Detroit em Rebelião | Crítica | Detroit, 2017
Detroit em Rebelião revisita um retrato para entendermos que algumas coisas erradas no mundo não são novidades.
O estudo da condição humana já é alvo de Kathryn Bigelow há algum tempo e Detroit em Rebelião é mais um exemplo disso. A diretora usa da atualidade de eventos recentes como os de Charlotsville e Ferguson para fazer uma ligação com os movimentos de direitos civis que vem desde os anos 1960 para apontar que a história de opressão aos negros nos EUA não é nenhuma novidade. É fácil apontar que esse seja um tema comum e até óbvio, mas os casos citados mostram que mesmo a obviedade não é suficiente para que eles sejam menos propícios a acontecer. E usar o cinema como meio para esse discurso serve para entregar a mensagem de maneira mais fácil.
Podemos seguir de duas premissas: a de revisitar os protestos que ocorreram em 1967 na cidade de Detroit (Michigan) ou visitá-los pela primeira vez. Para quem já é familiarizado com os eventos, é um relato que pode confrontar crenças ou reafirmá-las. Já quem conhece a história apenas pelo filme de Bigelow ganha das mãos da diretora uma abordagem dura e até chocante, principalmente pela capacidade da cineasta em nos manter em tensão por muito tempo. Durante os mais de 120 minutos de projeção há uma sensação de brutalidade que não se pode escapar, com ameaças por todos os lados, enquanto estamos no Motel Algiers.
Antes, porém, Bigelow e Boal fazem questão de nos apresentar por alguns momentos o clima daquele lugar. Um barril de pólvora que explodiu e onde os moradores estavam tão descontentes – e essa palavra nem serve para começar a descrever o sentimento – que aceitaram até mesmo destruir o bairro que moravam e não permitir que fosse salvo. Apesar de isso parecer, à princípio, uma condenação da cineasta aos protestantes, é preciso lembrar o conceito de gueto: ali era um lugar que a população negra dos EUA foi mais impelida a ficar do que por escolha própria. Quase como se ali não fosse o lar deles.
Se há uma crítica severa é à Força estabelecida, seja ela do âmbito estadual ou federal. Claramente despreparados, os soldados da Guarda Civil atiram a qualquer sinal de perigo – a palavra que mais ouvimos sair da boca deles é sniper, só que nunca há um –, na máxima de atirar antes e fazer perguntas depois. E misturando imagens da época com câmera na mão, Bigelow consegue nos fazer participes daquela tragédia, correndo com os personagens ou sendo testemunhas oculares das barbáries que passam por assédio sexual até assassinato puro e simples, onde sobrevivência e poder entram em confronto, algo que em síntese acontece no Algiers.
Ali, Bigelow cria um microcosmos de todo aquele cenário, baseado em declarações dos sobreviventes. Pode ser que nem tudo tenha acontecido da maneira que foi mostrada na tela, mas o que vale são os símbolos da ação. É muito marcante quando a Polícia de Detroit detém no motel suspeitos de terem atirado contra a Guarda Civil e o Exército e cada força vai tirando o corpo fora. Um comandante diz que não quer se envolver no assunto da polícia; o oficial do exército faz um discurso parecido, representando então a postura da administração Ford. Pouco a pouco todos vão indo embora – e depois de três jovens assassinados, a culpa não é de ninguém.
Há, no entanto, um grande problema na narrativa do filme. Estruturalmente, é fato que a história deveria terminar na conclusão dos eventos do motel. Ao estender a história para fechar o ciclo de cada um dos vários núcleos na história – o segurança, as prostituas, os musicistas e a própria polícia -, Bigelow apenas reafirma o que ela já havia demonstrado, uma situação onde o status quo é praticamente impossível de se quebrar, por mais evidências que tenhamos. Depois de sofrermos tanto com os personagens presos apenas por serem o que são – negros ou aqueles que se envolvem com eles – não havia mais a necessidade de reafirmar que o sistema é sujo.
Porém, esse é um pequeno tropeço que não tira a importância de Detroit em Rebelião. É verdade que paira nas nossas cabeças se uma cineasta branca deveria contar um evento tão marcante para os negros – apesar de John Boyega ter dito que a diretora teve uma abordagem respeitosa do assunto – mas pelo menos ela foi trazida, de alguma maneira, para a nossa época. Época essa que ainda temos casos como os mencionados no primeiro parágrafo, onde ainda existem abusos, racismo e como as situações de hoje são um terrível reflexo de situações que não tem apenas 50 anos. O que a diretora mostra é como esses problemas estão enraizados a ponto de acontecerem de novo e mais uma vez.
Elenco
John Boyega
Will Poulter
Algee Smith
Jason Mitchell
John Krasinski
Anthony Mackie
Direção
Direção: Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura)
Roteiro
Mark Boal
Fotografia
Barry Ackroyd
Trilha Sonora
James Newton Howard
Montagem
William Goldenberg
Harry Yoon
País
Estados Unidos
Distribuição
Annapurna Pictures
Duração
143 minutos
O filme reencena um fato marcante nas revoltas populares na cidade de Detroit em 1967, onde três jovens negros foram mortos e nenhum culpado foi apontado.
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