Manifesto | Crítica | Manifesto, 2017
- TIAGO
- 27 de outubro de 2017
- 8/10, cinema alemão, Críticas
- 0
- 1864
Manifesto é o que diz o próprio nome e um desafio para espectadores e para um mundo que precisa urgentemente de transformações.
Toda Arte atual é falsa, nada é original e, portanto, tudo por ser copiado. Essas são algumas das declarações de Julian Rosefeldt em Manifesto, uma produção que é mais instalação do que propriamente um filme – tanto que foi exibida originalmente nesse formato onde os 13 segmentos eram transmitidos simultaneamente. Porém, já que a obra de arte chegou aos cinemas, vale a pena se desafiar e assistir as palavras do diretor no mais abrangente mundo do cinema. Pode ter perdido um pouco da ideia original, mas ainda assim é uma produção que merece ser discutida.
Por ter a intenção original de pertencer à um museu, o filme – se é que pode ser chamado assim – não tem estrutura tradicional em três atos. Por si só, isso já é um desafio. E por não ter algo que possa ser chamado de história, mas um fio condutor onde as várias personagens de Cate Blanchett nos guiam, a dificuldade aumenta. Porém, assim como qualquer arte, e o cinema é uma delas, é importante nos desafiarmos de vez em quando e passar por experiências assim. E, se possível, passar por aquele véu lacônico de dizer apenas que gostou ou não de algo.
Diante de alguns totens – a arte atual é falsa; o mundo precisa de verdade, não de sinceridade; nada é original – uma das primeiras perguntas que pode passar pela nossa cabeça é porque escolher apenas uma pessoa para apresentar todas essas ideias. Isso tem que vir de nós, da nossa mente, pois o próprio Rosefeldt diz em um dos segmentos que “explicar é senso comum“. Então, cada vai tirar sentido da sua própria experiência. É realmente difícil para quem não está acostumado com leituras, conversas, passeios em longos corredores das galerias e salas de cinema. Para esses, o filme é como uma barreira, um trabalho pretensioso do diretor.
Porém, como indica o começo com o personagem do mendigo/velho louco – e, como nos filmes de terror, você não deve ignorar seus conselhos – Rosefeldt acredita estarmos num mundo caído, destroçado pelo capitalismo e que precisa de uma revolução que os artistas têm a missão de trazer, o que é diferente de dizer que somente essa classe tem a capacidade de fazer isso. E sim, o diretor patina no gelo fino do egocentrismo, mas ele mesmo admite noutro segmento que críticos de arte gostam de falar em códigos e que com muitos adjetivos serão entendidos. No final, isso não é o que se espera quando conversamos da arte: precisamos mais de substantivos que adjetivos.
Portanto voltemos à questão da face única, mesmo que a maquiagem, a entonação da voz e a expressão corporal de Blanchet seja diferente com cada personagem. O que acontece é que o diretor espera que com uma cara comum durante os 95 minutos de projeção, o espectador eventualmente transponha o rosto familiar e se concentre mais no que está sendo dito. No entanto, o filme não é um monólogo; pelo menos não no sentido clássico, e cada parte ganha personalidade pelos elementos mencionados no início do parágrafo. E alguns momentos são mais difíceis de serem interpretados que outros; mas assim é a boa arte: aquela que nos coloca em movimento ou que inicie uma revolução, como deseja Rosefeldt.
E como se pintasse um quadro, apenas para fazer referência a um tipo de arte mais próxima do entendimento geral, o diretor usa da estética para contar a história: plongés e câmeras aéreas nos colocam como observadores daqueles momentos, mas também nos aproxima dos personagens como partícipes, nos nivelando com os personagens. É aqui que Rosefeldt confia no nosso senso crítico. Por mais que as palavras sejam difíceis e que o diálogo seja profundo, e muitas vezes com a necessidade de um conhecimento um pouco mais teórico, ele confia que pelo menos parte da plateia consiga acompanhar seu raciocínio.
E Rosefeldt homenageia dois grandes diretores do cinema de épocas diferentes (assim saindo dos museus, mas se concentrando em arte): Jean-Luc Godard e Jim Jarmusch (há outros, mas esses são mais explícitos). São deles as frases que aparecem no segmento que Blanchet encarna uma professora. Ali, Rosefeldt dá uma aula usando as palavras de seus mestres (“Nada é original. Roube de qualquer lugar que ressoe com inspiração ou alimente sua imaginação” e “Não é de onde você tira as coisas – é onde você as leva” disse o americano e o ícone da Nouvelle Vague). Então, no fim das contas, o que o diretor tenta fazer conosco é indicar um caminho, mas não uma solução.
Então, não é muito importante analisar cada uma das 13 personagens, mas sim como elas conversam e de onde cada segmento busca inspiração. Claro que existem momentos mais marcantes que outros, como a cena da mãe de família – começa um oração para arte que começa na sua própria parte e termina somente depois de dois segmentos para exprimir o tanto de arte que existe – Mas, no fim, o que importa é captar cada um desses pedaços e montar na sua mente a sua interpretação. Pode não ser fácil, mas quando a vida é?
O mais importante é que Manifesto não deve ser visto de maneira leviana. Entre na sala de cinema, ou assista em casa, sem olhar o celular, sem estar com fome ou com sono e sem qualquer outra coisa que lhe tire a atenção, pois é uma produção que precisa que estejamos atentos do começo ao fim. Seja para entender o que está acontecendo no mundo, discutir o que é arte ou o que é lógica ou sobre o ato de criar em si. Não será uma obra que agradará a todos. Mas, assim como Rosefeldt abriu seu coração para nós, se desarme de preconceitos e ouça a mensagem. Mesmo que você não a aceite.
Elenco
Cate Blanchett
Direção
Julian Rosefeldt
Roteiro
Julian Rosefeldt
Fotografia
Christoph Krauss
Montagem
Bobby Good
País
Alemanha
Austrália
Duração
95 minutos
Julian Rosefeldt traz a atriz Cate Blanchet para declarar seu manifesto artístico e clamar por uma arte revolucionária.
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