A Invenção de Hugo Cabret | Crítica | Hugo, 2011, EUA
A Invenção de Hugo Cabret é uma homenagem à imaginação das crianças, a Georges Méliès e ao próprio cinema, mas não explora tão bem esse emocional.
Com Ben Kingsley, Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Sacha Baron Cohen, Emily Mortimer, Jude Law e Christopher Lee. Escrito por John Logan (Rango), baseado no livro de Brian Selznick. Dirigido por Martin Scorsese (O Aviador).
A expectativa era grande. A Invenção de Hugo Cabret é uma grande homenagem ao cinema. Ver na tela Georges Méliès, suas criações e ideias serem apresentadas para um novo público é emocionante para qualquer cinéfilo. E nesse clima nostálgico, o grande diretor Scorsese nos leva para a Paris do começo dos anos 1930 numa tentativa de fazer um filme infantil. Tem momentos comoventes, mas o roteiro é tão previsível e com poucos momentos marcantes que essa reverência ao cinema clássico se sobrepõe à história do personagem principal, enquanto o ideal seria encontrar um equilíbrio. Com personagens paralelos e alívios cômicos que parecem fora de lugar, esta produção não deve ficar muito tempo na memória dos espectadores. É um filme que será lembrado mais pela sua perfeição visual e técnica, com seu encantador 3D que explora profundidade de campo, do que outros filmes que souberam explorar mais o emocional.
Esse empenho visual é percebido por toda a projeção. Com mais afinco no começo, na tomada aérea inicial, onde a ruas iluminadas de Paris se transformam num mecanismo de um relógio. Encontramos Hugo (Butterfield) vivendo nas entranhas dos relógios da estação de trens parisiense Gare Montparnasse. Ele trabalha sozinho, dando corda nos relógios e consertando ou trocando suas peças, para que as máquina continuem seu propósito. E, como acontece com as máquinas de vez em quando, Hugo também está “quebrado”, de coração partido desde que seu pai (Law) morreu enquanto trabalhava num museu. Ambos partilhavam uma paixão por máquinas. Antes de morrer, os dois trabalhavam para reativar um “autômato” (ou, um robô). Com a tragédia e com a vontade de não ver nada quebrado, Hugo entra numa jornada, incluindo pequenos furtos, para fazer o autômato funcionar, pois acredita que o pai deixou alguma mensagem para ele. A cena de flashback (uma das poucas do filme, aliás) vem antecedida pelo característico som de um projetor de filmes. Até a luz que se projeta atrás de Hugo na cena é igual ao aparelho, com cortes de luz e sombra. Conhecemos também Isabelle (Chloë) e seu avó, personagem que é o homenageado do filme George Méliès (Kingsley). Enquanto Isabelle trata Hugo com carinho, Méliès chega a ser cruel. A cena em que ele entrega a Hugo uma pano com várias cinzas corta ainda mais o seu coração. Mas vamos aprendendo que, como nos filmes, nem tudo é o que aparenta ser. Lembrem-se: pagamos para sermos enganados, como em qualquer show de mágica.
As imagens que mostram os desenhos de Méliès ganhando vida, sua história e sua tristeza por ter abandonado o que lhe dava tanto orgulho é a melhor parte do filme. Tanto que o próprio Hugo e suas aventuras com Isabelle ficam apagadas. O Inspetor Gustave (Cohen) e sua gag visual quando “trava” e a relação com seu Doberman são momentos engraçados, mas todo o universo dentro de Gare Montparnasse não é interessante. Seu interesse romântico, a florista Lissete (Emily) é tão apagada que poderia ter sido feita por qualquer outra atriz com menor destaque no mundo cinematográfico (ela já tinha trabalhado com Scorsese antes em Ilha do Medo). E a história romântica do jornaleiro Monsieur Frick (Richard Griffiths) e da dona do café, Madame Emile (Frances de la Tour) não cria nenhuma relação com os espectador, ficando fora de lugar. Nem a presença do vetereno Christopher Lee, interpretando o dono da livraria Monsieur Labisse me fez me importar com os coadjuvantes da história. O que é digno de prestar atenção são os cameos de Scorsese e de Johnny Depp , produtor do filme.
Não é um filme ruim, nem mal produzido. Apenas perde o foco. A trilha de Howard Shore apresenta temas heterogêneos é um trabalho que deve ser ouvido com mais atenção. A Invenção de Hugo Cabret, como disse no começo, provavelmente será lembrado mais por sua técnica. Mas é um marco também para os nostálgicos que entendem que existem uma relação grande entre sonhos e o cinema, como diz Miéliès a certa altura do filme, enquanto está no seu estúdio: “é aqui onde os sonhos são feitos“.
A Invenção de Hugo Cabret ganhou o Oscar 2012 nas categorias Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem se Som.
A Invenção de Hugo Cabret | Trailer
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