A Múmia | Crítica | The Mummy, 2017, EUA

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O primeiro passo dado no Dark Universe em A Múmia é confuso, pouco divertido e aposta mais na ação do que no terror que os inspirou.

A Múmia (The Mummy) 2017

Elenco: Tom Cruise, Sofia Boutella, Annabelle Wallis, Jake Johnson, Courtney B. Vance, Marwan Kenzari, Russell Crowe | Roteiro: David Koepp, Christopher McQuarrie, Dylan Kussman | Argumento: Alex Kurtzman, Jon Spaihts, Jenny Lumet | Direção: Alex Kurtzman (Bem Vindo à Vida) | Duração: 107 minutos | 3D: Irrelevante

Imagine um universo regido por deuses e monstros. Imagine um universo regido por boas histórias, com bons diretores, maturando com o tempo. É bom que você imagine porque não é isso que encontramos no remake de A Múmia, um dos filmes menos inspirados dos últimos tempos. Existe uma tentativa de fazer um universo coeso desde agora e o paralelo com o filmes de super-heróis não escapa da nossa mente com o Dark Universe chegando. Mas a primeira incursão é uma costura de clichês de outras aventuras, tem uma direção que não consegue manter o foco e um roteiro cheio de conveniências e ex-machinas. Não é um pontapé inicial certeiro, confirmando uma impressão de que houve correria para criar esse novo-velho mundo só depois que essa produção já tinha começado.

Se pegarmos a montanha de nomes envolvidos – entre o diretor, produtores e os vários roteiristas – parece que antes de pensar na produção como um filme, eles decidiram fazer uma reunião de amigos e nessa roda perceberam que Kurtzman tinha apenas um crédito como diretor. Como bons colegas dessa vez deixaram que ele, inexperiente na cadeira mas já com alguns sucessos como roteirista, tomasse as rédeas. Só isso explica a decisão de iniciar um importante franquia – com outros dois filmes já anunciados – com alguém tão pouco habituado ao posto. E o pior é que a inexperiência se confirma na narrativa.

Nota-se desde o começo a insegurança de Kurtzman que entrega a história de Ahmanet (Boutella) por meio de uma narração off para repetir a mesma história por meio de visões que ela impregna em Nick (Cruise). Se você perceber bem, esse é um filme ligeiramente menor que grandes produções hollywoodianas (que às vezes passam das duas horas), mas cada recontagem, cada novo flashback e cada tentativa de esconder personagens do público sem necessidade servem para que o filme chegue a quase 120 minutos. O problema aí é alongar tanto a história que ela se torna uma experiência maçante.

A força do filme reside, como muitas películas de ação, nos efeitos especiais. Isso não quer dizer que eles sejam impressionantes, ou que o 3D seja bem usado – aqui ele só serve para escurecer as cenas sombrias, o que é profundamente irritante – mas é extremamente competente. A cena vista no trailer que Ahmanet evoca elementos da natureza no meio da cidade de Londres ou a queda do avião onde Nick e Jenny (Wallis) estão é muito bem feita – e desesperadora para quem tem fobia de voar. E a parte divertida fica com Nick ser praticamente um capacho tanto de Ahmanet quanto de Jenny e as porradas que ele leva durante a história. Arrisco dizer que Cruise nunca apanhou tanto em tela como agora – algumas cenas de luta são agonias puras.

Na prática, esse universo novo que traz os monstros clássicos deveria ter algo de terror para homenagear as histórias do começo do estúdio. Mas essas tentativas vem com os já batidos scary jumps seguidos pela trilha sonora que aumenta de repente. Quem é fã de outras produções de terror vai se lembrar de filmes como Hellraiser: Renascido do Inferno (Hellraiser, 1987, Clive Barker) e Força Sinistra (Lifeforce, 1985,Tobe Hooper) nas ações da agora ressuscitada Ahmanet – e até mesmo filmes de zumbis. Então, sem a capacidade de escrever mais cenas de terror, parte-se para as pancadas (de novo, é divertido ver um Tom Cruise sendo jogado para o alto – mesmo com a regra não-escrita de Hollywood que envolve o ator).

Existe também uma falta de cuidado nos conceitos dos personagens e decisões que começam a te tirar, logo depois do prólogo, daquele filme. São desde pequenas coisas como um fantasma que só Nick pode ver, mas que por algum motivo tem reflexo, passando pela decepcionante maquiagem de Henry (Crowe) – aliás, esse personagem é colocado de costas num momento que Jenny liga para ele numa tentativa de esconder que é o chefe daquela organização sendo que já era óbvia essa conexão. São vários momentos assim que parecem não conversar um com o outro, um grande problema da montagem onde fica a impressão que o diretor filmou muitas cenas e depois não soube como conectá-las.

Para os fãs dos monstros originais é divertido caçar as referências aos clássicos do estúdio – num passeio podemos ver O Monstro da Lagoa Negra, Drácula e Homem-Invisível, por exemplo – mas não é suficiente para darmos ao menos a alcunha de divertido ao filme. Até saem algumas risadas quando Nick se encontra em maus lençóis quando Ahmanet o escolhe como receptáculo para Set ou no constante espancamento do personagem, uma fragilidade que não é tão presente em outros filmes recentes com o ator, ou ainda o desmembramentos dos zumbis criados pela múmia no caminho da ressurreição – e é interessante que a primeira tentativa do ritual ocorra numa igreja católica, uma profanação da mensagem de Cristo, sendo ela própria um anti-cristo ao ressuscitar pela carne dos outros.

É o clássico exemplo de motivos que tentamos nos segurar para gostar mais do filme. E seria fácil encher as linhas aqui com adjetivos, bons ou ruins, e esperar que isso seja o suficiente para descrever o desastre do começo do Dark Universe. A Múmia trabalha com sustos previsíveis, um ex-machina atrás do outro – desde ficarmos perguntando como a equipe de Henry encontrou Jenny e Nick, sendo que uma explicação de 30 segundos resolveria; ou poderes convenientemente sendo descobertos pela personagem-título – e é o começo confuso de um universo que tem potencial. Ainda é tempo de trabalhar em cima dos clássicos e deixar de lado esse pensamento de que para uma produção ser atrativa ela tem que ter explosões, tiros e se esquecer completamente da atmosfera – esse sim um elemento que fazia filmes do século passado se destacarem.

A Múmia | Trailer

A Múmia | Pôster

A Múmia | Pôster Brasil

A Múmia | Galeria

A Múmia | Imagens (1)

Créditos: Universal Pictures/Divulgação

A Múmia | Imagens (5)

Créditos: Universal Pictures/Divulgação

A Múmia | Imagens (4)

Créditos: Universal Pictures/Divulgação

A Múmia | Imagens (3)

Créditos: Universal Pictures/Divulgação

A Múmia | Imagens (2)

Créditos: Universal Pictures/Divulgação

A Múmia | Imagens (6)

Créditos: Universal Pictures/Divulgação

A Múmia | Sinopse

Depois de milênios, Ahmanet é tirada de sua tumba prisão e ressuscita para tomar o mundo que acredita ser seu por direito. No seu caminho estão Nick (Cruise), Jenny (Wallis) e um certo Dr Henry (Crowe). Essa é a primeira incursão do novo Dark Universe que vai trazer às telas novamente os clássicos monstros da Universal.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".