Lino | Crítica | Brasil, 2017
Lino é uma animação feita para crianças muito pequenas e que mostra a qualidade do estúdio nacional que trouxe a obra.
Elenco: Selton Mello, Dira Paes, Paolla Oliveira | Direção: Rafael Ribas | Duração: 93 min | 3D: Relevante
Antes de sair com duas pedras na mão da sala de cinema, lembre-se que Lino não foi feito para você que consegue ler esse texto. A animação nacional do estúdio Startanima é para crianças de, no máximo, cinco ou seis anos, que ainda estão formando sua linguagem e absorvendo conceitos básicos de interação. Os menores vão se divertir com cores, um personagem fofo e podem até rir com as situações que envolvem a dor física do personagem felino. Para quem é mais velho, é uma aventura óbvia e até preconceituosa em alguns momentos. No fim das contas, serve mais para mostrar a qualidade técnica do estúdio, como um portfólio, do que um exemplo bem feito de roteiro.
O que pode irritar tanto o espectador adulto quanto o infantil é uma narração off de Lino (Melo) contando todo seu azar e desventuras pela vida. Para uma animação cheia de cores e piadas visuais que são baseadas em pancadas e gritos, o começo é a parte mais irritante da narrativa – algo que fica pior pela proposital música irritante do salão de festas onde o protagonista trabalha: um personagem tão sem personalidade que seu alter ego também tem seu nome. Já na segunda parte, quando Lino é transformado, a narrativa acelera e fica mais colorida, o que despertará a atenção das crianças.
Mas é difícil aguentar esses primeiros vinte minutos. Tanto é que assistindo não há muito o que comentar da história até a transformação de Lino por um erro de Don Leon. A não ser visualmente. Essa é a força do filme: a animação 3D é bem produzida e no seu estilo mais cartunesco não fica atrás de nenhuma superprodução estrangeira. Desde de como as cenas são iluminadas – a maneira que a luz se comporta no apartamento de Lino para representar sua vida na penumbra é um exemplo disso – até a textura do já transformado Lino num gato gigante e colorido são os destaques do filme.
Porém, é preciso apontar que mesmo na proposta de exagerar para marcar os personagens na mente das crianças, Ribas usou de estereótipos. Não é nem a questão de ser básico no design dos outros personagens menos importantes (isso é mais para fazer a trama mais universal e adaptável para vários mercados), mas reforçar ideias ultrapassadas no desenvolvimento deles. Então o personagem malvado é careca, usa cavanhaque e é cheio de tatuagens; a dupla de policiais idiotas são desengonçados e parecem não ter equilíbrio dos próprios corpos – o que traz repetidas piadas envolvendo peidos; e a pobre menina rica que não consegue enxergar o óbvio. Além do próprio Lino, que por ser introvertido é um fracassado.
Pior é a maneira como Janete (Oliveira) é representada. Por algum inexplicável motivo, a policial, que pelo menos é o cérebro da equipe com outros três homens, é sexualizada no seu design com coxas grossas e uma farda que parece mais um collant, acentuando suas curvas. Para um desenho que toca no assunto da diversidade colocando uma menininha negra como personagem importante faltou tato dos personagens na representação exagerada dessa morena, que lembrar mais a mensagem que por tanto tempo foi exportada daqui para fora. E beira o preconceituoso a maneira que os índios são representados na história. Por mais que a intenção fosse fazer o básico, era tarefa dos responsáveis pelo filme fugir de mensagens ultrapassadas.
Em contrapartida, existem algumas piadas relativamente divertidas – de novo, tenha em mente que esse é um filme para crianças. Para tentar acalmar os pais, o diretor encaixa duas anedotas com referências aos anos 1980 como uma recompensa por terem levados seus filhos para essa aventura. Para as crianças, o roteiro brinca com um enigma, apesar de que a conclusão dele vir do nada e só é possível pelo conhecimento de Don Leon sobre o assunto, e com dúvidas de como se definir o que é um ornitorrinco. A primeira situação acaba numa piada genial (a única que se ouviu muitas risadas na sessão que estive) e a segunda é divertida pelo que o filme se propõe, já discutido nos parágrafos anteriores.
Mesmo que Lino seja indicado para crianças muito novas, não é possível deixar passar seus problemas de desenvolvimento. Exagerado para passar a mensagem para os pequenos e com uma graciosa mensagem no final, o filme passeia por momentos sem graça, que são a maioria, e por boas sacadas visuais, como quando a animação se torna 2D para explicar um plano impossível dentro daquele universo que estamos vendo em 3D, ou quando o diretor corta a música num momento que Lino tem que ser ágil e silencioso como um gato. Longe de ser genial ou de querer mudar os paradigmas da comédia, a produção vale mais pela qualidade técnica do estúdio, o que pode chamar a atenção para o mercado brasileiro de animação.
Lino | Trailer
Lino | Pôster
Lino | Galeria
Lino | Sinopse
Lino é uma apresentador de festas infantis. Sempre fantasiado de gato e sempre sem dinheiro, ele busca a ajuda de um mago de araque para mudar sua vida. O que dá certo, mas não da maneira que eles esperavam.
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