Martyrs | Crítica | Martyrs (2016) EUA
Com Troian Bellisario, Bailey Noble e Kate Burton. Roteirizado por Mark L. Smith, baseado no roteiro de Pascal Laugier. Dirigido por Kevin Goetz e Michael Goetz.
O remake d Martyrs tem bons pontos, mas peca por tentar explicar demais e pela pieguice.
Por se tratar de uma experiência repetida, o remake de Martyrs deve ser encarado com mais cissura, principalmente para quem não tenha visto a versão original – que o caso de quem vos escreve. Algumas informações dão conta que a produção foi feita quase quadro a quadro com o original franco-canadense e, com alguma experiência, sabemos que esse tipo de abordagem costuma não funcionar. Mesmo assim, o filme é tenso no prólogo, conta com uma virada interessante nas ações da protagonista e tem tudo para agradar os fãs do horror que gostam do estilo gore que tem dominado o estilo. Porém merecia uma abordagem mais dúbia, algo que é indicado apenas no início, invés de entregar tão cedo à realidade.
Os irmãos Kevin e Michael Goetz dão algo de visceral nas tormentas de Lucie (Bellisario), desde criança até os dias atuais. Quando pequena, a jovem escapa de seus captores e, para transmitir o desespero, os dois usam de alta granulação, fotografia dessaturada e o recurso da câmera na mão para trazer um tom quase documental à história. E enquanto nos contam a história no orfanato, eles baixam a câmera praticamente na altura de uma criança – interessante que com isso nos aproximamos delas. Em oposição, fazendo premonições, usam vários plongés, um recurso que poderia indicar uma presença metafísica.
A partir do segundo ato é que a história fica interessante. É um ponto de virada que não estávamos preparados, que vem como um tiro – literal e figurativamente – com uma Lucie fazendo justiça com as próprias mãos. O que parecia bem diferente de quando ela estava com a amiga Anne (Noble) – mais do que isso, elas são irmãs de criação – e essa pancada chama atenção do espectador: Lucie, ignorada pelas autoridades, tanto religiosas quanto civis, agora é o centro da atenção. Munida com uma escopeta, ela grita que está ali. Anne é arrastada pelo amor que sente pela protagonista, sempre pensando em protegê-la – algo reforçado pelos vários flashbacks –, mesmo que isso signifique quebrar a lei.
Ainda assim, é difícil acreditar nas ações de Anne para proteger a amiga – algo impulsionado pela péssima atuação das atrizes – que beiram hora o inconsequente, hora o inconcebível. O curto segundo ato brinca com a possível loucura de Lucie que assassinou seus supostos captores quando era jovem, ou se existe algo sobrenatural. Seja por um lado ou outro, ela precisava desesperadamente de ajuda, e Anna não parece muito disposta a tirar a amiga de lá, nem mesmo quando Lucie se joga do primeiro andar da casa e claramente precisa de cuidados médicos por causa dos ferimentos anteriores. Assim como é difícil de acreditar que Anne não chamaria algum tipo de socorro quando entramos no terceiro ato.
Os planos calmos do lado de fora contrastam com o inferno que se torna o lado de dentro, o que funciona se levarmos em conta que essa é uma crítica de como as aparências enganam, assim como a própria Lucie. A grande jogada é descobrir se ela está perturbada ao ponto de se descolar da realidade, ou se há algum tipo de verdade nas suas ações. E um dos grandes defeitos da história é que a resposta vem cedo demais, dando lugar ao tão pedido gore presente no cinema americano desde os ataques de 11 de setembro, sendo o seu maior expoente recente a franquia Jogos Mortais.
No fim, Martyrs tem bons pontos. Porém, todo esse esforço é em vão se for apenas um copiar e colar do original com toques que facilitam a compreensão para uma audiência mais ávida por explicações – o plano final mostra isso, fugindo da sutileza e explicando inclusive com uma narração off o desfecho da história das amigas – e finais felizes (ou quase isso). Por outro lado, é uma porta de entrada para conhecermos o original e, felizmente, há elementos que nos dão vontade de fazer isso. Para quem não conhece, é a chance de ser surpreendido. Para quem ainda tem na mente o filme de 2008 pode ser uma decepção, mas pelo menos o original ainda está por aí para ser apreciado.
Sinopse oficial
“Uma mulher e sua amiga de infância procuram por vingança por aqueles que a torturaram quando criança. Sem lembrar ao certo quem foram seus agressores, elas procuram pela verdade obscura de seus desaparecimentos, por trás dos traumas causados.”