As Bem-Armadas | Crítica | The Heat, 2013, EUA

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Apesar do roteiro previsível, As Bem-Armadas faz a plateia rir e apresentação de personagens femininas fortes que não servem de escada para homens nem desaparecem da narrativa sem motivo.

As Bem-Armadas

Com Sandra Bullock, Melissa McCarthy, Demián Bichir, Marlon Wayans, Michael Rapaport, Jane Curtin, Dan Bakkedahl, Taran Killam, Michael McDonald e Tom Wilson. Roteirizado por Katie Dippold. Dirigido por Paul Feig (Missão Madrinha de Casamento).

7,5 - "tem um Tigre no cinema"Por trás do roteiro previsível de As Bem Armadas existem dois fatores que devem ser levados em conta. O primeiro e principal é a capacidade da dupla de protagonistas, e do roteiro, se saírem bem na comédia. Não menos importante, é a apresentação de personagens fortes, e justificadamente exageradas, se imporem num mundo dominado por homens, tanto na realidade como na ficção. Apesar de não ser um marco da comédia, as disfuncionais e diferentes agentes da lei são carismáticas e engraçadas. Dentro de seu universo conseguem o mais importante, que é fazer a plateia rir.

A agente do FBI Sarah Ashburn (Bullock) é uma experiente e dedicada agente de campo, mas não é admirada por seus colegas homens. Vista como arrogante e esnobe, ela vive para o trabalho e tem de longe mais qualidade que a maioria dos seus colegas de trabalho. Procurando meios para uma promoção, ela é enviada pelo chefe até o subúrbio de Boston para investigar um cartel de drogas. Mas é o bairro onde mora Shannon Mullins (McCarthy), uma dedicada e nada convencional policial, mas com um elevado senso de justiça. Disposta a não permitir que o caso fique nas mãos do FBI por se tratar da sua vizinhança, Mullins não deixa Ashburn em paz, enquanto a agente tem que mostrar que pode trabalhar em equipe para se mostrar mais digna da promoção.

O que temos é uma revisitação ao estilo buddy cop: dois personagens com personalidades diferentes, mas com alguma coisa que os liga. Ao usar duas mulheres, Feig e Dippold abrem um leque de possibilidades, mas partem do básico sem medo. Ashburn e Mullins são diferenciadas quase nos extremos de agir, falar e de se vestir. Ambas fazem isso para se imporem num mundo tradicionalmente masculino. Na cena inicial, a agente do FBI não consegue segurar seus homens numa invasão, mas dá o troco quando nenhum deles tem a capacidade de achar drogas ou armas, e ela o faz com ligeira tranquilidade. Mullins, menos sensata, é mais durona e inconsequente. Sem medo de entregar um homem que estava contratando os serviços de uma prostituta à esposa, ela ainda arranja tempo para dar uma dura no traficante local, perseguindo-o com o carro pelas ruas do bairro. Os exageros de personalidades das duas tem um motivo, pois o preconceito que enfrentam justificam as ações. No caso do Mullins é mais engraçado. Já que ela é obesa – fato que foi por algum motivo idiota reduzido no pôster do filme – ela se porta de um jeito mais masculino, ao ponto de ser confundida com um homem mais de uma vez por Ashburn. E são os momentos mais engraçados da história.

O que liga as personagens é o senso de justiça – Mullins inclusive prendeu o próprio irmão Michael (Rapaport), virando persona non grata na família. Incorruptíveis, elas sentem prazer na possibilidade de destruir a base de operações do senhor das drogas local. Ashburn é uma intrusa, e é um bom motivo para Mullins desconfiar dela, pelo menos na sua ligeiramente perturbada cabeça. É muito engraçado ver que a policial desafia sem rodeios seu chefe. Enquanto o Capitão Woods (Wilson) tenta por panos quentes para que o FBI tenha a jurisdição do caso, Mullins não hesita em chamar seu superior de maricas enquanto procura por suas bolas. A graça em Ashburn fica na sua postura, de tanta liderança que nunca deixa ser guiada, e também quando não permite aproximação. Quando ela conhece o agente Levy (Wayans) sentimos que dali pode sair alguma coisa. Mas a agente é tão focada que ela evita contato e eventuais comentários. O choque das duas é inevitável, e por mais lugar comum que seja, continua engraçado. Ver as duas em situações que antes só víamos com Riggs e Murtaugh é satisfatório.

"As Bem-Armadas" poster brasileiro

As Bem Armadas há de encarar também um preconceito fora das telas. Passando pelo caso das personagens serem femininas, e uma delas obesa, não é uma fórmula de sucesso. Foi uma aposta arriscada, e Feig trouxe junto dela duas personagens com muito carisma – ainda que Ashburn pareça uma Gracie Hart mais experiente. É uma história sem sobras, e a montagem ajuda muito, dando um bom ritmo. Em vários momentos a música incomoda, aparecendo alta demais e em momentos errados, tirando a atenção necessária da cena. Porém, a subversão desenvolvida traz uma boa comédia e que tem potencial. Que as bem armadas achem seu espaço nesse nicho tão bem representado e saturado. Precisamos de renovação.

Veja abaixo o trailer legendado de As Bem-Armadas (The Heat).

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".