Os Estagiários | Crítica | The Internship, 2013, EUA
Os Estagiários do Google trabalham no melhor lugar do mundo? É o que afirma essa grande propaganda em forma de filme.
Com Vince Vaughn, Owen Wilson, Rose Byrne, Max Minghella, Joanna Garcia, John Goodman, Dylan O’Brien e Jessica Szohr. Roteirizado por Vince Vaughn e Jared Stern. Dirigido por Shawn Levy (Gigantes de Aço).
Existem dois grandes problemas em “Os Estagiários”. O primeiro é seguir fórmulas: piadas prontas e um tanto óbvias. Segundo, o filme é uma grande propaganda da Google. Sem dúvida, para uma exposição tão grande, a empresa de tecnologia investiu muito dinheiro no talvez único mundo em que ainda não havia aportado os pés. Apesar disso, o filme rende algumas risadas nas referências dos anos 1980 contra as da cultura mais recente. Eventualmente, essas piadas se repetem tanto que cansam. Longe de ser um fracasso, também não será lembrado como marco de comédia, mas como uma diversão passageira e de alto astral.
Billy McMahon (Vaughn) e Nick Campbell (Wilson) são ótimos no trabalho de vendedores. Os amigos são pegos de surpresa quando demitidos peloo chefe Sammy Boscoe (Goodman) ao encerra a empresa de relógios, porque ninguém mais os usa. Essa transição para o digital faz Billy ter uma ideia maluca: ele se inscreve junto de Nick para um estágio no Google, apesar do conhecimento deles com informática ser limitado ao nível de usuário. Enfrentando rejeição e pessoas mais novas e muito mais inteligentes, eles vão ter que se adaptar à esse novo mundo e contar com a sorte.
Billy e Nick são personagens bem animados. Eles não ligam de fazer papel de bobos porque estão bem de vida, dirigindo conversíveis, e pedindo um caro whisky para comemorar uma venda que nem tinha acontecido. Quando a realidade bate, é tão triste que a mudança de postura e da linguagem corporal dos dois muda. Ambos tem problemas de relacionamentos e apesar de seu tino para negócios, nunca souberam poupar – só isso explica que Billy receber uma notificação de despejo e Nick ter que procurar qualquer subemprego logo depois da demissão.
E dentro do Google a realidade muda. E o filme faz bem a propaganda ao mostrar que pensam diferente, com Starbucks de graça para seus funcionários, aulas de dança e escorregadores para ir de um andar para o outro. Além do cúmulo, por mais que seja verdadeiro, de escolher candidatos à uma vaga apenas pela entrevista virtual do hangout. Sem dúvidas, o melhor do mundo para se trabalhar, como aponta gratuitamente Dana (Byrne), que logo vira interesse romântico de Nick.
Cheio de referências e alegorias, os dois vendedores são constantemente colocados à margem desse mundo que funciona mais rápido. Por exemplo, logo depois da primeira tarefa que o Sr Chetty (Mandvi) dá aos candidatos à vaga, vemos ao fundo todos checando seus smartphones, menos Billy e Nick. Esse desligamento da atualidade e do que é a empresa fará os dois serem marginalizados num mundo que já é assim para quem vê de fora. O roteirista faz com que coisas do universo nerd não vire motive de chacota, e isso é bom para rirmos com isso e não disso. É mais engraçado ver que os dois mais velhos não entendam nada de Quadribol – nem eu, diga-se de passagem – do que ver várias pessoas tentando reproduzir no mundo real o jogo da franquia Harry Potter. De certa maneira, é uma vingança dos nerds quando Stuart (O’Brien), Yo-Yo (Raphael) e Neha (Sircar) mandam Billy e Nicky atrás de um tal Professor Charles Xavier, que é careca e anda numa cadeira de rodas para poderem se livrar dos dois enquanto resolvem um dos desafios do estágio. E isso acarreta na cena mais engraçada e politicamente incorreta do filme.
É fácil se contagiar pelo astral do filme e pela tentativa de Billy e Nick serem aceitos e formarem um time, coisa que os estagiários liderados por Lyle (Brener) não são. Desesperados no começo, os ex-vendedores jogam palavras que nada tem a ver com o assunto, ou insistem em ideias que todo o grupo diz que já existe. Mas eventualmente, apesar de ser lugar comum, Levy consegue criar um relacionamento interessante entre essas pessoas, mostrado principalmente na oposição de duração de quadros rápidos entre o ambiente fechado e azulado de uma boate, e os mais abertos e longos do lado de fora enquanto observam a Golden Gate.
“Os Estagiários” não é um grande filme, que peca também nos seus exageros – apesar de alguns serem aceitáveis – que são escancarados quando Billy repete a fala do on the line, a perturbadora que envolve duas velinhas e Yo-Yo e sua sobrancelha sumindo, que poderia ser mais sutil. Com o intuito de vender a imagem do Google como um lugar alegre e colorido, evidenciado pela paleta sempre clara e alegre do diretor de fotografia Jonathan Brown, o filme é mais uma convocação nos moldes de “Ato de Coragem” (Act of Valor, 2012) do que engraçado. Pelo menos, você sabe que o produto vai estar lá e não existe o risco de enganação: com tanto Google pulando na tela, falar bem da empresa é o esperado.
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