Guerra Mundial Z | Crítica | World War Z, 2013, EUA
Guerra Mundial Z é um ótimo exemplo do que um blockbuster deve ser. O problema é que o caos fora da tela se reproduziu do lado de dentro.
Com Brad Pitt, Mireille Enos, Fana Mokoena, Daniella Kertesz, David Morse, Matthew Fox, Abigail Hargrove e Sterling Jerins. Argumento de Matthew Michael Carnahan e J Michael Straczynski. Roteirizado por Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard e Damon Lindelof, baseado no romance de Max Brooks. Dirigido por Marc Foster (007 Quantum of Solace).
Justiça seja feita. Guerra Mundial Z tem tudo que se espera de um blockbuster. Boas sequencias de ação, um ator com força e carisma, produtores poderosos, e a aval de um grande estúdio. Tudo parecia ir bem até as notícias do dinheiro que foi gasto com refilmagens e a pressa em trazer gente para rever partes da história, o que resultou em três roteiristas escrevendo e reescrevendo tanto o argumento quanto o roteiro. O caos da produção se refletiu na tela e, apesar de ter várias qualidades, o resultado é apenas um filme bom, mas com a impressão que poderia ter sido muito melhor.
Gerry Lane (Pitt) é um ex- funcionário das Nações Unidas que agora leva uma vida mais tranquila com a esposa Karin (Enos) e as duas filhas Rachel (Hargrove) e Constance (Jerins). Durante uma locomoção entre um ponto e outro da Filadélfia, a família é pega no meio de um surto de algum tipo de doença que transforma os infectados em zumbis, cujo único propósito parece ser a própria deflagração do vírus/bactéria. Com o problema atingindo nível global, Gerry é chamado de volta ao serviço para rastrear a origem de seja lá o que é isso para poder manter em segurança a própria família e impedir que a humanidade seja extinta.
Desde George Romero, os filmes de zumbi carregam a crítica à cultura de massa e a violência, onde bandos de descerebrados esbravejam e tentam devorar os seres pensantes. O diretor Marc Forster abre o filme com imagens retiradas dos mais tipos fúteis de programas de auditório e de baixarias, intercalando com notícias sobre problemas ambientais, dando assim a sua própria crítica ao cenário atual. O roteiro também é eficiente em não apontar exatamente como a praga começou – cita rapidamente as mordidas de um animal não identificado – e também por não focar depois do apocalipse, e sim durante e o desespero daqueles que vem o fim iminente do mundo. É certo dizer que a história se passa num mundo idealizado pelo diretor de “A Noite dos Mortos Vivos” (Night of the Living Dead, 1968), mas em escala global.
O começo do filme é espetacular. O ritmo acelerado, a câmera que treme constantemente, e sem conseguir focar precisamente no que está acontecendo, deixando o espectador na dúvida para onde olhar, dá ao terror uma escalada ótima. Essa cena que ocorre no meio das ruas lotadas do centro cidade consegue captar bem o desespero que poderíamos passar no meio de um cenário de guerra. Notem que as pessoas não seguem só uma direção, já que não sabem exatamente o que está acontecendo. Nesse momento, vemos apenas frames rápidos dos zumbis pulando em transeuntes incautos, e isso aumenta a sensação de que alguma coisa muito errada está acontecendo, e não podemos fazer nada para ajudar, e nem ao menos temos tempo para isso. Também é digna de elogios a trilha sonora de Marco Beltrami, que já tinha trabalhado em outro filme com o mesmo tema, – “Meu Namorado é um Zumbi” (Warm Bodies, 2013) – faz um bom trabalho, e ajuda as cenas a terem mais tensão. E o diretor faz outro bom serviço ao desaparecer com a música num outro momento tão tenso quanto esse, mas focado só na família de Gerry enquanto buscam abrigo. Num ambiente fotografado em vermelho, é o som diegético dos zumbis que se torna uma trilha sonora angustiante.
Por outro lado, existem algumas decepções por se tratar de um filme de mortos-vivos, sendo a principal a tentativa de ganhar mais público. Apesar de ser uma história onde os zumbis correm como desesperados, atacam em bandos, conseguindo escalar uns nos outros para fazer verdadeiras pirâmides humanas e levarem muita bala, o filme oblitera a violência gráfica. Os produtores, buscando uma censura mais baixa, 12 anos no Brasil e PG-13 nos EUA, praticamente não derramam sangue. Todos os ataques às pessoas pelos zumbis são cobertas por alguém ou alguma coisa. Mesmo os zumbis que são alvejados não aparecem desfalecendo e perdendo massa cinzenta; e nem as mordidas que os azarados levam, e são um ou dois mostrados, a marca não é mais profunda do que um ser humano normal faria, diferente dos efeitos que Tom Savini fez nos clássicos filmes de Romero. Mercadologicamente, faz sentido, mas é claro o incômodo pela falta de sangue e um pouco mais de violência na tela. Esse efeito de poupar a audiência só funciona quando Gerry chega numa base militar para investigar o caso, e nos deparamos com vários corpos de soldados no arame farpado, envolto em sombras, e nos perguntamos o tipo de desespero que os fez se jogarem contra o material cortante.
“Guerra Mundial Z” é um que mistura momentos interessantes e fracos. A da cena inicial na Filadélfia, o pandemônio que acontece na cidade de Israel e outra que acontece dentro do avião – sendo a primeira vez que se vê uma situação onde não existe para onde correr – contrastam com a falta de cuidado no roteiro escrito a tantas mãos, o fraco CGI dos zumbis e o efeito 3D, mais uma vez entrando na praga de ser convertido, apelando sempre para a pequena profundidade de campo. É um filme de ação relativamente eficiente, já que o visual é deslumbrante. Mas é indeciso, e a impressão é que ele fica no meio caminho entre o drama e a ação, e não conseguiu escolher nenhum deles. O drama apresentado tenta ser especial para quem já tem família constituída, mas não consegui me importar com nenhum dos personagens, o que representa o erro retumbante de roteirista e diretor.
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