A Cinco Passos de Você | Crítica | Five Feet Apart, 2019
Tentando se destacar no gênero tomado por distopias, A Cinco Passos de Você apela para o melodrama e é facilmente esquecida no meio do gênero.
O gênero jovem adulto focou muito em distopias e aventuras, é por isso que quando aparece alguma coisa como A Cinco Passos de Você, mesmo não sendo original, acaba por cativar alguma audiência. Assim como nos filmes do gênero citados, onde a liberdade nos é tirada, o trabalho de Baldoni, estreando na tela grande, também lida com a perda de algo tão básico para nós como seres humanos. Dito isso, é fácil ver como o diretor puxa as cordas para deixar a trama mais e mais melodramática, mesmo que nos encontremos torcendo pela felicidade do casal, o que significa, na maioria das vezes, que o recado foi passado com sucesso.
O convite que Stella (Richardson) nos faz logo de cara é imaginar como seria viver sem poder tocar quem você ama. Começando pelo fim, algo que podemos entender pela saudade que ela fala de Will (Sprouse), a jovem não conta apenas por contar, como numa daquelas enfadonhas narrações off. O diretor usa a tela do cinema como o próprio canal de Youtube que a protagonista tem para falar sobre sua doença ao mundo. Limitada por ela, Stella usa a rede mundial para quebrar essa prisão que ela e o amigo Poe (Arias) se encontram. Ponto para o diretor que entendeu como usar essa linguagem tão próxima dos mais jovens.
E diferente de tantas comédias ou dramas românticos, é interessante ver como aqui o visual dos personagens são utilizados de maneiras diferentes. Por causa dos contratempos de seu tratamento, Stella nunca está arrumada – em contrapartida, Will aparece na maioria das vezes com um cabelo impecável – ou com aquela iluminação que a fotografia costuma dar às personagens femininas, elemento que é usado no filme no seu maior proposito que é dar o clima à narrativa. Isso é bem perceptível na cena em que a luz cálida do quarto do hospital lembra mais um quarto normal ou como a luz é usada de maneira diferente quando vemos o de Will.
Claro que notamos também o lugar-comum dos personagens: o bad boy que está se revoltando contra o sistema, a menina que segue regras que beiram o TOC, o amigo que vira a consciência quando ela parece faltar à protagonista. São símbolos usados para uma geração pouco acostumada aos clássicos, mas que tem algum conhecimento deles, mínimo que seja. Por exemplo, quando Stella cita que leu toda a obra de Shakespeare, qualquer um acaba levantando a sobrancelha da desconfiança. E para fazer uma obra mais palatável, algo provavelmente vindo do trabalho original, o personagem masculino faz algo idiota que o separa da garota que claramente ama. Pelo menos, é da mente dela que vem a solução.
A mudança de Stella vem de uma boa influência de Will e o inverso também acontece. A vida regrada da moça entra em choque, nada muito grande é verdade, com a bagunça do vizinho de quarto. Ela se encontra numa situação tentando controlar o incontrolável, um tanto alheia que mesmo alguém saudável e fora daquela prisão não conseguiria controlar se quisesse – eu que escrevo ou quem lê tem tantas garantias de estar vivos amanhã como qualquer outro. Ela então faz uma aposta, algo que nem todos estão dispostos. E mais uma vez brincando com símbolos, Stella usa um taco de bilhar para jogar com a vida e para tirar um pedacinho que seja do que a doença lhe tomou.
Sem dúvidas, a história desse trio é feita para nos deixar bem – e nos encontramos torcendo por todos eles. A questão é que as viradas estão tão claras que perdemos o elemento surpresa. Então é óbvio que quando um personagem fala da sua mudança de planos e também resolve se arriscar, algo irá acontecer num tipo de equilíbrio narrativo. É a autora dizendo que, assim como é a vida, nossos planos nem sempre prosperam. São momentos assim que fazem o filme demasiadamente longo e que te farão olhar no relógio para saber quanto tempo ainda falta. Para uma produção que busca o jovem como público-alvo, faltou um tanto de dinâmica.
É algo que se nota também na relutância de Stella se abrir com Will sobre a irmã. É difícil acreditar nisso considerando que a jovem expõe boa parte da vida dela na internet, inclusive com vídeos com a irmã. É um elemento narrativo desnecessário do modo que foi colocado. Digamos se Will fosse intrometido e descobrisse porque Stella não fala mais sobre a irmã por outros meios, essa travada na narrativa faria sentido. Porém, usado como é, serve só para alongar a trama um pouco mais do que necessário e desviar o foco da relação dos dois, e isso deveria ser mais importante.
Por outro lado, é preciso dizer que é um desafio fazer um filme romântico que o toque não é permitido: se na obra mais conhecida do dramaturgo inglês é uma questão da sociedade, aqui ela vira uma questão de doença. Claro que a pista deixada por Stella nos fazem esperar por momentos bem shakespearianos, mas menos trágicos pois a história quer nos dar um fio de esperança que seja desde o começo. É por isso que nos apegamos à esse fio impossível de que realmente o amor dos dois seja consumado. Mas o que temos é apenas a admiração que um e outro tem por seus corpos perfeitos, mesmo com a presença das cicatrizes.
E assim como qualquer adolescente em fase de transição, os dois tomam decisões muito erradas – algo de Romeu e Julieta de novo, um fetiche da história em ficar referenciando o casal mais conhecido da dramaturgia constantemente para encontrar respaldo ou validação nesse mundo tão antigo. São momentos de levar uma mão à testa e quase gritar para tela nos perguntando o que diabos os dois estão fazendo ao não responderem à lógica. Podemos perdoar os dois é verdade, mas mesmo assim é preciso apontar que é 2019 e ainda assim a personagem feminina só fez algo que era necessário para ela quando o homem a liberou para isso.
Com seus momentos de doçura e clichês, A Cinco Passos de Você entra num mundo dominado há muito tempo por obras infinitamente melhores e acredita que a sua missão é simplesmente ser uma diversão com algo de fofo para lembrar o que importa de verdade na vida. Como contos de fada, há uma lição de moral bem clara na história de dois jovens que dariam de tudo para ser como a maioria dos outros, uma lição que não faz mal nenhum em ser repetida. Assim como os protagonistas, é uma obra que não quer apontar defeitos para ninguém e assim não ofende ou julga ninguém da plateia. Ao mesmo tempo que é fácil de ser assimilada, também será fácil de ser esquecida.
Elenco
Haley Lu Richardson
Cole Sprouse
Moises Arias
Emily Baldoni
Kimberly Hebert Gregory
Parminder Nagra
Claire Forlani
Direção
Justin Baldoni
Roteiro
Mikki Daughtry
Tobias Iaconis
Fotografia
Frank G. DeMarco
Trilha Sonora
Brian Tyler
Breton Vivian
Montagem
Angela M. Catanzaro
País
Estados Unidos
Distribuição
Lionsgate
Paris Filmes (Brasil)
Duração
116 minutos
Data de estreia
21/mar/2019
Stella é potadora de uma doença grave e espera um transplante de pulmão. Hospitalizada, ela conhece Will, portador de uma doença similar mas que não segue o tratamento como deveria. Ela então embarca numa missão de endiritar o parceiro até que um mor impossível surge,
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