John Wick: Um Novo Dia Para Matar | Crítica | John Wick: Chapter 2, 2017, EUA
Ainda que menos focado que na aventura anterior John Wick: Um Novo Dia Para Matar funciona como uma interessante aventura que mescla o clássico com o moderno.
Elenco: Keanu Reeves, Common, Laurence Fishburne, Riccardo Scamarcio, Ruby Rose, John Leguizamo, Ian McShane | Roteiro: Derek Kolstad | Direção: Chad Stahelski (John Wick) | Duração: 122 minutos
Se na aventura anterior as homenagens ao gênero de ação estavam mais sugeridas que citadas, Chad Stahelski e Derek Kolstad preferiram ser mais diretos em John Wick: Um Novo Dia Para Matar. Assim como seu predecessor, a aventura e divertida e frenética e abraça esses fatores sem deixar de lado um bom roteiro, ainda que essa escrita se alongue um tanto além e no terreno da comparação fica a impressão de ter menos foco ao se estender na mitologia apresentada no primeiro filme, mas que continua entre muitos tiros, socos, explosões e uma enorme pilha de corpos deixada para trás.
O prólogo, que é mais um adendo ao filme de 2014, deixou uma grande preocupação que felizmente não se alonga. Um John Wick (Reeves) ainda puto da vida – desculpem a linguagem coloquial – descobre o paradeiro de seu carro, roubado no filme anterior, que ainda está nas mãos da máfia russa. É divertido ver John fazer o que sabe de melhor, mas quase destrói a essência do personagem. Não parece motivação suficiente para o Baba Yaga matar todos os capangas de Abram (Stormare) para recuperar seu Mustang, sendo que no filme anterior ele teria deixado o pai do idiota que o roubou – e que matou o cachorro, é bom lembrar – vivo se entregasse o próprio filho.
Mas o nosso senso crítico diminuído é recompensado por uma sequência que envolve inúmeras batidas de carro, lutas físicas incrivelmente coreografadas, risadas quando percebemos que John deve ser algum descendente de Wolverine e muito bom senso, por incrível que pareça, quando John percebe que nunca poderia ganhar no corpo-a-corpo com um capanga bem maior que ele e faz o que faz. O resultado do embate pode parecer não condizente com a carnificina que testemunhamos, mas é a vontade do John que vimos no primeiro filme. Plasticamente falando, a sequência é um deleite pela montagem e o design de som, apesar de ser exagerada a opção visual de destacar algumas das falas dos personagens por meio de legendas.
Stahelski e Kolstad também tem sua dose de seriedade, afinal de contas o drama de John é pesado, e eles nos jogam alguns prenúncios como a sombra da chuva que se projeta numa parede vermelha antes de Santino (Scamarcio) aparecer para coletar uma dívida de sangue. E se no filme anterior John não tinha praticamente nada a perder, nesse filme ele renasce de cinzas, literais e figuradas, para uma nova vida que ele relutava. E é um ciclo interminável e aos poucos ele próprio perceber que é impossível sair daquela vida. De fato, John não é um mocinho; ele está naquela área cinzenta, um personagem que socialmente falando deveria estar atrás das grades, mas que simpatizamos porque somos manipulados a isso. Na falta de heróis, torcemos pelo menos ruim.
É algo vindo do faroeste como Django (1966, Sergio Corbucci), gênero que o filme homenageia no personagem Julis (Nero) – o Django original em pessoa. Em suma, a produção é uma homenagem aos filmes de ação, os já citados faroestes e até mesmo de produções de Kung Fu: é impossível não se lembrar de Operação Dragão (Enter the Dragon, 1973, Bruce Lee, Robert Clouse) quando John é encurralado numa sala de espelhos e tem que lutar pela própria vida. Então aquela clara sensação de déjà vu é justificada porque Stahelski e Kolstad colocaram esses elementos em cena como afirmação. Sem a pretensão de fazer algo do zero nem totalmente original, podemos nos deixar levar sem a sensação de sermos enganados.
