Kubo e as Cordas Mágicas | Crítica | Kubo and the Two Strings, 2016, EUA
Kubo e as Cordas Mágicas é um belíssimo filme que peca por ser comum demais, ainda que emocione em muitos pontos.
Elenco: Charlize Theron, Art Parkinson, Ralph Fiennes, Rooney Mara, George Takei, Matthew McConaughey | Argumento: Shannon Tindle, Marc Haimes | Roteiro: Marc Haimes, Chris Butler | Direção: Travis Knight
Por dentro da animação impecável de Kubo e as Cordas Mágicas bate um coração melancólico. É uma daquelas produções feita para as crianças que estão transitando de uma fase da vida para a outra, onde a percepção do mundo e de vida e morte já estão mais claras. Entre cenários e personagens fantásticos, encontramos um mundo rico em aventura e desafios, mas também cheio de dúvidas e perigos. Porém, ela é óbvia em alguns de seus mistérios, o que frustra a audiência mais madura, ainda que equilibre os elementos de aventura e sensibilidade. Não é apenas uma reflexão descompromissada e apoiada pela qualidade técnica, mas precisava ser menos comum.
Do começo ao fim, a animação vai tirar o seu fôlego. Numa mistura de stop-motion com CGI, o universo de Kubo (Parkinson) é contado como saído de um teatro feito de origamis. Tanto personagens como elementos da natureza – mares, montanhas, rios – parecem ter sido obra de um exímio artista das dobraduras japonesas. É o típico filme que um aficionado pelo visual vai querer o livro de arte, ter em casa em alta definição para apreciar depois cada pedaço, cada dobra e ficar inebriado com os comentários de produção e making-ofs. Felizmente, a produção vai um pouco além da beleza visual.
Kubo não é diferente de tantos heróis que são chamados à aventura – por mais que, no caso, ele seja levado à força por ela. Órfão de um grande guerreiro e com uma mãe que está lá fisicamente, mas distante por causa de um ferimento na cabeça, o jovem cego de um olho conta seus sonhos com auxílio de seu poder mágico. E, como acontece muitas vezes quando nós sonhamos, Kubo não sabe o final da história que está contando. As histórias que ficam apenas no papel são dicas visuais da narrativa, uma premonição do que vem a seguir. Mas nem todos os elementos são contados para guardar surpresa.
É verdade que a estrutura da jornada de Kubo não é diferente de tantos outros heróis, passando pela perda da família, o encontro com alguém mais velho e experiente – A Macaca (Theron) lembra isso mais por seus pelos brancos a outro motivo – e a presença de um fiel escudeiro – Besouro (McConaughey), atrapalhado e esquecido, mas muito hábil. Ainda que exista uma leve subversão do que estávamos esperando na narrativa, considerando que na história que Kubo contava o besouro era um inimigo, essa é a parte mais comum. Longe de ser um demérito, a relação dessa nova família vai proporcionar momentos engraçados e tristes durante os 100 minutos de projeção.
Por ser uma animação, Knight usa muito do universo visual para dar pistas e contar histórias. Não é preciso muito esforço para notar a cicatriz no rosto da macaca, ou o inseto que o Besouro foi transformado e começar a fazer ligações. A riqueza visual nos proporciona outros momentos marcantes, como a presença fantasmagórica das Irmãs Gêmeas (Mara) – seres que usam máscaras kabuki para esconder as feições, sem olhos e sem expressões humanas – ou o flashback que não é exatamente um, quando conhecemos a história de como os pais de Kubo se conhecerem, contada através de papeis que voam pelo ar, respeitando o universo criado pelo diretor.
Há uma questão que precisa ser abordada nessa aventura que é o uso do origami de samurai que Kubo cria inconscientemente. O problema é que ele é um grande deus ex-machina, colocado na narrativa apenas para apontar caminhos numa jornada que nem Kobo e nem a Macaca sabiam como começar. Então os roteiristas precisaravam criar uma saída e, infelizmente, eles foram para um caminho muito fácil. A inexperiência dos três – é o primeiro roteiro de Haimes, Butler escreveu Paranorman; Tindle tem uma experiência maior em design de personagens – e também da do diretor mostram claramente essa questão. Felizmente, não serve de muito demérito à obra, mas esse é um dos aspectos que nos faz apegar mais ao visual do que a história em si.
E essa é uma sensação conflitante. A jornada de Kubo é emocionante e há momentos não tão óbvios que quebram a nossa expectativa, assim como a construção da personalidade do protagonista. Esse samurai que não luta com espadas, mas com um shamisen – um instrumento japonês de três cordas – é de um simbolismo profundo. Mas os poderes de Kubo mudam de um momento para o outro, principalmente no embate final, e parece que temos que aceitar apenas por ser mágica. Apesar de percebemos que houve uma grande pesquisa para o visual, falta um toque verdadeiramente japonês, talvez com algum produtor, para ajustar essa normalidade.
Kubo e as Cordas Mágicas será lembrado, no futuro, mais por causa de seu visual impactante do que propriamente sua história. No entanto, não significa que é uma obra descartável. A jornada de superação é bem comum, e há conveniências que precisavam ser mais bem resolvidas – como a inanição do origami de samurai no fim do segundo ato – mas o tom melancólico o diferenciará de outras obras destinadas ao público jovem. Explorando elementos do universo do Japão – tsurus e o Gashadokuro, por exemplo – é uma obra que pode servir como porta de entrada à cultura daquele país. Seja para literatura, cinema ou outras das oito artes.
Kubo e as Cordas Mágicas | Trailer
Kubo e as Cordas Mágicas | Pôster
Kubo e as Cordas Mágicas | Imagens
Kubo e as Cordas Mágicas | Sinopse
Esperto, o bondoso Kubo ganha a vida humildemente, contando histórias para as pessoas de sua cidade litorânea. Mas sua existência relativamente calma é quebrada quando ele acidentalmente invoca um espírito de seu passado que desce violentamente dos céus para impor uma antiga vingança. Agora em fuga, Kubo reúne forças com Macaca e Besouro, e sai em uma emocionante busca para salvar sua família e resolver o mistério de seu falecido pai, o maior guerreiro samurai que o mundo já conheceu. Com a ajuda de seu shamisen – um instrumento musical mágico – Kubo irá lutar contra deuses e monstros, incluindo o vingativo Rei Lua e as malvadas Irmãs Gêmeas para desbloquear o segredo de seu legado, reunir sua família e cumprir seu destino heroico.
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