobre de fala mansa que tenta convencer Mogli a contar o segredo da ilusória flor vermelha mortal: o fogo”.
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