Cavalo de Guerra | Crítica | War Horse, 2011, EUA
Cavalo de Guerra é mais um filme onde Spielberg fala mais uma vez do espírito humano, mas cai para o piegas com seus personagens sem tons de cinza.
Com Jeremy Irvine, Emily Watson, Peter Mullan, David Thewlis, Benedict Cumberbatch, Tom Hiddleston, Eddie Marsan, Toby Kebbell e Niels Arestrup. Roteiro de Richard Curtis (Um Lugar Chamado Notting Hill) e Lee Hall (Orgulho e Preconceito), baseado no romance de Michael Morpurgo. Dirigido por Steven Spielberg (A Lista de Schindler).
Tenho que admitir: Cavalo de Guerra não me chama a atenção pelo seu título. Mas foi para Spielberg o suficiente para que o colocasse em tela. Sem eu ter conhecimento nenhum do livro que o inspirou, essa história discute laços entre irmãos, não necessariamente de sangue, e o cavalo Joey é a linha comum que os une. Apesar do conto emocionante e muito humano, típico nos trabalhos do diretor, o filme peca por ser um tanto piegas e por ter personagens de caráter exagerados.
O filme começa num cenário com planos abertos, e que serão constantes na projeção, dizendo que cada um cuida da sua própria vida. Numa Inglaterra à beira de entrar na I Guerra mundial, Albert (Irvine) testemunha o nascimento de Joey, o cavalo, e cria a primeira relação fraternal do filme. É discutível essa admiração, mas um rapaz acostumado ao campo gosta das coisas do campo. Essa admiração que Albert tem convence seu pai Ted (Mullan) a comprar aquele cavalo. Numa cena que tenta nos convencer mais pelo sentimentalismo à verossimilidade , Joey se torna propriedade dos Narracot. A cena seguinte ao leilão mostra a competência de Spielberg nas câmeras, diminuindo a importância de Ted e Joey em frente à um outro cavalo e seu dono, ambos maiores e mais fortes. A mulher de Ted, Rose (Emily) também tem essa opinião. E sim, o ganso da família também, numa tentativa de criar um personagem cômico do drama que irá atingir proporções maiores mais pra frente. A música de John Williams continua “sendo”. Nunca será dito que ele não sabe o que faz, como na cena em que Rose desaprova a compra de Joey: uma trilha engraçada, mas forçada, de um compositor que se repete à algum tempo. Mas quem contrata os seus serviços, sabe disso.
O filme usa de antagonistas bem exagerados. Lyons (Thewlis), o dono da fazenda onde os Narracot vivem, e seus capangas são homens bem vestidos, de grandes e aparados bigodes, sempre com uma piada ou uma provocação nos lábios, sempre mostrados de baixo para cima enquanto fazem suas ameaças e escarneios. Mas Albert e Joey sempre vão mostrar o quanto errado eles estão. As próximas cenas do trabalho na lavoura da fazenda transforma o desespero em esperança, com o cavalo sendo iluminado por fachos de luz e com uma pequena ajuda do céu, em forma de chuva. Uma benção que antecede a nova tempestade, que é a Guerra.
Como disse no começo, apesar da história ter o nome “Cavalo”, Joey serve mais de ligação entre os personagens do que ser um personagem em si. Vejam seus donos durante a projeção: um capitão cheio de sorrisos e seu comandante, numa eterna disputa que envolve um outro cavalo; dois irmãos alemães que querem proteger um ao outro, mas que são desertores; um bonachão tratador de cavalos; uma frágil garotinha e seu avô, dois solados nas trincheiras… todos eles acabam encontrando em Joey um motivo para passar com mais esperança pela guerra. Mas é como diz mais de um personagem na projeção: “a guerra tira um pouco de todos nós”.
Em mudança aos planos iniciais, a partir dos 3/4 do filme, os planos ficam mais fechados, mostrando a realidade das trincheiras e das ruas lotadas de feridos. O preço da Guerra é cobrado, mas o bom Spielberg tentar nos emocionar sempre, com aquela ponta de esperança.
“Cavalo de Guerra” é um filme feito para emocionar, mas essa tentativa é tão exagerada, que chega a ser piegas. O maniqueísmo dos personagens também irrita: os bons são muito bons, e os maus, principalmente os alemães, extremamente maus. Não posso dizer que a história me tocou ao ponto que Spielberg queria. E o filme me pareceu longo demais, mesmo para os padrões do diretor, e com aquela cansativa opção de fazer cortes que parecem dizer que filme vai terminar, mas que te apresenta por mais 5 ou 6 cenas. No entanto, é um filme cheio de outras qualidades. O figurino de época, retratando uma espetacular trabalho de figurino e de cenários, os efeitos especiais de Joey correndo nas trincheiras e seu o animatronic, perto do fim. Mas o ponto alto são cenas poéticas das mortes. Prestem atenção na carga da cavalaria inglesa enfrentando metralhadoras alemãs (pelo menos não esqueceram que alemães são bons de briga), e como as pás de um moinho escondem uma cena em especial.
E com uma homenagem ao western e com paletas de cor parecidíssimas com “E o vento levou”, o filme acaba com a sensação de que Spielberg tem que manter o foco, trabalhando com só um filme por vez.
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