A 5ª Onda | Crítica | The 5th Wave, 2016, EUA
A 5ª Onda é uma colcha de retalhos de outros do estilo “jovem adulto”. O mesmo triangulo amoroso, a mesma distopia e o mesmo tudo.
Com Chloë Grace Moretz, Nick Robinson, Ron Livingston, Maggie Siff, Alex Roe, Maria Bello, Maika Monroe e Liev Schreiber. Roteirizado por Susannah Grant, Akiva Goldsman e Jeff Pinkner. Baseado no romance de Rick Yancey. Dirigido por J Blakeson.
Existe um lado bom na literatura de acesso. É bem comum que alguém que na sua infância leu as aventuras de Harry Potter tenha descoberto um número interminável de possibilidades literárias. A dúvida fica porque isso não acontece no cinema e por que o método de contar histórias que não saem da zona de conforto. A 5ª Onda é assim com seu triângulo amoroso, cenário distópico – ainda que não seja um futuro – e nada de ousadia. Se os leitores evoluíram, já passou da hora do gênero se reinventar.
Mas é interessante o modo tenso que a narrativa começa com a jovem e assustada Cassie (Moretz) segurando um rifle de assalto, ainda com as marcas de esmalte descascando dos dedos, mostrando a transição de sua vida anterior para essa. Pois bem, esse é único momento de profundidade nos intermináveis 112 minutos de projeção. Podemos começar com a pergunta mais básica que como alguém inexperiente consegue controlar tão facilmente uma AK47 – provavelmente o resultado seria mais parecido com o desse vídeo – já que é mostrado claramente que o primeiro contato de Cassie com uma arma foi quando o pai lhe deu uma pistola automática, inclusive mostrando seu funcionamento.
A parte mais interessante fica no primeiro arco quando vemos como o mundo desaba com a falta daquilo que nos acostumamos tanto. E ainda assim é pouco aproveitado pelo trio de roteiristas. Em nome da esperada ação, o quadro das quatro ondas é acelerado, sempre acompanhados pela narração off de Cassie que precisa explicar tudo o que se passa para uma audiência menos acostumado a prestar atenção em imagens. Longe de reinventar a ficção científica, a história pelo menos usa o tema, o que já difere um pouco dos seus irmãos mais velhos como a Série Divergente e Jogos Vorazes. E é impossível não fazer a ligação. Mais do que isso, o filme parece uma colcha de retalhos do que já vimos.
O problema, no entanto, é que eles usam o pior das misturas. Enquanto Katniss e Tris se mostram personagens verdadeiramente fortes – mesmo nos problemáticos Insurgente e Jogos Vorazes: A Esperança – O Final – Cassie assume esse papel por quinze minutos do filme, se muito. Numa tentativa desesperada de se manter atual e empoderar ao menos uma mulher, os roteiristas introduzem Ringer (Monroe), colocam roupas pretas na personagem, um diálogo anti-machista e acharam que resolveriam seus problemas. Não é representatividade quando a história faz parecer que alguém está lá por algum tipo de cota.
E não contente em explorar todos os clichês do universo – orfandade, o objeto importante deixado para trás – a aventura investe no amor. É vergonhosa a relação entre Cassie e Evan (Roe), enquanto a paixão adolescente Ben (Robinson) corre por fora. A relação entre ela e seu salvador – é nesse momento que a personagem perde a sua força para se tornar a donzela em perigo – não parece ter nada de verdadeiro, e o motivo dele se apaixonar é triste e ridículo. Vejam só, o roteiro é tão preguiçoso que eles não puderam criar uma explicação melhor que amor à primeira vista.
Alguns filmes emocionam, outros nos trazem conforto, risos e alguns nos fazem refletir. A 5ª Onda é diferente ao mexer com outro tipo de sentimento. É uma daquelas produções que quanto mais se pensa nela, mais você percebe seus defeitos, trazendo até algum tipo de raiva. Não é pedir muito um pouco mais de desenvolvimento de personagens, de história e maneirar mais nos clichês. Seria bom perguntar aos responsáveis pelo filme se a mensagem que queriam passar teria mesmo que se calcar em tantos conceitos ultrapassados e até retrógados. A produção pasteurizada e mastigada pode se achar no próprio nicho, mas não sobreviverá para deixar um legado. Provavelmente, seus jovens fãs sentiram um misto de vergonha e nostalgia ao dizerem que um dia gostaram dessa forma piegas de contar uma história. Se o inferno é mesmo a repetição achamos outro ótimo exemplo.
Sinopse oficial
“No novo filme A 5ª Onda, quatro ondas consecutivas de ataques cada vez mais mortais dizimaram boa parte do planeta Terra. Vivendo em um ambiente de medo e desconfiança, Cassie (Chloë Grace Moretz) está em uma corrida desesperada na tentativa de salvar seu irmão menor. Enquanto ela se prepara para a inevitável e letal quinta onda, Cassie se alia à um jovem rapaz que pode ser sua esperança final – se ao menos ela pudesse confiar nele.”