Kingsman: O Círculo Dourado | Crítica | Kingsman: The Golden Circle, 2017
Kingsman: O Círculo Dourado é uma daquelas produções que é embalada pelo bom nome do filme anterior, mas tem pouco conteúdo.
Convenhamos, era praticamente impossível superar a aventura anterior. Mas Kingsman: O Círculo Dourado por pouco não faz um desserviço ao seu predecessor. Apesar de dinâmico, cheio de boas coreografias e até divertido em alguns momentos, a produção exagera no conjunto: seja na duração, na repetição de piadas, das várias viradas de roteiro, no dispensável uso do 3D e até na trilha sonora. Apesar do primeiro filme extrapolar em muitos assuntos, havia um frescor que sabíamos que não seria igualado. Mas na continuação há muitas conveniências que são escondidas pelo ritmo frenético, revelando furos no roteiro e resultando numa verdadeira dor de cabeça.
Com a vantagem de termos personagens pré-estabelecidos, Vaughn não perde tempo para entrarmos na ação, colocando Eggsy (Egerton) em confronto com seu passado enquanto é perseguido pelas ruas de Londres. A sequência em si mostra a evolução do personagem e a sua capacidade de improvisar, o que à princípio mostra que a vida de um Kingsman não é passível de erros. Porém, não podemos mais chamar o jovem de novato na sua missão, o que traz a primeira e mais forte conveniência do filme, pois não é preciso ser agente secreto para perceber a estupidez que foi deixar o braço mecânico de Charlie (Holcroft) no banco de trás do táxi.
Do mesmo jeito, é difícil de acreditar que o amigo de Eggsy que se hospeda na casa do personagem acesse o compartimento secreto na mesa do escritório, revelando armas e outros apetrechos. Bem da verdade, é difícil acreditar até na distração geral dos Kigsman, que parecem não ter aprendido nada com a experiência anterior, sendo pegos mais de uma vez de surpresa. Por questões de arco dramático, você poderia aceitar que a distração do protagonista tem a ver com sua pouca experiência e a perda do mentor no primeiro filme, mas a saída mostra outros defeitos, típicos de filmes de ação com pouco cuidado no roteiro.
O que mostra o outro grande problema. Apesar de ser co-escrito por Goldman, a trama tem um grande problema de representação feminina. Começando pela exclusão de Roxy (Cookson) – que tinha superado Eggsy durante o treinamento – e a abordagem simplista de Poppy, uma personagem sem os tons de cinza do protagonista que se resume apenas ao papel estereotipado (e me perdoem pelo vocabulário) “vaca sem coração”, uma personagem que chega ao cúmulo de servir um hambúrguer de carne humana para um de seus capangas. É divertido a construção visual da vilã, que tem a típica cara de dona de casa de uma propaganda dos anos 1950, mas isso só serve de estética.
E no meio de tudo, Vaughn e Goldman resolvem brincar com crítica social. Primeiro apontando para o perigo de como uma empresária pode justificar tudo em nome de um negócio desde que ele gere lucro. Depois toca no assunto mais conservador sobre o uso recreativo de drogas e de como os usuários são tratados. O problema é que nessa mistura de temas, os dois roteiristas não mostram o que querem dizer. Parece um medo de ser taxado pelo público mais conservador de liberal e vice-versa. O que é um tanto covarde, mesmo que Eggsy e Merlin (Strong) se posicionem contra a decisão tomada pelo presidente dos EUA, o que protege os mais desfavorecidos, como na conclusão do primeiro filme.
O exagero segue também na ressureição de Harry (Firth), fazendo parecer que a (provável) franquia não nos faça mais temer se alguém sumir da narrativa. Apesar da contribuição do ator ser muito boa – especialmente nas cenas de Harry que flutuam entre a inocência e a emoção – parece que estamos mais no universo dos super-herois do que no de espionagem. Há um exagero também na escalação de outras grandes figuras que não se desenvolvem na trama, como é do Agente Tequila (Tattum), da agência Stateman. Quando ele é sacado da trama, fica bem claro que o personagem precisa ser preservado não para esse, mas para um próximo filme (ou um spin-off, tudo é possível).
Cada vez mais embrenhados no ritmo frenético do filme, onde a música e a montagem não permite descanso, vamos sendo narcotizados pelas sequências de ação plasticamente bem-feitas. O único momento de descanso é que acaba sendo mais interessante pela piada que é a subversão da resposta para os problemas que Eggsy e Merlin enfrentam estar no fundo de uma garrafa – ao contrário de qualquer pessoa sã diria. O que sobra de interessante é a falsa esperança que o diretor nos dá num personagem terciário que faz o papel de advogado, a presença de Elton John e a versão estadunidense dos apetrechos dos Statesman. Mas são detalhes que nem de longe ajudam o filme.
Para tentar salvar a produção, Vaughn e Goldman apelam para piadas já usadas no original, apenas mudando as bocas de onde saem as falas, o mesmo apelo musical e uma despedida emocionante. No fim das contas, a diversão que se dá entre tiros, explosões e coreografias não é suficiente para que Kingsman: O Círculo Dourado funcione. O filme leva ao extremo a máxima de que tudo numa continuação tem que ser maior, mas sem conseguir encontrar o próprio equilíbrio e se jogando num precipício sem perceber que fizeram isso – a prova que nem tudo precisa de uma continuação.
Elenco
Colin Firth
Julianne Moore
Taron Egerton
Mark Strong
Halle Berry
Elton John
Channing Tatum
Jeff Bridges
Direção
Direção: Matthew Vaughn (Kingsman: Serviço Secreto)
Roteiro
Jane Goldman
Matthew Vaughn
Baseado em
Kingsman (Mark Millar, Dave Gibbons)
Fotografia
George Richmond
Trilha Sonora
Henry Jackman
Matthew Margeson
Montagem
Eddie Hamilton
País
Estados Unidos
Reino Unido
Distribuição
20th Century Fox
Duração
141 minutos
3D
Irrelevante
Com a destruição da agência Kingsman por um cartel de drogas conhecido como Círculo Dourado, Eggsy e Merlin vão até os EUA e lá descobrem os seus equivalentes no novo mundo: os Stateman. Agora eles devem se unir para deter essa ameaça.
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