Mulheres ao Ataque | Crítica | The Other Woman, 2014, EUA
Mulheres ao Ataque é uma daquelas comédias que não trazem praticamente nenhum riso ao rosto dos espectadores, mesmo vendo um bom potencial na história.
Com Cameron Diaz, Leslie Mann, Kate Upton, Nikolaj Coster-Waldau, Nicki Minaj, Taylor Kinney, Don Johnson. Roteirizado por Melissa Stack. Dirigido por Nick Cassavetes.
Gostaria de adaptar Pina Bausch, não como paródia, mas como paralelo: Riam, senão estaremos perdidos. Porque a vida precisa tanto de comédia quanto de drama, ou aventuras, ou qualquer outro gênero. Mas para isso é necessário que outros nos façam rir e, infelizmente, as piadas de Mulheres ao Ataque não são suficientes para sairmos satisfeitos da sessão. Existe um potencial, mas o roteiro hesita e fica numa certa segurança que compromete o resultado.
Carly (Dias) está há oito meses numa relação com Mark (Coster-Waldau), e começa a acreditar que finalmente pode acertar um namoro duradouro. Quando Mark cancela um encontro para conhecer o pai de Carly e resolver um problema em casa, ela resolve fazer uma vista surpresa para o namorado. A advogada então descobre que o namorado é casado com Kate (Mann) e desiste da relação. Porém, a esposa fica obcecada em conhecer a amante do marido, e desenvolve uma amizade improvável com ela. Eventualmente, as duas descobrem que há uma terceira mulher na jogada. Amber (Upton) se une às duas para buscar vingança do homem que as enganou.
Cassavetes e Stack – estreando em longa metragens – consegue emplacar três bons momentos no filme: um por ato, o que é bem pouco considerando um filme de 109 minutos. O primeiro deles é o clichê do slow-motion nas cenas românticas entre Carly e Mark, que sentimos quebrar quando conhecemos Kate. O efeito perderia o sentido e seria só mais um clichê se isso não acontecesse. A esposa verdadeira está acostumada com a presença do marido a ponto de não se cuidar – o que rende uma pequena lição do que os homens esperam um pouco mais a frente dada por Carly – e usar o banheiro enquanto ele está escovando os dentes, e se limpando depois de fazer as necessidades. Não é muito engraçado, mas o filme justifica, em partes, porque Mark procura outra mulher. Mas deixa bem claro que isso não é uma desculpa válida. E a personalidade de Mark vai piorando aos poucos para sentirmos raiva dele.
Kate é uma mulher bonita, mas com baixo autoestima. Já Carly é mais segura, que vemos pelo corte de cabelo mais moderno, pela posição social como uma importante sócia num escritório de advocacia e, como as amantes costumam ser, mais fatal. A simplicidade de Kate – melhor dizendo, a ingenuidade – é representada principalmente pelo figurino mais alegre e floral, como se ela fosse uma menina do campo perdida. Ela admite isso ao perseguir Carly pela cidade. É um misto de admiração com loucura, quase uma síndrome de Estocolmo por essa mulher que já não quer mais saber de Mark.
O outro bom momento – esse uma piada visual – é quando Carly encontra Kate na porta do seu apartamento, e a observa através do olho mágico. A visão distorce Kate, e como ela é um tanto maluca, a piada é interessante. O porre que as duas tomam é seguido de um despertar – tanto literal quanto figurado – mas que para Kate dura pouco. Insegura do jeito que é, ela cai facilmente nos gracejos de Mark. E é preciso outro choque para trazê-la de volta à realidade.
Quando Amber entra em cena, há aquela pontada de inveja por sua aparente perfeição: um corpo modelado, jovem e Kate acha até que o suor dela cheira bem. Mas é interessante que a modelo não é tratada com estereótipo. As três juntas se tornam a mulher perfeita, mas não numa visão masculina, como Carly chegou a falar antes, e se apoiam por um bem comum. Ou um mal comum.
Mark é uma pessoa detestável desde o começo e as vinganças que elas fazem – greve de sexo, comida com hormônios femininos, creme de depilar no cabelo – tem o alvo a masculinidade dele. Demora um pouco para ele ser pintado como um vilão total. Além de infiel, ele é um ladrão. Não é nenhum plot twist, já que ele pede mais de uma vez para Kate assinar um documento dizendo que ela nem precisaria ler. Comportamento típico de estelionatários.
Mulheres ao Ataque tem poucas novidades e sinais clichês – a cama enorme e vazia, o personagem bonitão que vai se apaixonar pela protagonista – e lembra alguns momentos de Ela é o Diabo (She-Devil, 1989, Dir Susan Seidelman). Mas é bom que tenhamos mais mulheres protagonistas, um espaço que lembra séries de TV (Sex and The City, Desperate Housewives) e filmes como Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011, Dir Paul Feig). Uma pena que falta graça na produção, que na sua comédia que não faz rir, será esquecida rapidamente.
Veja o trailer de Mulheres ao Ataque.
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