Depois Daquela Montanha | Crítica | The Mountain Between Us, 2017
Depois Daquela Montanha é água (gelada) com açúcar, um entretenimento romântico, piegas e cheio de estereótipos.
Entendo o apelo que Depois Daquela Montanha tem para os mais românticos; mas, mesmo no gênero, a produção de Abu-Assad é um exemplar menor. Não é apenas o clichê de pessoas que encontram o amor na adversidade, é o da posição da personagem feminina ante à masculina, o modo de ceder ao desejo como obrigação e não saber quando terminar a história. Carregado nas costas pela atuação da dupla de protagonistas, e também com uma beleza gélida (assim como a fotografia), o filme começa bem, peca na duração exagerada e vai caindo de qualidade, como uma avalanche nos soterrando de pieguices.
Consideremos o início do filme como um prólogo, onde conhecemos os caminhos e motivações de Alex (Winslet) e Ben (Elba). É mais fácil acompanhar a desventura dos personagens que saem de um ambiente cheio e barulhento para cair, literalmente, numa imensidão silenciosa e onde o diretor acertadamente usa pouca trilha sonora para aumentar a sensação de desespero e medo daquelas duas pessoas de mundos tão diferentes. Alex, senda jornalista, é curiosa e até um pouco intrometida – e mesmo sendo improvável que alguém ofereça a ajuda que ofereceu à um estranho, o roteiro justifica essa opção ao colocar a personagem nos pés de alguém que viu o desespero de perto.
Já Ben é mais prático e reservado e nesse quesito faz mais sentido o nome original da obra (A Montanha Entre Nós): ele se isolou por motivos que ainda descobriremos, um tanto óbvios, mas que também funcionam na narrativa. Essa construção inicial dos personagens, cada um no seu universo, é a parte mais crível do filme. Além disso, a demora para responder às perguntas da jornalista são um misto de medo e insegurança, aumentando o tempo num momento em que isso é necessário para mostrar ao espectador a importância do elemento para os dois acidentados.
E aí, porém, que residem as boas partes do roteiro. Depois é um conjunto de obviedades e alguns pensamentos rasteiros no desenvolvimento dos personagens. A dualidade deles se divide entre pensamento lógico e instinto, quase como a relação entre Sherlock Holmes e John Watson. Só que esses papéis caem para o homem e para a mulher, respectivamente. Porque é óbvio na mente do roteirista (e para o escritor da obra original) que é papel do homem ser o prático e a mulher a sentimental. Essa visão é confirmada quando Ben tenta inutilmente chamar a atenção de um avião comercial com um sinalizador e Alex berra desesperadamente para cima.
No entanto, o roteiro não dá o mesmo desespero para Ben quando uma cena parecida acontece quando ele está separado de Alex, onde ele apenas balança os braços, mas sem usar a voz. O que deixa a parte mais interessante do roteiro em saber como o cachorro está e nos desafios a serem conquistados – e, convenhamos, todos são superados com relativa facilidade; e os que não são caem todos nas costas de Alex. Podem anotar e perceber que até mesmo o último deles não teria acontecido se a personagem não insistisse que Ben saísse ao resgate do cachorro sem nome.
Pelo menos no quesito técnico, a produção satisfaz. Há logo no começo um plano longo mostrando detalhes do ambiente que Alex e Ben estavam prestes a cair, diálogos que justificam a impossibilidade dos dois serem encontrados facilmente e a questão da falta da comida. Além disso, a fotografia de Mandy Walker nos envolve com sua luz fria naquele ambiente pouco habitado e passando a sensação de frio pelos contrastes do azul limpo do céu com o branco da neve, ou fechando mais a visão dos personagens – junto da nossa por consequência –, nos piores momentos da história. Aponto também como o diretor mantém a dupla numa posição desconfortável dentro do que sobrou do avião, colocando-os tortos, mas sem que isso seja do posicionamento da câmera.
Mas há os grandes problemas, como a cena sexo – nada prática, considerando que os dois estavam se alimentando mal há pelo menos três semanas. Parece uma obrigação dos filmes românticos: se os personagens não extravasarem suas tensões sexualmente, não parece um romance. São momentos como esse, além dos flashbacks de cenas que passaram alguns minutos antes, que servem apenas para arrastar mais a narrativa; algo sentido fortemente na interminável conclusão. Aqui faltou cuidado na sala de montagem: depois de tanto o Tempo ser usado narrativamente, a parte final merecia dinamismo para sermos recompensados depois de tanta lentidão.
Por causa de um certo filme sessentista citado no começo da história, não podemos dizer que o diretor tentou nos enganar. Mesmo sabendo que originalidade não exista mais, por mais óbvio que afirmar isso seja, falta um espírito para a produção, algo que de que alguma maneira pudesse destaca-lo de outras obras – ou equipará-las, que seja. Aceitaria até mesmo uma obra mediana, mas nem mesmo isso Depois daquela Montanha consegue ser. A produção cai tanto no lugar comum que é impossível defendê-la além dos quesitos técnicos e da atuação. E se não fosse isso, seria um filme fadado ao esquecimento; pelo menos mais do que já é.
Elenco
Idris Elba
Kate Winslet
Direção
Hany Abu-Assad
Roteiro
Chris Weitz
J. Mills Goodloe
Baseado em
The Mountain Between Us (Charles Martin)
Fotografia
Mandy Walker
Trilha Sonora
Ramin Djawadi
Montagem
Lee Percy
País
Estados Unidos
Distribuição
20th Century Fox
Duração
112 minutos
Alex e Bem alugam um avião particular para chegarem nos seus compromissos inadiáveis em tempo. Mas uma série de eventos causam um acidente e os dois caem numa região montanhosa e gélida. Agora, os dois precisam encontrar uma maneira de se ajudarem e sobreviver até que o resgate chegue.
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