Armas na Mesa | Crítica | Miss Sloane, 2016, EUA

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Armas na Mesa é um discurso importante sobre o custo de seguir seus princípios e até onde estamos dispostos a ir por eles.

Armas na Mesa (Miss Sloane) 2016

Elenco: Jessica Chastain, Mark Strong, Gugu Mbatha-Raw, Michael Stuhlbarg, Alison Pill, Jake Lacy, John Lithgow, Sam Waterston | Roteiro: Jonathan Perera | Direção: John Madden | Duração: 132 minutos

Seja lá qual for a sua posição sobre o porte de armas, Armas na Mesa é um filme muito interessante, ainda que advogue para um dos lados. Mais uma posição – e não uma propaganda, considerando que os contrários não tem renda que o outro lado tem – é uma história sobre estratégias, jogo sujo e entra em detalhes sórdidos de ditos bastiões da justiça. Tocando em pontos sensíveis – massacres perpetrados por atiradores, a visão quase sagrada da Constituição dos Estados Unidos, dinheiro – a produção segue um caminho fictício para dar voz a uma crescente opinião pública e irá agradar mais os defensores do desarmamento. Para os que não são, pode servir para abrir discussões sobre o assunto.

O título brasileiro é uma opção mercadológica que não passa o peso do original que leva o nome da protagonista. Elizabeth Sloane (Chastain) não é apenas a peça principal da história; ela carrega nos ombros todos os personagens e as reviravoltas, algo que reflete a atuação monstruosa de Chastain. Ela é uma jogadora atuante do tabuleiro, conseguindo encarnar uma personagem dissimulada e fria enquanto movimenta as peças, usando todos como peões, uma decisão que envereda por caminhos perigosos, narrativamente falando. E como qualquer jogadora experiente, um dos maiores trunfos é nunca deixar transparecer emoções – então Sloane encarna a mais perfeita das enxadristas.

A comparação com um jogo de xadrez é justa, pois Sloane precisa prever todos os movimentos de seus oponentes, até mesmo do Rei que está do seu lado – no caso seu novo chefe, Rodolfo Schmidt (Strong) –, e como a peça no Xadrez tem uma visão limitada por causa de seus movimentos e é a Rainha Sloane que precisa tomar as rédeas. No entanto, ela é a única Rainha do tabuleiro todo e por isso Madden a faz transitar constantemente entre figurinos brancos e pretos, numa atuação gelada – lhe é permitido alguns momentos de fraqueza e desespero, apesar de curtos, para que ela não seja o estereótipo da vaca (bitch) controladora.

Apesar de ser um filme longo – passando ligeiramente das duas horas – acontece tanta coisa entre reuniões, jantares e entrevistas de televisão que a narrativa parece ser bem mais rápida. Um sentimento acentuado pela montagem de Alexander Berner que mostra a história como uma corrida contra tempo e poderes maiores – no caso, o lobby dos pró-armamentistas – é corrida, pesada e cruel, pois Sloane é julgada não apenas por sua conduta como lobista, mas também como mulher, enfrentando um esquadrão de homens do outro lado, com exceção de uma jovem que foi sua pupila, que na mesma situação não seriam detratados com o mesmo peso.

Perera e Madden entram em território pantanoso para expor suas ideias. Eles não se importam em mexer com brios de grande parte da população dos Estados Unidos ao dizer com todas as palavras que a tão defendida Constituição pode não ser perfeita, o que poderia inflamar nessas pessoas um sentimento tão extremo que ele poderia deixar de ser ouvido. E a discussão televisionada entre a protagonista e Pat Connors (Stuhlbarg) é outra crítica, pois os colegas de Sloane, que teoricamente tem um pensamento alinhado ao dela, sentam-se para assistir o debate como se fosse para um show, comendo pipoca e tomando cerveja. É um assunto sério e a impressão que o diretor tem, e que passou para nós, é que o assunto não é tratado com a devida seriedade.

Por essa ficção estar dentro de um cenário real, Madden consegue colocar em prática, pelo menos dentro do universo do filme, várias questões do dia-a-dia. Seria aceitável o uso de tecnologia de espionagem para descobrir se uma figura pública está mentindo sobre um assunto de interesse nacional? Se alguém pró-desarmamento estivesse do outro lado do cano de uma arma e fosse salvo por alguém armado, isso penderia o lado da balança? Essas e outras questões passam pela tela e abrem um leque para discussão, algo que parece ter sido deixado de lado numa época de extremos em que poucos tem se aberto ao diálogo.

Armas na Mesa é um filme sobre estratégia e está longe de ter a tensão de outros thrillers políticos, apesar dele existir a partir do momento de uma ameaça real, pois nos outros momentos a produção está numa batalha tão grande e massiva que assim como Sloane não temos tempo de perceber se há um perigo real do outro lado da rua. É também uma história sobre desafio e coragem, mesmo que em custa da liberdade individual. Ainda estando longe da conclusão proposta, não é difícil imaginar que existam pessoas assim. E pode não ser a sua opinião, mas o filme é uma tentativa de fugir dos extremos, procurando o diálogo e mostrando que entre caminhos deve existir um meio termo, um lugar que todos podemos chegar.

Armas na Mesa | Trailer

Armas na Mesa | Pôster

Armas na Mesa | Pôster nacional

Armas na Mesa | Galeria

Armas na Mesa | Imagens

Créditos: Divulgação

Armas na Mesa | Imagens

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Armas na Mesa | Imagens

Créditos: Divulgação

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Armas na Mesa | Sinopse

Elizabeth Sloane (Chastain) é a lobista mais conhecida em Washignton, EUA, com histórico impecável de vitórias nesse campo. Ao aceitar um novo desafio na carreira, indo contra a posse total e irrestrita de armas de fogo, ela começa a colecionar inimigos poderosos com muito dinheiro e influência na sociedade. Agora ela precisa descobrir se ganhar a qualquer custo vale mesmo a pena.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".