A Colina Escarlate | Crítica | Crimson Peak, 2015, EUA

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Filament.io 0 Flares ×

Del Toro fez de novo: A Colina Escarlate assusta, é cheio de momentos tensos e conta uma história de fantasma como há tempos não se via.

Crimson Peak, 2015

Com Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Jim Beaver, Charlie Hunnam. Roteirizado por Guillermo del Toro e Matthew Robbins. Dirigido por Guillermo del Toro (Círculo de Fogo).

9/10 - "tem um Tigre no cinema"Num mundo justo, Guillermo del Toro poderia fazer todos os projetos que abraça. A Colina Escarlate mostra um diretor maduro e versátil. Homenageando o terror, o mexicano trouxe um dos melhores filmes do gênero dos últimos anos, conseguindo misturar sustos eficazes e tensão numa história que não é sobre fantasmas e sim com fantasmas. Ainda que o espectador não leve muito tempo para entender o que está acontecendo, o diretor ainda consegue nos dar algumas surpresas. Nesse filme tão simbolicamente sangrento, o espectador encontrará medo, sentirá calafrios e participará de uma aventura. Apesar de parecer elementos demais, del Toro tem competência para equilibrá-los e assim contar uma interessante história, ainda que tenha alguns clichês do gênero.

Os fantasmas de del Toro são seres que passaram por algum tipo de tormento, é isso é visível na construção deles. O diretor os concebeu como seres etéreos, um misto entre o clássico esvoaçante e seres verdadeiramente assustadores. Porém, ainda no conceito de que eles não estão aqui por vontade própria, é imperativo notar a diferença entre esses vagantes. A mãe da protagonista volta com um ser de cor preta para avisar a (ainda) jovem – de modo aterrorizante, porém eficaz – dos perigos da Colina Escarlate. Já nas colinas da Inglaterra, os fantasmas que tomam o sono de Edith Cushing (Wasikowska) são vermelhos. Essa diferença vem pelo modo e lugar que essas pessoas morreram. Enquanto a mãe de Edith morreu pela cólera (também chamada de black death), aqueles que estão na mansão morreram de forma violenta, mas não deixe de levar em conta onde elas estão enterradas.

[ouça também]
O Labirinto do Fauno | TigreCast #108

E o diretor sabe como criar expectativa. Mesmo nas cenas que envolvem corredores, onde você sabe de onde o susto virá, del Toro segura a ação pelo que parecem ser intermináveis segundos. Os primeiros minutos do filme serão de sofrimento para os mais sensíveis, mas, como apontado no começo, o filme não é exatamente sobre isso. Edith os vê, sabe da existência deles e transporta isso para seu livro. Mas ela diz para Thomas Sharpe (Hiddleston) que esses seres são metáforas do passado que perseguem as pessoas. Diferente de outros filmes onde os eles estão ali para dar sustos nos personagens e atormentá-los, os seres desencarnados tem uma função narrativa mais profunda, algo que não vemos desde O Sexto Sentido (The Sixth Sense, Dir M Night Shyamalan, 1999). Essa mistura entre sentido figurado e literal é o grande diferencial do filme.

Existe uma diferença entre plágio e homenagem, e aqui fica bem claro que o que acontece é a segunda opção. Aliás, é por isso que mesmo o espectador médio consegue entender a situação toda sem muita dificuldade. Não entendam isso como um demérito, pois se antes o diretor mostrou seu fascínio por robôs gigantes nessa produção ele fez isso com clássicos do gênero do terror. Visualmente isso é notado pela íris que se fecha em personagens chaves, a vestimenta escarlate de Lady Lucille (Chastain) e o excesso de vermelho desde cedo. Ainda assim, del Toro deixa espaço para outras rimas visuais que são assinaturas dele. Por exemplo, ele sempre gosta de lidar com aparatos mecânicos, e já que ele não pôde e nem deveria fazer fantasmas como nos filmes da Hammer, existe uma máquina de vapor que representa a obstinação de Thomas e Lucille em extrair o sustento vermelho daquela terra.

Outros simbolismos interessantes são mais sutis e envolvem a relação entre Edith e Thomas. Essa observadora escritora vai morar numa mansão enorme, porém com uma grande parte do teto faltando, como se del Toro nos dissesse que aquilo é uma casa – um lugar afundando no vermelho e ameaçadora por si só –, mas jamais seria um lar. O diretor, para amenizar esse clima terrível que paira no ar, encontra um espaço para representar o envolvimento entre os recém-casados de maneira cálida. Notem que quando os dois se beijam pela primeira vez há um facho de luz no fundo, iluminando a escuridão que Thomas carrega consigo. E é só quando os dois estão no exato oposto da enorme mansão que há uma entrega de Thomas, de novo iluminado pela paleta mais quente do diretor de fotografia Dan Laustsen e embalado pela composição de Fernando Velázquez.

Quem é fã de vídeo games e RPG sentirá na estrutura narrativa dessas mídias. Edith, por causa de seu poder de ver os seres do outro lado, passa por micro-aventuras dentro da mansão. Então, ela acha cilindros para um gramofone. Ela não tem um, e para isso ela precisa de uma chave, que vai abrir outra porta, que vai leva-la a um terceiro ponto para finalmente escutar as gravações. É divertido e ameniza, assim como o interlúdio romântico, a sensação de medo que estão nas sangrentas paredes e pisos do terreno da mansão Allerdale. E já que esses elementos são típicos de games de terror – Resident Evil, Silent Hill, Amnesia – imagino que os apreciadores desse mundo também se sentirão atraídos pelo filme.

A Colina Escarlate | Pôster Brasil

Há outras dicas na narrativa que deixam a produção mais interessante: sejam as moscas que circundam partes da casa, a fixação de Lucille com as chaves, o mordomo que diz que seu mestre é casado há muito tempo, ou um cachorro que sobreviveu como se fosse um milagre são alguns momentos que costuram a interessante história de A Colina Escarlate. Del Toro justifica praticamente tudo na sua história. Vejam como Edith traz mais luz àquele lugar terrível pelo simples fato de usar cores claras como branco e amarelo, ou ainda por colocar ainda no primeiro ato o interesse do Dr Alan McMichael (Hunnam) pelas obras de Sir Conan Doyle. E indo na contramão de muitos de terror – um gênero que defendo, mas sei que está sendo ridicularizado pela indústria – del Toro deixa de lado a ameaça para mostrar um problema verdadeiro, onde o filme encontra sua profundidade: os fantasmas não são o problema, meus amigos. Nós, a raça humana, é que somos.

Sinopse oficial
O romance gótico ‘A Colina Escarlate’ conta a história de Edith Cushing (Mia Wasikowska) – uma aspirante a escritora, que desde pequena convive com fantasmas – e encontrou na escrita uma forma de fugir de seus traumas de infância. Quando seu coração é roubado pelo sedutor Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), Edith é arrastada para o topo de uma casa sombria que esconde obscuros segredos”.

Veja o trailer de A Colina Escarlate

[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema

http://www.patreon.com/tigrenocinema

OU
Agora, você não precisa mais de cartão internacional!

 

Volte para a HOME

 

Share this Post

About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".