É Fada! | Crítica | Brasil, 2016
Do Youtube para o Cinema, É Fada mostra talento de Kéfera como atriz. E só.
Elenco: Kéfera Buchmann, Klara Castanho, Mariana Santos, Carla Daniel, Clara Tiezzi, Christian Monassa, Bruna Griphão, Junior Vieira | Roteiro: Fernando Ceylão, Bárbara Duvivier, Sylvio Gonçalves | Inspirado em: Uma fada veio me visitar (Thalita Rebouças) | Direção: Cris D’Amato (S.O.S.: Mulheres ao Mar)
Uma abordagem bem comum é a exploração de nichos, e o de Youtubers indo ao cinema é apenas mais um deles. Ainda é cedo para dizer, mas se É Fada é o exemplo de material cinematográfico que os produtores têm na manga, serão muitas experiências frustradas. Fazendo um apelo para os fãs de uma estrela que tem nove milhões de inscritos – e com vídeos que conseguem até três milhões de visualizações – faltou cuidado com todos os quesitos, passando pelo roteiro, direção, fotografia e outros quesitos técnicos. É um dos piores tipos de caça-níqueis. Mas não é culpa da dupla principal, o destaque do filme.
É bem improvável que as pessoas na fase dos 30 anos ou mais, até mesmo a dos 20, vá ao filme de vontade própria. A audiência prevista são os jovens fãs – os kelovers –, entrando ou saindo da adolescência, que esperam ver a autenticidade da youtuber no cinema. A estreia provavelmente encherá as salas de cinema e criará um vórtice monstruoso na semana seguinte depois que os interessados assistirem. Quem tem um pouco mais de senso crítico, vai sair cansado da experiência. Só valerá a pena pois, despido de preconceitos, Kéfera está bem no filme, assim como a jovem companheira de produção, Klara Castanho.
O problema é tudo em volta. O roteiro mostra Geraldine (Buchmann) como a pior das fadas, punida por seus erros a perder as asas e tendo que recuperá-las ao ajudar Julia (Castanho), o que poderia criar situações engraçadas. Mas o riso mesmo só vem das caras e bocas que as duas fazem. Na tentativa de alongar a produção para ser um longa metragem, o trio de escritores repete piadas – as três opções, Geraldine cutucando a varinha com o nariz – sem freio. Já dá pra entender na primeira vez, e essas repetições só fazem arrastar o filme, que parece ir muito além dos seus 80 minutos.
A produção tem problemas que passam o roteiro raso. Há um exagero nas aéreas para reforçar que a história se passa no Rio de Janeiro, que poderiam significar os voos de Geraldine, não fosse o fato que ela não tem asas e os efeitos especiais tão malfeitos que mereciam uma abordagem diferente para não parecer tão amadores. Passando para a estruturação da história, o filme quer nos passar algumas mentiras deslavadas, como acreditar que em um colégio de elite o filho de um funcionário seria aceito como aluno, a hesitação de Julia em pedir dinheiro para a mãe, mesmo sendo rica, ou a estudante acreditar, sem motivo nenhum, na conversa da colega de classe no terceiro ato.
E para um filme de comédia, falou explorá-la mais. Poderia ser os infortúnios de Geraldine ser invisível ou as dificuldades práticas dela ser uma fada sem asas. Ao invés disso, a produção prefere usar uma vez atrás da outra brincadeira com a varinha mágica. E se formos para pra pensar, as piadas não escapam muito disso. Por outro lado, há um ponto de drama na família de Julia, pois a mãe a deixou para poder se especializar no exterior, dando apenas o conforto financeiro – o que é bem questionável, considerando onde a jovem e o pai moram – e uma crítica social quando um dos personagens é escorraçado pela Polícia Militar carioca por estar sem documentos.
O pior mesmo fica pela solução dos problemas pela mágica. Não há um desenvolvimento de Julia, nem mesmo no final, pois até na apresentação da garota no projeto de dança tem um empurrão de Geraldine. Em qualquer boa história de fantasia, a mágica é um meio, não uma solução – Frozen, O Senhor dos Anéis, A História Sem Fim e A Viagem de Chihiro –, o que faz com que esse exemplo do cinema nacional ser preguiçoso. Sem mencionar como a fada usa seus poderes para resolver uma situação na escola da protegida. Além de algumas decisões de cunho éticos bem questionáveis, questionando o tipo de mensagem que o filme passa para seu público-alvo.
É uma pena que a estreia de uma das pessoas mais populares da internet tenha sido num filme tão fraco e tão mal desenvolvido. É Fada mostra o potencial de Kéfera Buchmann como atriz, mas nada além disso. De certa maneira, é um aprendizado. Para o que os escreve, assistir a uma produção dessas, como adulto, serviu para pedir desculpas aos meus pais por cada vez que os levei para assistir produções similares enquanto crescia. Para a jovem youtuber, uma experiência de como mídias diferentes funcionam de modos diferentes. E fica uma esperança de vê-la crescendo como atriz.
É Fada! | Trailer
É Fada! | Pôster
É Fada! | Imagens
É Fada! | Sinopse
“Geraldine é uma fada que perdeu suas asas por utilizar métodos pouco convencionais em suas missões. Sua última chance para recupera-las será a missão Julia. Julia foi criada somente pelo pai, com muito amor e poucos recursos. Depois de anos, a mãe retorna e passa a questionar a educação de Julia. Eis que surge Geraldine para ajudá-la a vencer os preconceitos e estabelecer novas amizades. Mas Geraldine continua atrapalhada e Julia logo descobrirá que nem todas as fadas são iguais“.
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