A Maldição da Chorona | Crítica | The Curse of La Llorona
A criação de um universo tem sempre seus altos e baixos, e apesar do potencial, A Maldição da Chorona não é uma boa adição a esse mundo de espíritos e demônios.
A tentativa de criar um universo de terror de Invocação do Mal coeso encabeçado por James Wan esbarra em mais uma desventura se muito mediana em A Maldição da Chorona. Com uma mudança de foco em um conto/mito fora do eixo dos Estados Unidos e Europa, a revisita de uma lenda mexicana dá ao menos um frescor ao gênero que de tanto ser maltratado no cinema já se entra na sala de cinema com aquele receio de que não seja bom. Chaves, em sua estreia no cinema, mescla bons e péssimos momentos na direção, evidenciando a sua pouco experiência cinematográfica. Por outro lado, o diretor de ascendência latina consegue chamar a atenção a seu filme por outros meios, principalmente na fotografia, mostrando que pode sim se destacar no futuro.
Se há uma coisa que Chaves preza em seu filme é o dinamismo: apesar de usar um elemento tão comum quanto o prólogo explicativo para estabelecer a realidade fílmica da Chorona (Ramirez), o diretor não perde tempo e se apressa em apresentar a dinâmica que Anna (Cardenelli) tem com seus dois filhos, além de fazer uma rima visual do presente com o passado, onde a fantasmagórica personagem do século XVII tinha duas crianças dela própria. Isso reflete um receio de que a audiência atual que não consegue ficar muito tempo longe de um celular perca interesse na trama. E elementos como o plano sequência do começo com uma música animada em oposição às cenas seguintes com mais cortem ficam no subconsciente.
Também é curioso entender como a Chorona é um ícone extremo da maldição, uma personagem que de tão terrível encarna um tipo de zombaria de Cristo. Ao matar seus filhos afogados, a personagem perverte o sentido do batismo que o próprio Jesus deixou. E sendo um dos sacramentos do cristianismo, levar isso de família em família se caracteriza como uma das piores coisas que o demônio e seus asseclas poderiam impor ao criador. E nem importa se você acredita nesse tipo de coisa, pois desde quando a série iniciada em Invocação do Mal (The Conjuring, 2013, James Wan) é proposto que ainda que seres como bruxas e espíritos sejam parte do imaginário: no Conjurverse, eles fazem parte a realidade.
Porém, é uma pena que Chaves não confie na própria qualidade como diretor ao não manter uma constância que ele mostrou ter em vários momentos. Por exemplo, quando ele volta à técnica do plano sequência, a história já mudou de rumo: a cena é sombria e tensa, algo colocado pela fotografia de Michael Burgess, sem trilha sonora em oposição ao que tivemos no começo. Mas, em diversos momentos, o diretor apela para os já manjados scary jumps com uma trilha sonora que vem do nada ou com sons estridentes para incomodar o espectador e fazê-lo pular da cadeira. Porém, é possível encontrar momentos em que Chaves não usa dessa muleta e se sai muito bem.
Outro demérito é pela história cair no lugar-comum da personagem que se encontra na jornada do ceticismo para a da crença. Se esse filme fosse algo saído da série Sobrenatural (Supernatural, 2005-) não seria de se espantar – inclusive uma cena é cuspida escarrada de um dos episódios da série que mostra que o pior da humanidade é o ser humano. Há outras inspirações que correm aqui e ali, como a presença que invade a casa ter um visual de A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1981, Sam Raimi), ou como a maldição passa de um para o outro porque a mensagem não foi ouvida como em O Chamado (Ringu, 1998, Hideo Nakata).
Para compensar o terror, o filme traz dois tipos de humor, o desejado e o involuntário. O primeiro é representado pelas ações do curandeiro e ex-padre Rafael (Cruz) nos seus desafios que tentam eliminar a presença da Chorona. O outro são as vezes que Anna apela para a religiosidade depois de começar a acreditar – mas esses eram para ser momentos dramáticos, não de riso, algo que será percebido em qualquer sessão dado o exagero do desenrolar das ações. Essas são as típicas cenas que precisavam ser revistas em testes para executivos e audiências de teste e mostram problemas tanto em quem sentou na cadeira de direção quanto nas de produção.
Também é preciso dizer que a história toma liberdades demais que levam a produção para aquele perigoso caminho da conveniência, o que é uma tradução da falta de revisão e de carinho com o roteiro. Primeiro, é estabelecido um problema que poderia fazer com que a missão de Anna e Rafael em salvar a alma das crianças ser muito mais difícil, o de que a agora viúva encarava suspeitas de maus tratos aos filhos. Isso não vinga quando poderia. Também não se explica porque o ritual dos filhos de Anna não seguiu o mesmo padrão da família de Patrícia (Velásquez) se, pelo menos é o que se subentende, foi realizado pelo próprio Rafael.
A Maldição da Chorona não é um grande marco do cinema de terror, quase beirando um desastre ao trazer uma sensação de déjà-vu tão comum de outras produções. E havia potencial para bem mais, isso é notório pelo caminho que a história enverada até a metade, onde razão e fé poderiam caminhar num limiar e deixar a dúvida ao invés da certeza, o que, em geral, faz filmes de terror se destacarem. Ao preferir o caminho mais fácil, Chaves apresenta uma obra que pode ser absorvida por um público mais amplo. Porém, em detrimento, deixa de lado uma experiência que poderia se diferenciar dos exemplos que já estamos cansados de ver.
Elenco
Linda Cardellini
Raymond Cruz
Patricia Velásquez
Marisol Ramirez
Direção
Michael Chaves
Roteiro
Mikki Daughtry
Tobias Iaconis
Fotografia
Michael Burgess
Trilha Sonora
Joseph Bishara
Montagem
Peter Gvozdas
País
Estados Unidos
Distribuição
Warner Bros. Pictures
Duração
93 minutos
Data de estreia
18/abr/2019
Uma mãe precisa encontrar um meio de afastar de seus filhos do espírito de uma entidade maligna que há séculos procura crianças para tomar o lugar dos próprios filhos que ela assassinou.
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