Jogos Mortais: Jigsaw | Crítica | Jigsaw, 2017
É verdade que Jogos Mortais: Jigsaw é pensado para os fãs da franquia por misturar pedaços das melhores partes dela, mas ainda há algum charme.
Dificilmente Jogos Mortais: Jigsaw angariará novos fãs; bem da verdade, o filme é uma grande homenagem/colagem do que fez o filme ser, bem, grande. Mesmo que ele funcione sem muito conhecimento prévio do anterior – basta saber que existia um assassino em série que colocava suas vítimas em engenhosos instrumentos mortais – o filme é tão cru quanto o primeiro, mais simples nas máquinas e até mesmo no desvendar com o mistério. Quem acompanhou a saga do personagem desde 2004 não levará muito tempo para sacar o que está acontecendo, pois sabemos que conhecer as regras é estar um passo à frente.
[ouça também]
• Jogos Mortais 1, 2 e 3 | TigreCast #65
• Jogos Mortais 4, 5, 6 e 3D | TigreCast #110
O começo do filme poderia ser confundido com qualquer filme policial nos moldes mais tradicionais, mas o início acelerado já coloca perguntas no ar, peças do quebra-cabeça que começam a se mover com a presença do Det. Halloran (Rennie). Uma década depois da morte de John Kramer (Bell), no terceiro filme, o assassino Jigsaw encontra um jeito de voltar. Interessante que o filme não pode ser considerado um terror – sabemos que ele se encaixa mais no gore/slasher – mas John encarna todos os trejeitos de grandes monstros sagrados do cinema como Jason Vorhees, Freddie Krueger ou Pinhead. A diferença é que qualquer um poderia ser um Jigsaw.
E é nisso que o quarto filme em diante se baseia: no legado. Doentio, mas ainda um legado. O jogo de gato e rato tem realmente tons de terror com possibilidade assustadora de que, no fim das contas, Jigsaw não tenha morrido uma década atrás (apesar de termos visto sua necropsia). Filmes e histórias de detetives costumam mostram como, de alguma maneira, esses personagens que representam o lado do bem se destacam e superam seus antagonistas. Porém, a franquia Jogos Mortais sempre mostrou o lado mais podre da lei e da sociedade em paralelo ao câncer que John tinha. Isso é algo que podemos notar narrativamente na fotografia, por exemplo. Na maratona da série, podemos notar sempre aquele tom esverdeado de podridão, algo que nos acompanha, alguma coisa sem cura.
Então, em síntese, este filme repete elementos anteriores, mas sem forçar explicações saídas do nada das partes 5, 6 e 7, uma constante desde que o detetive Hoffman encarnou o papel de protagonista. Sim, Jogos Mortais foi sempre sobre pecados, redenções e mentir para si mesmo – cada uma das vítimas do assassino em série era assim aos olhos de John. Discutir suas ações é uma coisa, mas a verdade é que todos os seus prisioneiros eram dignos de um inferno, nem que esse fosse uma metáfora. E as armadilhas eram o purgatório por qual os culpados deveriam passar para alcançar a libertação.
Porém, e isso conversa com o lado secretamente sádico de cada um, Jogos Mortais também é sobre a inventividade das máquinas de John Kramer – e é algo bem horrível pensar que alguém tenha tamanha imaginação. Se as armadilhas não foram tão marcantes a partir do quinto filme, aqui eles têm algo de clássico, a começar pelas serras giratórias da primeira armadilha, passando pela forca, decapitações e a bala; todos já usados em outros filmes e que aqui existe um sentido que são costurados junto com o roteiro. E a pista mais importante para entender como a história funciona ser exatamente as cenas de desespero dos capturados, algo que martela na sua cabeça, mas que não há muito tempo para se pensar por causa da urgência da situação.
É divertido, claro, notar a inabilidade de Halloran, um personagem que detestamos principalmente por sua misoginia, e de seu parceiro Hunt (Bennet). Em outras ocasiões, John já apontava uma crítica à força policial que sempre recorria aos músculos ao invés do cérebro – o policial do segundo filme é o melhor exemplo disso – algo que podemos notar em alguns casos de brutalidade que atingem situações isoladas nos EUA. E, de novo para quem já está acostumado com Jigsaw, sabemos que um policial irá caçar o outro e que numa continuação – não que esteja planejada – aquele que sobrou se tornará alvo da atenção do assassino.
A nova produção brinca também com a evolução da tecnologia, principalmente quando vemos os instrumentos de Logan (Passmore) e Eleanore (Anderson). Então, o assassino se atualiza, deixando dessa vez nos mortos pen-drives ao invés de mini-fitas k7. Inclusive, nesse momento, o tema conhecido de Jigsaw ganha um ar techno para encarnar tal modernidade. E essa é a segunda maior pista para solucionar o enigma, ou pelo menos parte dele e existem outros que no final são explicados minuciosamente, pois é normal precisarmos de ajuda para montar um quebra-cabeças de tamanho considerável. O importante é que na conclusão o espectador não se sente enganado ao perceber que todas as peças foram entregues, mas, talvez por causa do coração batendo mais acelerado, não tenha percebido ver com clareza.
Nem tudo é perfeito, sendo o mais incomodo é quando os diretores apelam para os sustos fáceis de pulo – os defasados scary jumps – e uma grande conveniência que envolve um caixão e uma pessoa desaparecida. O que melhora Jogos Mortais: Jigsaw é mais uma vez como elementos se conectam e a volta às origens, sem planos e máquinas ultra mirabolantes em detrimento ao roteiro. A história pode agradar também por ser encarada como uma continuidade retroativa – maior ainda que todos os retcons desde o segundo filme -, levando a história para um lugar um pouco diferente que conhecíamos. É uma homenagem que os fãs esperavam, mas, depois de sete anos, é a hora de aposentar John Kramer que voltou para um patamar mais elevado em relação à sua última aparição.
Elenco
Matt Passmore
Callum Keith Rennie
Clé Bennett
Hannah Emily Anderson
Laura Vandervoort
Paul Braunstein
Mandela Van Peebles
Brittany Allen
Josiah Black
Shaquan Lewis
Michael Boisvert
Tobin Bell
Direção
Peter Spierig
Michael Spierig
Roteiro
Josh Stolberg
Peter Goldfinger
Fotografia
Ben Nott
Trilha Sonora
Charlie Clouser
Montagem
Kevin Greutert
País
Estados Unidos
Distribuição
Lionsgate Films
Duração
92 minutos
Corpos começam a aparecer pela cidade. Cada um deles foi morto de maneira violenta e de acordo com um modus operandi conhecido, a de um assassino em série morto há dez anos: John Kramer. As investigações começam e parece que não é o trabalho de um imitador, mas do próprio Jigsaw.
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