GI Joe: Retaliação | Crítica | G.I. Joe: Retaliation, 2013, EUA
Apesar de ser divertidíssimo e com ação, não é possível virar os olhos para os defeitos de GI Joe: Retaliação.
Com Bruce Willis, Dwayne Johnson, Channing Tatum, D.J. Cotrona, Lee Byung-hun, Adrianne Palicki, Ray Park, Jonathan Pryce, Ray Stevenson, Arnold Vosloo, RZA, Elodie Yung, Joseph Mazzello, Walton Goggins, Luke Bracey e Robert Baker. Roteirizado por Rhett Reese e Paul Wernick. Dirigido por Jon M Chu.
Existe uma evolução presente no filme “GI Joe: Retaliação” em relação a seu predecessor. O filme de 2009 aposta em várias piadas, principalmente na presença do comediante Marlon Wayans, na ação e num roteiro bem pífio. Não que a continuação seja uma obra-prima, nem um drama de guerra. No entanto, Jon M Chu adota um tom mais sério a partir do segundo arco. Diferente do anterior, temos uma obra divertida. E não mais do que isso. Por muitos momentos, o diretor e os roteiristas contam com a suspensão de descrença do espectador, que tem de estar muito alta para relevar tantos furos.
A introdução do filme mostra um resgate genérico na Coreia do Norte para apresentar a personalidade dos personagens. Isso porque, fora Duke (Tatum) e Snake Eyes (Park), todos os outros Joes são inéditos na franquia. Então, Roadblock (Johnson) é a força bruta da equipe, Duke o estrategista, Flint (Cotrona) é o ousado e Lady Jaye (Palicki) é… bem, é a eye candy do filme. Sem exageros, o roteiro não dá nenhuma característica especial para personagem, além de ser uma mulher numa tropa de elite. Por causa dos eventos do filme anterior, onde o Presidente dos EUA (Pryce) é na verdade o Cobra Zartan (Vosloo), os Joes são traídos e emboscados, sobrando apenas um pequeno número para resgatar a honra da tropa e salvar o mundo.
Deixando de lado o anterior, Chu aposta num design mais próximo do clássico da série de bonecos ao visual futurista, o que fará os mais saudosistas vibrarem. Até a apresentação dos personagens, explicando o que são os GI Joes, lembram aquelas fichas de características que vinham no verso da embalagens das figuras de ação. Então esqueçam Snake Eyes com um máscara que mimetiza até os lábios. A máscara do Comandante Cobra (Bracey, no corpo / Baker, na voz) é um capacete com a frente espelhada ao invés daquela máscara de crânio estilizado.
A história do filme em si é divertida, e não há o que reclamar do tema central. É justo que uma equipe unida como os Joes tentem acertar as coisas entre eles e busquem vingança do ocorrido. Mas não é possível esquecer os vários deslizes da produção. Existem alguns momentos interessantes, como logo depois da introdução ouvirmos barulhos de tiros e explosões e as vozes de Duke e Roadblock ao fundo de uma tela preta. Eles parecem perdidos, sozinhos e acuados. E o diretor faz uma ótima brincadeira com isso, subvertendo o tema que parecia sério para mostrar que os dois estavam apenas no video game com algum jogo no estilo Call of Duty. A relação entre os dois aliás é bem construída, apesar de ser curta, e é compreensível que existam momentos mais despojados quando os dois estão em cena. E o diretor acerta a mão quando deixa o tom ameno de lado quando os Joes são atacados e tem dezenas de baixas, sobrando apenas quatro operativos.
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É uma pena que todos os momentos a partir desse ataque tenham algum tipo de furo no roteiro. Existe uma conveniência muito grande para que as coisas caminhem e algumas nem são explicadas. O ataque autorizado pelo (falso) Presidente vem logo depois de outra feita partida do gabinete dele, dando aval à ação da tropa de elite ̶ que deveria ser secreta, mas que sequer usa capacetes para proteger a cabeça num ambiente lotado de inimigos ̶ e ele não é questionado por ninguém. Na coletiva de imprensa, o Presidente usa pausas dramáticas constantes, que nunca funcionariam no mundo real. E sem explicação, Chu usa a transmissão da CNN como sua própria câmera. Notem em outros filmes é comum se aproximar do rosto de um personagem, para dar ênfase no momento ou fazendo que ele cresça em importância na trama. Mas nunca uma transmissão jornalística faria isso. Podem criticar, mas é uma falta de cuidado, porque ao usar as legendas de uma rede de canal, muito mais uma existente na vida real, e transformá-la na janela do cinema mostra que o diretor não entende da linguagem.
