Mulher-Maravilha | Crítica | Wonder Woman, 2017, EUA
Provando seu valor como protagonista Mulher-Maravilha é entretenimento mas também é uma história de causar inveja em muitos filmes chamados sérios.
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright, Danny Huston, David Thewlis, Connie Nielsen, Elena Anaya | Roteiro: Allan Heinberg | Direção: Patty Jenkins (Monster: Desejo Assassino) | Duração: 141 minutos | 3D: Relevante
Quem cresceu lendo todo o panteão da DC Comics tem todo o motivo para sair feliz da sessão de Mulher-Maravilha. E quem apenas acompanhou os filmes, em todas as encarnações anteriores do resto da Trindade, também. Esse não é um filme apenas importante para fãs; também, sem exageros, é para a história do cinema. Ter uma personagem tão popular e tão bem construída é uma inspiração para tantas garotas e mulheres que se encontram pouco representadas nessa indústria. Por trás da cenas de ação, bate um coração com um mensagem importante e que não deve ser ignorada, trazida através de uma personagem popular para que seja recebida mais facilmente.
Diana/Mulher-Maravilha (Gadot) já era caracterizada como um mulher inteligente desde o mal-falado Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016, Zack Snyder). No seu filme de origem essa faceta é reforçada sem deixar de lado o espírito de amazona que a maioria está acostumado. Na primeira cena do filme descobrimos que seu trabalho civil é dentro do Louvre, um lugar que é apresentado num plongé, como se Jenkins apontasse além da ascendência da personagem, um respeito pelo lugar ser um templo de saber. Então, ao colocar dessa maneira na montagem, a diretora mostra que, antes de tudo, Diana tem uma paixão pelo conhecimento.
O que é perfeitamente explicado pela sua infância em Themyscira, onde é podada pela mãe, a Rainha Hipólita (Nielsen) na arte da Guerra, mas nutrida pela tia, a General Antíope (Wright). Com uma personalidade inquieta e questionadora, quanto mais ela é negada em alguma coisa, mas ela o quer. Isso se estende até a sua vida adulta. Apesar de todos os filmes de origem terem uma certa gordura narrativa, o primeiro ato da história é bem conciso, e com em a introdução do Capitão Steve Trevor (Pike) Diana reforça essa vontade (ou curiosidade) de fazer o que é certo. Hipólita diz que a filha foi em única criança da ilha – ou seja, ela cresceu com mais características humanas, com uma tendência em ser curiosa a obediente. Então, apesar de ser meta-humana, Diana se aproxima mais do espectador.
A narrativa se divide em momentos bem distintos: o primeiro, que basicamente é o primeiro ato e invadindo um pouco o segundo, é a relação de Diana com o mundo dos homens – representado por Steve – onde há espaço para dúvidas sinceras e uma comédia inerente ao pouco conhecimento que ela tem de nosso mundo. A química entre dois é natural e os momentos entre eles, sejam ternos, tensos ou cômicos, não parecem em nenhum momento forçados. Nos divertimos com Steve tentando reforçar sua características masculinas – se é que vocês me entendem – e recebendo uma expressão quase blasé de Diana. Dúvidas que passariam pela cabeça dele e dela – sexo, casamento e amor – são no mínimo adoráveis.
A construção do mis en scène também é digna de nota. Começa com o visual da Ilha Themyscira com suas atléticas amazonas de todas os tamanhos e cores, além da próprio terreno em si que é banhado por um eterno verão. Com muita perspicácia Jenkin e Heinberg mostram como aquele paraíso intocado sofreria por estar parado no tempo – por mais que as Amazonas saibam se defender, é uma batalha difícil quando os alemães que perseguem Steve chegam com rifles enquanto elas ainda usam lanças, espadas e flechas. Em comparação com o mundo dos homens que está guerra que muda para aquele tom mais sombrio que estamos acostumados no Universo DC Estendido, mas aqui em fotografia tem um sentido narrativo. Além do contraste com a casa de Diana, há a questão do nosso mundo ser coberto pela névoa da guerra e como a heroína chega como um raio de luz para nós. Além disso, é onde o Laço da Verdade mais se destaca com seu brilho, dando uma beleza que também é estética.
Mesmo com a segurança que existe nas ações de Diana – afinal já sabemos que nenhum desafio é demais para ela por causa do filme de 2016 – é importante que ela apareça na Primeira Guerra Mundial: apesar de ser a última da Trindade que apareceu para o público, ela se torna a primeira super-heroína do universo DC. Esse papel nos quadrinhos sempre foi do Superman (ele criado em 1938 e ela em 1941), mas ao colocar em Mulher Maravilha como o raio de esperança da humanidade no universo dos filmes é importante para a representatividade, mostrando que Jenkins teve liberdade para elevar a personagem de patamar.
É interessante também prestar atenção nos símbolos de Jenkins na criação desse universo: Primeiro, a confraria de Diana e Steve com Sameer (Taghmaoui), Charlie (Charlie) e o Chefe (Rock) é uma proto-Liga, um conjunto de diferentes nacionalidades que se unem para o bem comum. Depois Diana, não é muito fã de ser obediente, nunca segue ordens masculinas (por mais que algumas pareçam ser para o bem dela pela ótica deles), a opção de usar um escudo e, já no entendimento de quem ela é naquele novo mundo, o contra-ataque ao invés do ataque direto, e o ato de se defender é onde ela encontra seu maior poder.
De certa maneira, Diana se torna uma representação do melhor de nós. Passando pelas trincheiras da I Guerra Mundial ela vê atrocidades, pessoas mutiladas, escravizadas e que clamam por justiça. Quem tem um pouco de coração se compadece daquelas visões e pensa, no seu íntimo, o que poderia fazer se tivesse o poder para mudar tudo isso: seja na política ou na guerra o sentimento cresce até um ponto que parece impossível de suportar. Então esse não é apenas um filme sobre semideuses, mas como podemos nos inspirar por figuras que brilham na escuridão e sempre fazem a coisa certa.
O que diferencia Mulher-Maravilha das outras produções que agora coexistem na mesma linha temporal não é em fotografia com mais cores ou as doses de humor. Claro que isso é importante para a construção da narrativa e da personagem, mas o que o filme de Jenkins trouxe ao Universo DC foi esperança: uma personagem que se destacou entre os outros dois que agiram nas sombras e ainda não são exemplos. O que Diana se tornou nessa produção pode moldar o restante do universo iniciado em 2013. Se não bastasse, o fato de ser o primeiro filme de uma super-heroína dirigido por uma mulher faz toda a diferença, o que torna a produção praticamente obrigatória.
E já representatividade importa, leiam também as críticas de mulheres do filme. Em especial, recomendo as escritas por Bárbara Demerov e Juliana Varella.
Mulher Maravilha | Trailer
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Mulher Maravilha | Sinopse
A história da Mulher-Maravilha (Gadot) é bem mais antiga que achávamos. Criada numa ilha paradisíaca, ela descobre que a grande missão que ela treino por boa parte de sua vida foi trazida pelo acidentado piloto Steve Trevor (Pine). Entrando num novo mundo, Diana toma parte na Grande Guerra por crer que o Deus Ares é o responsável pelo mal que aflige o mundo. Nessa jornada, a Amazona descobrirá o seu verdadeiro destino.
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