O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, 2001, França) [Crítica]
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain: um poético filme que pode te introduzir ao cinema francês com facilidade.
Com Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, e Rufus. Roteiro de Jean-Pierre Jeunet e Guillaume Laurant. Dirigido por Jean-Pierre Jeunet (Alien – A Ressureição).
Existe algum tipo de rejeição ao cinema francês para quem não é apreciador de cinema. Se você é um deles, deve assistir esse filme, pois será um introdução bem mais suave ao cinema daquele país. Mas longe de ser um filme fraco. Uma colagem de comédia e romance fora dos padrões, com cortes acelerados e viagens visuais transformam a personagem em uma heróina, e assim sendo, tem que percorrer o “caminho do herói”. Isso e um pouco mais marcam “O Fabuloso Destino…” como um dos filmes mais divertidos da primeira década do século XXI.
A vida de Amélie começa comum como a maioria. O que muda é a sua percepção do mundo. Num ritmo frenético, conhecemos mais de nossa heróina, passando pela apresentação de seus pais e dos próprios gostos, a criação de seu mundo imaginário, a morte bizarra da mãe e o desenvolvimento de seu senso de justiça. Esse rápido flashback funciona de um jeito tão fantástico que já conhecemos muito bem Amélie e podemos acompanhar o seu destino.
O diretor de fotografia Bruno Delbonnel (que também trabalhou em “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”) cria a Paris de Amélie num cálido tom amarelo esverdeado. O jeito dela ver as coisas de uma maneira esperançosa dá ao filme cenas confortáveis e cheias de afeto: ela se importa com a situação de amigos, conhecidos, injustiçados e até de desconhecidos. É interessante notar que a primeira missão que Amélie encara vem com uma cena totalmente fora do clichê. Quando ela se depara com a notícia da morte da Princesa Diana, ela segura um frasco de perfume nas mãos. A câmera filma os pés dela e a convenção diria que o frasco cairia ali. Mas o diretor é tão sensível e delicado que só a tampa cai, batendo na parede do banheiro de Amélie, onde ela encontra um pequeno tesouro.
As qualidades de Amélie continuam na sua atenção aos detalhes, num vida sem esbanjar. Ao contrário da nossa cultura de estocagem, ela atravessa a rua só pra comprar as frutas que vai precisar pelos próximos dois dias. Essas pequenas inserções da história constroem uma personagem delicada e admirável. Além de altruísta, pois ela não quer nada em troca. E as maneiras que ela soluciona suas missões são algo fora do comum, colocando seus necessitados dentro de um pequeno e elaborado plano, e que faz passar como se fosse o acaso. A maneira que ela tenta fazer o pai a sair da quase fantasmagórica casa chega a ser surrealista. É verdade que Amélie cruza com os personagens mais estranhos, mas sendo o filme praticamente uma fábula isso não deixa de ser verossímil. A cena em que Amélie se transforma em água é uma transição dessa realidade para o mundo imaginário que não deixa de existir na mente dela, e invade um pouco as fronteiras entre uma dimensão e outra. Para completar esse tom de comédia, é engraçado ver as insinuações sexuais e discretas do filme: a cena das raspadinhas, do trem fantasma e do banheiro do café são dignas de nota. As outras missões que ela enfrenta, e são cinco no total, são sempre divertidas e fora do convencional.
Por fim, “O Fabuloso Destino…” conta com direções impecáveis, a trilha sonora fantástica de Yann Tiersen (de “Adeus, Lênin), e um roteiro cheio de uma doçura sem passar nenhuma vez pelo piegas. É um filme para muitas gerações de apaixonados e de apreciadores de ótimas comédias, e que torna a personagem Amélie como um Zorro moderno, mas vestida cheia de paixão com seus trajes verdes e vermelhos!