Sem mencionar que é demais ouvirmos do Presidente que a organização “Cobra” acabou com os Joes, sendo que o país tem na prisão o Comandante Cobra. É demais para qualquer um aceitar. Ainda que isso não fosse de conhecimento público, o que é impossível considerando que em “A Origem de Cobra” o grupo destruiu a Torre Eiffel, o alto escalão militar sabia. A desculpa é dada por um assessor do Presidente, que diz apenas que o Chefe em Comando está “agindo estranho”. De novo, o roteiro faz concessões gigantes para funcionar. Vejam a acusação que cai sobre Snake Eyes. O personagem é preso por algum motivo com toda a sua armadura preta para ser colocado numa prisão especial onde o Comandante e Destro estão presos, e só lá os aparatos são retirados para mostrar que na verdade quem está usando a roupa do ninja silencioso é Storm Shadow (Byung-hun). E o diretor da prisão avisa que não foi o Joe que cometeu o ato de suposta traição ao Presidente, à imprensa, ou para a mãe dele que seja? Não, claro que não. Muito conveniente.
E quem dera fosse só isso. Outros momentos não passam despercebidos. Para manter uma censura mais baixa, e consequentemente aumentar a renda, o diretor opta por tirar todo o sangue do filme. Até mesmo nas cenas em que Storm Shadow dilacera toda a equipe médica da prisão, a lâmina das suas espadas continuam incólumes. E o que dizer dos momentos galhofas? Quando o Blind Master (RZA) aparece treinando Snake Eyes para capturar o ninja dos Cobra, ele literalmente introduz em voz alta Jynx (Yung) dizendo “Jynx, a prima de Storm Shadow”, num momento em que boa parte da sala deu risada. E merecido. Por que não manter o estilo de apresentação do início, com as fichas de características? Seria infinitamente melhor. Roadblock é um personagem que tem sérios problemas de memória. Durante a fuga para os EUA, ele comenta que ó único em que pode confiar é Snake Eyes. O problema é que ele usa a mesma frase mais à frente da projeção se referindo ao General Joseph Colton (Willis). Bem da verdade, se a crítica se estender por todos os furos do roteiro ela ficará demasiadamente longa.
“GI Joe: Retaliação” é um filme que traz sentimentos misturados. Apesar de ser divertidíssimo e com ação, não é possível virar os olhos para seus defeitos. O plano de dominação global pelo Comandante Cobra e a missão de limpar o nome é clássica, e vale para a proposta do filme. Outros elementos também são bons. Os efeitos especiais são muito bem feitos e permitem, por exemplo, que o Comandante Cobra seja filmado de frente com sua máscara clássica sem que a equipe de filmagem seja refletida. E existe um bom motivo para manter o Presidente verdadeiro vivo, ao invés daquela velha máxima de que seria melhor assassinar logo a figura para evitar problemas futuros. Por outro lado, além dos problemas com a história, é notória a falta de cuidado com detalhes técnicos do filme. Excesso de slow motions, um dos piores 3D convertidos, – daqueles cheios de rack focus e que pela primeira vez me deram dores de cabeça, no que eu sugiro que economizem escolhendo a versão 2D – existem erros de montagem grotescos, com ninjas num momento com espadas sacadas e no seguinte não, e personagens que aparecem num hora acordados, e em outros desmaiados. Além de ser muito decepcionante o fato de não acontecer uma luta decente entre Snake Eyes e Storm Shadow. Para um filme que tem a alcunha de ação, esse foi um erro grave. Apenas um entre muitos. No fim das contas, a continuação é um pouco melhor do que o primeiro, apesar de isso não dizer muita coisa.
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