Angry Birds: O Filme | Crítica | The Angry Birds Movie (2016) EUA
Simples e leve, Angry Birds: O Filme surpreende por ser engraçado, ainda que terrivelmente desequilibrado.
Com Jason Sudeikis, Josh Gad, Danny McBride, Maya Rudolph, Kate McKinnon, Sean Penn, Tony Hale, Keegan-Michael Key, Bill Hader e Peter Dinklage. Roteirizado por Jon Vitti, baseado nos jogos da Rovio Entertainment. Dirigido por Fergal Reilly e Clay Kaytis.
É verdade que estamos cansados de adaptações, e quando é anunciado um filme baseado num jogo para celular que já foi febre, é natural ficar receoso. Surpreendentemente, Angry Birds: O Filme é bem divertido e espirituoso, ainda que passe longe de ser brilhante. É uma animação muitíssimo bem feita, tem um tom ideal para crianças – cheia de cores e piadas simples – e que não encherá de desespero os pais, que como recompensa ganharão piadas que só farão sentido para eles, ao levarem seus filhos para ver os pássaros explosivos. Além disso, a produção não desrespeita a inteligência das crianças contando com uma história simples, mas cativante na maior parte do tempo.
Logo no início o filma encarna uma diferença de outros filmes direcionados ao público infantil. A trilha original orquestrada pelo brasileiro Heitor Pereira passa um tanto despercebida, mas a dupla de diretores dá personalidade à Red (Sudeikis) e outros personagens com heavy metal e rock: Black Sabbath, Imagine Dragons, Scorpions e Limp Bizkit fazem contraste do que estamos acostumados na Disney e companhia, onde os personagens precisam cantar seus sentimentos para fora. Só isso já diferencia a produção o que, pelo menos em parte, pensa também na audiência mais velha, com pequenos momentos para que a experiência não seja maçante.
O que mais saltará aos olhos é, com certeza, a beleza técnica do filme. Você poderá perceber as variadas texturas, penas, como a luz se comporta e um dos melhores 3D dos últimos tempos – Reilly e Kaytis sabem usar o efeito e a grande profundidade de campo. Até mesmo em cenas noturnas o trabalho de iluminação é bem feito, compensando assim aquela névoa deixada pelas lentes escuras dos óculos 3D. E há outros partes que mostram como primaram pelos detalhes – felizmente, não em total oposição ao roteiro a ponto de esquecê-lo – como a ilustração da Mega Águia (Dinklage) ser um desenho não-realista e a tecnologia quase steampunk dos porcos dão profundidade no mundo divido entre pássaros que não voam e seus visitantes.
Porém, o roteirista mostra o problema que é esticar um jogo simples numa narrativa de pouco mais de 90 minutos. O segundo ato, quando Red, Chuck (Gad) e Bomba (McBride) vão procurar a Mega Águia para serem aconselhados sobre a invasão de Leonard (Hader) e seus porcos é arrastadíssima. Nem mesmo as crianças irão aguentar as idas e vindas da história – é uma perda tempo beirando o insuportável, quase tanto como Red e seus amigos ouvindo a Mega Águia falar só sobre si mesma. Fica ao fundo uma crítica aos ícones – não é a toa que o ser quase mágico da história é o animal-símbolo dos EUA – mas é tão chato, por falta de uma palavra melhor, que essa mensagem passa quase despercebida.
Já o terceiro ato é atravessado, tentando acelerar o tempo perdido na parte anterior. De longe, é a melhor parte do filme e ainda assim tem problemas. É notório que o tempo estava acabando – de novo o problema de não ser possível aumentar demais um argumento tão simples – o que causa uma falta de equilíbrio no todo. E só depois de uma hora de projeção, os diretores mimetizam o jogo, mas não participamos dele. O esquema dos estilingues poderia ser em primeira pessoa, aproveitando o 3D para causar imersão. Mas ficamos presos, sem poder derrubar as torres e nem podendo fazer parte da aventura – o que para as crianças seria ótimo.
Guardando algumas piadas geniais já no final – duas homenagens cinéfilas que farão os adultos rirem desesperadamente e outra que atesta a burrice dos porcos – e mostrando que você não precisa necessária se adaptar ao ambiente para ser útil, Angry Birds: O Filme se sai melhor que o esperado. A maioria das piadas é feita para as crianças, são bem leves, funcionam sozinhas e as risadas virão facilmente tanto para elas quanto para os mais velhos. Porém, peca pelo excesso narrativo, ficando a sensação que esse é um curta metragem estendido por razões mercadológicas – por isso a opção pelo 3D – mas que consegue, ainda que por pouco, ficar acima da chatice pura.
Sinopse oficial
“Na comédia de animação 3D, Angry Birds – O Filme, vamos finalmente descobrir o por quê destes pássaros serem tão bravos. O filme nos leva a uma ilha populada inteiramente por pássaros felizes e que não podem voar – ou quase inteiramente. Neste paraíso, Red (voz de Marcelo Adnet), um pássaro com problemas de temperamento, o veloz Chuck (voz de Fabio Porchat), e o volátil Bomba sempre foram excluídos. Mas quando a ilha é visitada por misteriosos porquinhos verdes, cabe a estes improváveis rejeitados descobrir o que os porcos estão tramando.”