Porém, o novo filme peca por não ser tão direto quanto o anterior. Com 120 minutos à disposição, Stahelski abre o leque para conhecermos mais os detalhes da guilda de assassinos que John faz parte e perde muito tempo com detalhes de como ele consegue arranjar armas, mapas e esquemas, roupas e proteção para seus trabalhos externos. Mesmo que esses detalhes sejam divertidos, eles atrasam a urgência do filme e que por isso cai na sensação de acelerar no ato seguinte. Além disso, Kolstad não está muito interessado em fugir de elementos que já explorados no primeiro filme, colocando John num hotel, indo à balada para caçar seu alvo e tendo que adentrar o subsolo.
Também é difícil de aceitar uma conveniência ou outra como a cena em que Gianna (Gerini) entra nos seus aposentos particulares sem nenhum segurança perto, sendo que ela é membro da Alta Cúpula e só a líder atual da máfia italiana, a Comorra. Além da presença em si de John ali dentro. E para um homem tão esperto – não que a inteligência de John seja seu forte – foi muito simplório que o ex-atual-assassino aceitasse a missão sem questioná-la com Gianna, ainda que ela não achasse uma saída mesmo sendo membro da Alta Cúpula da guilda de assassinos.
Só que, de novo, somos recompensados por essas falhas de desenvolvimento com mais cenas de ação plasticamente incríveis como a com poucos cortes que acontece nos túneis em Roma, a briga entre John e Cassian (Common) que ganha ares de pessoal quando Stahelski corta a frenética música que estava tocando na cena anterior – o que mostra que o diretor tem talento para saber quando o silêncio é importante – e nas doses de comédia que estão na narrativa intencionalmente e que fazem rir pela sua grande improbabilidade. Em especial é a segunda discussão – com grandes aspas – entre John e Cassian que, não tendo mais nada para ser dito, é apenas feita com gestos e olhares num misto de frieza e comédia muito inteligente.
Felizmente, a dupla responsável pelo filme não esquece que uma das características do universo criado por eles é violento. Há muitos ossos quebrados, sangue, cenas doloridas e aflitas – daquelas que vão fazer soltar um som bem longo de agonia – e finalmente descobrimos um dos maiores segredos de John Wick que envolve um instrumento feito de grafite e revestido de madeira por fora, uma cena que vale o esforço de se ir ao cinema no meio de tantas estreias pesadas e indicadas ao Oscar. Ao mesmo tempo a produção ganha uma tensão não vista até agora quando percebemos o tamanho dos colegas de profissão de John e o grande problema dele ser conhecido e não conseguir passar anônimo por ser uma lenda.
Mais detalhes chamam a atenção da produção como o cuidado dado aos funcionamentos dessa organização que trabalha com telefonistas que ligam cabos para atender centrais, passa mensagens por computadores com monitores de fósforo verde e pagam seus serviços com moedas de ouro – ainda que o valor delas seja estranho de ser calculado – mostrando que essa é uma sociedade antiga e que preza pela tradição. Além da já citada montagem de Evan Schiff a fotografia de Dan Laustsen externa os sentimentos de John apostando em cinzas (desespero), azuis escuros (frieza e foco) e se permite dourados e amarelos para momentos de reflexão não necessariamente bons.
Sem discussões e com poucas palavras do seu protagonista, John Wick: Um Novo Dia Para Matar é menos interessante em comparação com o antecessor. Ainda assim, é um ótimo filme de ação misturando inteligência, violência e risos quando precisa ter. Tem seus problemas de percalço com personagens secundários – por alguma razão esse é o terceiro papel de Ruby Rose como uma mercenária e Laurence Fishburne está na trama apenas como uma homenagem à Matrix – mas se sustenta nos outros pontos já citados. Adiciona elementos interessantes à figura mítica do personagem, sendo a principal uma humanização ao mostrar que nem ele pode fazer tudo sozinho, e o coloca no rol de anti-herói de ação que gostamos tanto de ver, com mais falhas a qualidades.
John Wick: Um Novo Dia Para Morrer | Trailer
John Wick: Um Novo Dia Para Morrer | Pôster
John Wick: Um Novo Dia Para Morrer | Galeria
John Wick: Um Novo Dia Para Morrer | Sinopse
Não há descanso para John Wick (Reeves). Forçado a voltar à ativa por causa de uma antiga dívida de sangue, John é chamado para assassinar a líder de uma das maiores organizações criminosas do planeta. E entre muitos tiros, explosões e ossos quebrados, John vai sentir na pele os problemas de ser uma lenda viva.
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