Desculpe o Transtorno | Crítica | Brasil, 2016
Desculpe o Transtorno é agradável e consegue tirar risadas, ainda que trabalhe com estereótipos e clichês.
Elenco: Gregorio Duvivier, Clarice Falcão, Dani Calabresa, Marcos Caruso, Rafael Infante, Daniel Duncan, Zezé Polessa | Argumento: Pedro Carvalhaes | Roteiro: Tatiana Maciel, Célio Porto | Direção: Tomas Portella (Operações Especiais)
Antes de assistir Desculpe o Transtorno paira a dúvida para qual lado o filme pende mais. Depois de entender que é uma comédia romântica, não é de se espantar que ele siga mais para o lado do romance. Porém, não é um demasiadamente açucarado e há muitos momentos engraçados. E apesar de ter um desfecho previsível, o caminho que Tatiana Maciel e Célio Porto tomam tem percalços pouco comuns na narrativa da comédia nacional – inclusive com a liberdade de alguns palavrões –, não traz nada de novo, reforça alguns estereótipos da rixa São Paulo e Rio de Janeiro, mas é suficientemente leve para agradar quem já não aguenta mais piadas com gente gritando.
A partir do drama da separação dos pais, Eduardo (Duvivier), morando em São Paulo, é pragmático e um tanto duro no seu figurino sério, com tempo regrado e vivendo num apartamento tomado de cores escuras. O cenário e o figurino dele contam uma história que é confrontada quando ele encarna seu passado. Duca, a outra personalidade, é mais relaxado, não quer saber de seus compromissos, vive mais do lado de fora, usa bermuda, gosta de andar de bicicleta e apreciar o pôr-do-sol – a questão do figurino, em especial, tem uma brincadeira na gravata de Eduardo no último ato do filme, mostrando a dualidade do protagonista. Em suma, Portella e Carvalhaes resumem que paulistano só pensa em trabalhar e o carioca é apenas moleza.
É uma piada, mas elas têm pesos iguais, ofendendo ambos moradores das metrópoles. Enquanto a abordagem do protagonista funciona, ele um poço de contradições, o paralelo com as mulheres escorrega. Viviane (Calabresa) encarna a insuportável e megera dominadora noiva de Eduardo, uma personagem que já detestamos com vinte segundos de projeção com seu jeito de falar e que não se tira uma característica positiva. Já Bárbara (Falcão) é tão fofa que até no seu trabalho, aparentemente monótono, ela é uma coelha rosa gigante que distribuiu abraços e, ao contrário de Viviane, não há um motivo para desaboná-la. Até nos seus momentos de fragilidade, o que mais queremos fazer é dar uma abraço na moça – algo que vem também do carisma de Clarice Falcão em tela. Mas é uma competição injusta.
Dentro da narrativa o diretor abre espaço para um pouco de drama. Ao voltar ao Rio depois de anos, por causa do falecimento da mãe, Eduardo visita a casa onde passou a vida de criança e podemos notar como ali o tempo parou. O lugar que antes era de uma família completa é iluminada com tons amarelos, num misto de aconchego, mas esquecido como uma folha amarelada pelo tempo, onde vemos um aparelho de VHS, uma máquina de fax, e um videogame encostado na estante. Essa mãe, depois da partida do filho, não conseguiu seguir em frente, e isso resulta numa cena de partir o coração.
O filme, no entanto, não vai mais do que o necessário nisso e não demoram as cenas mais pra cima, como Bárbara espancando Eduardo/Duca por tentar roubar sua bicicleta, piadas com a diferença que as personalidades do protagonista pronunciam “merda” e regionais como as multas em Santo André – que só vai fazer sentido para quem passa por ali –, brincadeiras com o gênero stand-up, e os amigos babacas que podem não dar os melhores conselhos, mas que querem o bem do personagem. De novo, não é novidade e nem desafiador, mas são momentos que funcionam ao menos para aquele sorriso de canto, não forçado, conquistado não apelando para o grotesco ou o preconceituoso.
Desculpe o Transtorno é um daqueles filmes que pode ser definido como simpático. Seus produtores poderiam ser criticados por abordar na comédia o Transtorno de Personalidade, mas quando se faz piada com um assunto sério, pode ser mais fácil encará-lo. Existem problemas pontuais como sempre termos que ver e ouvir a transformação de Eduardo em Duca cada vez que ele é confrontado na hora de tomar decisões – uma vez já é suficiente para entender – parecendo uma montagem ultra-explicativa para a televisão. Por outro lado, mesmo caminhando mais para o romance, foge do clichê de perder a namorada por um motivo idiota, tão comum das outras obras do gênero, o que já é uma vantagem se alguém achar necessário algum tipo de comparação.
Desculpe o Transtorno | Trailer
Desculpe o Transtorno | Pôster
Desculpe o Transtorno | Imagens
Desculpe o Transtorno | Sinopse
“’Desculpe o Transtorno’ é uma comédia romântica que conta a história de Eduardo (Gregorio Duvivier) e seu maior inimigo: ele mesmo. A vida de Eduardo é organizada e previsível, seguindo planos que se resumem a virar sócio da empresa do pai e casar com a controladora namorada Viviane (Dani Calabresa). Mas uma notícia inesperada transforma sua rotina no mais absoluto caos. Abalado com as lembranças, ele sofre um choque psicológico e se transforma em Duca, seu ‘outro eu’, mais descontraído e bastante inconsequente. Diagnosticado com dupla personalidade, Eduardo terá que se desdobrar para encontrar sua verdadeira identidade e para isso, contará com a ajuda dos amigos (Rafael Infante e Daniel Duncan) e da extrovertida Bárbara (Clarice Falcão), por quem Duca se apaixona.”
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