Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 | Crítica | The Hunger Games: Mockingjay – Part 1, 2014, EUA
Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1. Uma ótima experiência, mas fica claro que a aventura não precisa ser dividida em duas partes.
Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Jeffrey Wright, Stanley Tucci e Donald Sutherland. Roteirizado por Danny Strong e Peter Craig, baseados na obra de Suzanne Collins. Dirigido por Francis Lawrence (Jogos Vorazes: Em Chamas).
No TigreCast 64 comentei com a equipe sobre coisas que nos irritam na indústria cinematográfica. Esqueci-me de falar sobre a busca pelo lucro indiscriminado quando esticam filmes além da conta. É assim com a trilogia O Hobbit, Crepúsculo, será assim com Divergente, e é assim com Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1, uma série que conquistou a mim, alguém que não leu os livros, apenas pela competência apresentada nos primeiros filmes. Depois de pouco mais de duas horas, percebe-se que história de 390 páginas poderia muito bem ser adaptada em um filme só de 150 minutos. Porém, a direção é concisa, juntamente com a direção de arte, fotografia, efeitos visuais e atuações, ainda que o filme se arraste por momentos que não precisava. É uma experiência boa, mas que poderia ser muito melhor.
Katniss (Lawrence), depois de frustrar os planos do Presidente Snow (Shuterland) no Massacre Quarternário, é levada ao Distrito 13. Lá ela é convencida pela Presidente Alma Coin (Moore) e por Plutarch Heavensbee (Hoffman) a ser o Tordo, um símbolo da resistência dos outros distritos contra a Capital. A jovem, porém, ainda tem como propósito cuidar da família e descobrir se Peeta (Hutcherson) ainda está vivo.
[leia também]
Katniss não parece a mesma do filme anterior. A história acertadamente mostra uma garota fragilizada pelos eventos dos Jogos, escondendo-se logo na primeira cena, e a câmera na mão usada pelo diretor reforça o estresse. A pálida fotografia amarelada dá uma sensação triste e pesada, o que contribui para o estado perturbado de uma pessoa que não passa uma noite sequer sem vívidos pesadelos.
Nesse novo mundo que a protagonista se encontra – militar, subterrâneo, quase fascista – existe a necessidade de se adaptar. Katniss emprega nas suas roupas quase uma armadura de contra-ataque; Gale (Hemsworth) já está acostumado com a farda preta; até mesmo Effie (Banks) se vira com o pouco que tem, mas consegue se destacar um pouco daquele visual sem-graça, pelo menos na visão dela, sem o glamour passado da Capital.
Ao invés de apostar na ação, o diretor usa do (grande) tempo que tem para mostrar como a Guerra funciona. E se antes a crítica era aos reality shows, agora ela fica mais perto da nossa realidade. Propaganda versus contra propaganda, os horrores da Guerra – quando Katniss visita o que restou do Distrito 12, vemos corpos calcinados como por napalm, indicando uma injusta guerra química – e as execuções sumárias são todos elementos que vemos recentemente na nossa história: Iraque, Síria, Líbia e outros países que estão ou estavam no limiar de desaparecer.
A politicagem é a parte mais maçante da narrativa, ainda que melhor explorada do que vimos em Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode 1 – The Phantom Menace, Dir George Lucas, 1999). É uma pausa para reflexão, talvez até uma extensão do que foi passado no livro. É uma faca de dois gumes, pois as cenas poderiam ser resumidas em favor da narrativa. Provavelmente elas serão bem mais funcionais se assistirmos esse filme e logo depois irmos para a sua continuação em 2015. Mas são esses detalhes que deixam a história mais crua e tenebrosa.
Um parêntese dentro dessa transformação de Katniss em garota-propaganda da resistência é a atuação de Jennifer Lawrence. Enquanto Coin e Heavensbee tentam tirar alguma essência falsa da verdade da personagem, a atriz dá o seu pior, verdadeiramente atuando como se não soubesse atuar. Só quando Haymitch (Harrelson) aparece – vejam só, sóbrio – é que uma luz entra para resolver situação. A clássica tomada saindo da sombra fez muito sentido nesse plano.
Se o filme peca por falta de ação nos dois primeiros atos, sem contar uma pequena incursão ao Distrito 8, o terceiro compensa – e como – essa lacuna. Sim, o plano pode ser comparado com muitas outras histórias – Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (Return of the Jedi, Dir Richard Marquand, 1983) é o que me vem à mente – mas funciona. A incursão à Capital é tensa, tem cortes rápidos e o infravermelho dá uma sensação incômoda de que algo terrivelmente errado está para acontecer. A ameaça em si é um tanto fraca, já que as palavras ameaçadoras de um personagem parecem muito mais perigosas do que realmente são.
Além de ser tecnicamente empolgante – os detalhes dos efeitos visuais, a maquiagem que deixa Peeta cada vez mais esquálido – Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 se mantém no mesmo nível dos seus antecessores. Com alguns problemas, como o fraco cliffhanger, mas serve como rima visual para seu antecessor, não há mais nada a fazer além de esperar a Parte 2, em dezembro de 2015. E acredito que valerá a pena, ainda que seja angustiante para alguém que não conhece o original. E se perguntem: as críticas negativas viriam se o protagonista fosse um homem?
Veja o trailer de Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema