Annabelle 2: A Criação do Mal | Crítica | Annabelle: Creation, 2017, EUA

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Annabelle 2: A Criação do Mal é um filme muito melhor que o anterior, mesmo que use alguns clichês

Elenco: Stephanie Sigman, Talitha Bateman, Lulu Wilson, Samara Lee, Anthony LaPaglia, Miranda Otto | Roteiro: Gary Dauberman | Direção: David F. Sandberg (Quando as Luzes se Apagam) | Duração: 109 minutos | Cena Extra

Antologias de terror são bem comuns na história do cinema e a tentativa de fazer uma nova com o universo Invocação do Mal é compreensível. E Annabelle 2: A Criação do Mal se sai melhor em todos os aspectos da primeira prequela da boneca do mal que conhecemos em 2013 e se mantém no nível de qualidade dos outros filmes dos Warrens. Com um roteiro mais sólido dentro daquele universo e uma direção mais interessante da apresentada no anterior, o filme consegue criar aqueles momentos de tensão que ao mesmo tempo fazem querer olhar e não olhar para a tela, junto de uma reação física de prender a respiração e ficar bem quieto na cadeira enquanto se prepara para o próximo susto, mesmo que o diretor use alguns clichês para fazer isso.

Bonecos possuídos povoam a imaginação do cinema já a bastante tempo – os exemplos vão desde Devil Doll (1964, Lindsay Shonteff), passando por Brinquedo Assassino (Child’s Play, 1988, Tom Holland), talvez o mais famoso deles – pela estranheza na familiaridade, e o filme dirigido por Sandberg faz bom proveito disso, seja na cena inicial com pedaços bonecas penduradas no ateliê de Anthony (Mullins) ou no movimento da boneca Annabelle (já estamos e não faz mais sentido vê-la estática). E, como no seu filme anterior, o diretor gosta de trabalhar com a escuridão, o medo mais antigo, e ao iluminar determinados pedaços da cena, como quando Janice (Bateman) está no topo da escada, ele conduz nosso olhar para a sombra.

E quando Annabelle se desloca, e mesmo sabendo do seu passado demoníaco, Sanderberg ainda se preocupa em ser sutil pois sabe que se a boneca andasse teria que apelar para o CGI, tirando a realidade da porcelana, ou para cabos e fios, resultando no ridículo. O diretor também usa de signos sutis para representar a dualidade que vive na casa dos Mullins. Por exemplo, a luz alaranjada e cálida que preenche a vida dos três até a tragédia que leva e pequena Bee (Lee) é substituída por um tom também amarelo, porém menos saturado; e na porta da casa da família decorada com cruzes em posição normal e invertida, indicando que na casa o bem e mal estão em connflito.

Ainda no quesito casa, que será a nova morada de Janice, Linda (Wilson), a freira Charlotte (Sigman) e das outras órfãs, é curioso quando Sandberg mostra que aquele lugar, ainda tomado pelo luto, ganha um pouco de alegria que a chegada das crianças. Para mostrar a excitação de estarem num lugar maior e mais aconchegante, o diretor usa uma música alegre e passeia com as meninas pelos ambientes, nos levando junto delas num natural movimento da câmera por meio de um plano-sequência. Essa luz e esse movimento entram em choque com outras partes da narrativa onde o breu será uma constante e a câmera se movimentará com ângulos mais estranhos para os humanos, flutuando como uma presença etérea.

Mesmo a trilha sonora entra nessa dança de entrar em choque. Ainda que Sandberg use a trilha sonora de Benjamin Wallfisch de maneira mais desonesta, daquelas que sobe exatamente no pânico para aumentar o susto, ele também consegue trabalhar na sua ausência. O que acontece é que é música é tão marcante nesses momentos que o diretor aproveita muito bem o silêncio entre um momento e outro para deixar a plateia mais tensa. Basicamente, estamos tão acostumados com a trilha que o desaparecimento dela nos traz incômodo. Sem dúvida, será fácil encontrar na sala do cinema prendendo a respiração e se sentar mais no ponta da cadeira.

Onde o filme se perde ligeiramente no caminho é nos momentos que são mais gráficos a sutis. Sabemos desde Invocação do Mal (The Conjuring, 2013, James Wan) que Annabelle é possuída por algum demônio – e nesse filme nós o vemos demais. E ao usar a tática clássica de mostrar a ameaça ganhando um corpo é onde nos desligamos do filme. É até mesmo menos assustador, pois uma criança pequena com seus olhares, diálogos e ações consegue ser mais perturbador que um ser com olhos vermelhos e chifres – pelo menos o som dos ossos quebrando e estalando é bem assustador.

O roteiro consegue, inclusive, inserir um pouco de humor na trama, subvertendo os personagens investigativos que morrem por causa da sua curiosidade. É a sensação que temos quando Linda tenta se livrar de Annabelle jogando a boneca de um poço (Samara manda um oi) e que depois de tapar a abertura, começamos a ver e ouvir socos do lado de dentro por alguma coisa. Isso faz Charlotte perguntar o que seria aquilo, recebendo uma resposta adulta de Linda, uma que todo personagem que participa de um filme de terror deveria dar. É um momento não de descontração, mas mostra como Sandberg e Dauberman sabem tirar a audiência da zona de conforto – desconforto nesse caso.

O roteiro é mais cuidadoso que anterior, esse realmente um filme de origem, criando um sentido para os recados macabros deixados por Annabelle e fazendo um paralelo entre Janice e o Pequeno Tim de Charles Dickens e Um Conto de Natal (Christmas Carol, 1843), dois jovens atacados por uma doença representam as figuras mais inocentes – mas no caso desse filme, a inocência é um farol para a entidade maligna. Detalhes da produção na fotografia de Maxime Alexandre também chamam a atenção na mais de uma vez elogiado uso da escuridão e o jogo de luz e sombras para indicar o mal, como vemos na cena quando Linda encontra a foto de Bee e Annabelle.

Enquanto traz o terror com a escuridão dentro de uma casa que não é um lar, signos que zombam do sacrifício de Cristo e algumas homenagens aos clássicos – A Profecia, Poltergeist e Amytville – Annabelle 2: A Criação do Mal é um retrato da eterna batalha entre o bem e o mal (as crianças se defendem com brinquedos e os adultos com crucifixos), e que aqui tem um gosto amargo. Mas dentro de uma mitologia que crê nesse tipo de coisa é uma afirmação que é preciso estar sempre atento, algo que Mullins ignoraram. Para quem não acredita em nada disso, esse é um eficiente filme de terror que consegue em vários momentos deixar a audiência sem ter a vontade de piscar.

Annabelle 2: A Criação do Mal | Trailer

Annabelle 2: A Criação do Mal | Pôster

Annabelle 2: A Criação do Mal | Cartaz nacional

Annabelle 2: A Criação do Mal | Galeria

Annabelle 2: A Criação do Mal | Sinopse

Chegou a hora de descobrir a tragédia que envolve a boneca amaldiçoada que é um dos novos ícones do terror, uma história de duas décadas antes de Annabelle

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".