As Aventuras de Pi | Crítica | Life of Pi, 2012, EUA
As Aventuras de Pi narra as experiências de um personagem que acreditar ter encontrado Deus nas suas provações e deixa para espectador acredite nisso ou não.
Com Suraj Sharma, Irrfan Khan, Tabu, Adil Hussain, Gerard Depardieu e Rafe Spall. Roteirizado por David Magee (Em Busca da Terra do Nunca), baseado no romance de Yann Martel. Dirigido por Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain).
É comum dizer que as experiências com Deus são únicas, e isso pode ser expandido quando se fala de qualquer divindade ou até mesmo do Universo. “As Aventuras de Pi” é uma grande contemplação à como as coisas conspiram a favor ou contra nós, e como reagimos nessas situações. A vida é dotada de pequenos momentos que podem ser considerados milagres, dependendo de como você conta a história. O diretor Ang Lee apresenta um filme que é uma grande alegoria espiritual, apresentando algumas nuances de Deus, as questões de ser humano, e de nossa próprias dúvidas.
Nos primeiros minutos de filme, Lee apresenta na tela uma enormidade de animais que viviam no zoológico que era da família de Pi, e ao fundo uma trilha sonora que foge dos padrões de Hollywood e busca inspirações orientais para dizer que esse será um filme contemplativo. Piscine Molitor “Pi” Patel (Khan) começa a narrar sua história à um escritor (Spall) que está interessado na aventura que, de acordo com o tio de Pi, o fará acreditar em Deus. O filme é quase todo contado por meio flashbacks: um deles pra mostrar primeiro a origem do nome (que não tem a ver com símbolo matemático, e sim com uma piscina). A narração em off mais uma vez faz seu caminho na realidade de muitas produções atuais, apontando um receio de vários diretores tem de não conseguirem passar o que querem dizer sem o recurso de uma voz alheia àquele momento. Nesses momentos, a montagem do filme não ajuda muito, colocando muitas imagens sobrepostas umas as outras, provavelmente porque o diretor queria usar o efeito 3D em todos os momentos.
O filme conta com uma história tocante e que é ajudada pelo visual fantástico. A fotografia de Claudio Miranda (de “O Curioso Caso de Benjamin Button”) nos traz um trabalho quase fantasioso, quente e cálido no primeiro arco do filme. É necessário apontar também os efeitos especiais que fazem os personagens “voar” na água, ou que transformam grandes momentos da natureza em quadros de obras de artes. Falando de novo na fotografia, notem que depois que o mundo fica um pouco menos mágico, com o pai de Pi mostrando a realidade da natureza do tigre Richard Parker, a paleta fica um pouco mais pálida, mas não deixa de ter alguns tons de dourado. É nesse momento que Pi fica mais racional, e o diretor reforça essa imagem com o jovem lendo obras de Dostoiévski e Camus.
Como o personagem-título diz, a fé tem que ser testada. E Pi, na sua mistura de crenças cristãs, muçulmanas e hindus (o que o faz ser alguém multicultural e não ofendendo ninguém), viaja com a família para o Canadá, onde o pai venderá os animais do zoológico. Antes comentei dos tons da fotografia, então percebam que quando Pi está embora da Índia, o pôr-do-sol ganha esses tons, que marca a despedida do jovem da sua terra. As verdadeiras “Aventuras” começam com um naufrágio do navio, onde Lee mais uma vez faz um personagem “voar” na água com um misto de contemplação e tristeza. Na “Arca de Pi” (mais uma referência religiosa), conseguem escapar, junto com o jovem hindu, uma orangotango, uma hiena, uma zebra e o próprio Richard Parker.
“As Aventuras de Pi” é um filme que trata da relação do indivíduo com o divino, e que tenta apresentar as peculiaridades que fazem Deus ser Deus. Na tela, o diretor mostra várias cenas do céu sendo refletido na água, mostrando a presença divina que permeia a tragédia de Pi. Ou ainda, mesmo num local que representa o próprio Mundo, onde o perigo é iminente, o personagem se sujeita e acredita que foi Deus deu lhe deu descanso na peregrinação. A face do divino na natureza também acha lugar numa cena cheia de lirismo envolvendo uma baleia: uma beleza que pode ser perigosa. Pi passa por várias provações, se não bastasse a perda da família. E a grande lição do filme é que muitas vezes colocamos coisas à frente do que é importante, e não percebemos a fragilidade da vida. Acredito que as grandes coincidências e o visual majestoso possam incomodar algumas pessoas, mas este é um filme que tem todos os motivos do mundo para ser fantasioso. E com isso você terá todos os motivos do mundo para se perguntar qual história você prefere.
Sobre o 3D, apesar de impressionar nas cenas fantásticas, onde a grande profundidade de campo aparece, o diretor mistura com o chamado rack focus, o que pode causar dores de cabeça e enjoos para os mais sensíveis. Apesar de Ang Lee não usar a técnica com muita competência, sugiro que a experiência seja em 3D pelo menos para essas cenas que inundam a visão.
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“As Aventuras de Pi” recebeu o Oscar 2013 nas categorias Melhor Diretor (Ang Lee), Melhor Trilha Sonora (Mychael Danna), Melhor Fotografia (Claudio Miranda) e Melhores Efeitos Especiais (Bill Westenhofer, Guillaume Rocheron, Erik-Jan De Boer e Donald R. Elliott).
Foi indicado para Melhor Filme, Melhor roteiro adaptado (David Magee), Melhor Canção Original (“Pi’s Lullaby” por Mychael Danna e Bombay Jayashri), Melhor Edição de Som (Eugene Gearty e Philip Stockton), Melhor Mixagem de Som (Ron Bartlett, D. M. Hemphill, e Drew Kunin), Melhor Direção de Arte (David Gropman e Anna Pinnock) e Melhor Edição (Tim Squyres).
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