John Carter – Entre Dois Mundos | Crítica | John Carter, 2012, EUA
John Carter – Entre Dois Mundos é um filme que mantém o espírito aventureiro e até simples do original de Edgar Rice Burroughs. Leia a crítica!
Com Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Mark Strong, Ciarán Hinds, Dominic West, James Purefoy, Bryan Cranston, Daryl Sabara e Willem Dafoe. Roteiro de Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon, baseado no livro de Edgar Rice Burroughs. Dirigido por Andrew Stanton (Wall-E).
“John Carter – Entre Dois Mundos” é um filme de fantasia pura, mantendo os aspectos da época em que foi escrito. O planeta vermelho tem atmosfera e mantém uma temperatura agradável, tão diferente da nossa “chata” realidade. Esse mundo é povoado por dois clãs humanos e por criaturas de quatro braços que estão em guerra entre si. John (Kitsch) é levado para esse mundo por acidente, luta por necessidade, mas não quer escolher lados na batalha. Trazendo ótimos efeitos especiais (ao ponto de você acreditar nas figuras de quatro braços medindo 3,5m), e a música de Michael Giacchino (não inspirado como em “Up – Altas Aventuras”, mas marcante), o filme dura quase 2h20min nos divertindo e não cansando. Existem alguns pontos que rebaixam a produção, principalmente no tocante à tecnologia usada pelos dois povos humanos. No entanto, “John Carter” se sai muito bem dentro da própria proposta, e não merecia o fracasso retumbante que teve nos cinemas dos EUA.
A história do filme é contada por meio de vários flashbacks: começando pela curta introdução da história da guerra que ocorre em Marte/Barsoom; da história em si, que é o diário de John lido por seu sobrinho Edgar Burroughs (Sabara); e das tristes memórias de John (que não está bem certo se estão escritas ou se são memórias de Edgar). O diretor de fotografia Daniel Mindel (que trabalhou em “Missão: Impossível III” e “Star Trek”) usa de diferenças nas cores para separar esses momentos: Marte durante o dia tem um tom amarelado/dourado (pela busca do personagem principal), e o passado de John é de um carregado e invernal azul. Pode soar um pouco cansativo, mas não tanto para o espectador em geral. O começo é um tanto confuso, mas é assim para entramos no espírito da surpresa de Edgar, que recebe a repentina notícia de que o tio morreu. O diretor nos dá pequenas dicas do que está para acontecer. Veja que John é perseguido por um figura misteriosa e que para escapar beija uma mulher vestida de vermelho, destoando do figurino em volta. As cenas seguintes, onde é requisitado pelo exército americano, mas decide que não vai ficar parado são uma boa dose de comédia. Aqui vemos John como um heroi perdido, e que não deseja escolher lados.
A chegada de John até Marte é uma interessante alegoria ao começo da nossa vida. Assim como quando nascemos, temos dificuldade para nos adaptar ao ambiente e até mesmo andar é complicado: engatinhamos antes de nossos primeiros passos. Enquanto aprende a se adaptar a essa nova vida, John descobre que pode dar grandes saltos (uma personificação de super-heróis) e conhece os homens verdes de Marte, os Thark, liderados pelo jeddak (o termo deles para “rei”) Tars Tarkas (Dafoe). Os Thark vivem numa sociedade um tanto espartana, e tratam John como um dos filhotes da horda. As cenas de recém-nascido em Marte (mais uma vez) e a introdução do mascote em CGI Woola trarão mais alguma cenas para rir. John entra na guerra entre as cidades de Helium e Zodanga, quando vê em perigo a princesa Dejah Thoris (Collins), dona de profundos olhos azuis. Ela tenta fugir do casamento forçado com Sab Than (West), que tem em seu poder uma incrível arma, o “nono raio”, uma tecnologia muito avançada, dada pelos Thern (que são vistos como semideuses), comandados por Matai Shang (Strong), e que desequilibra a balança da guerra para a cidade de Zodanga. John é visto tanto pelos Thark quanto por Dejah como alguém que pode mudar a balança para seu próprio lado, mas não quer ser usado e nem tomar lados. Ele só quer voltar para casa e para a sua caverna de ouro. É essa parte do filme que existe um conflito da tecnologia. Apesar dos barssonianos terem naves que flutuam pela luz ao invés da água e de serem equipada com armas de fogo (aliás, os Tharks também tem armas, que se parecem com carabinas), as lutas corpo-a-corpo usam espadas comuns. É muito provável que pela época do livro, Burroughs não imaginava armas de recarregamento rápido, e que lutas seriam como as de abordagem de navios no nosso mundo do século XIX. Por isso não aponto o isso como defeito, mas sim o fato de serem espadas simples, e não alguma coisa parecida com sabres-de-luz.
“John Carter” é dotado de várias ideias que podem parecer simples, mas é assim porque a história escrita no começo do século XX serviu de inspiração para vários gêneros de hoje, passando pelos super-heróis de quadrinhos (os já citados pulos que o Super-Homem usava no início de suas histórias), passando pelos vídeo-games (“Príncipe da Pérsia”, por exemplo), outros filmes (John banhado de sangue azul é quase um William Wallace em “Coração Valente”), e cores bem definidas entre o bem (Helium e Dejah usam azul nas suas bandeiras) e o mal (Zodanga e Sab Than ostentam o vermelho). Não sei se isso existe no livro, mas John é feito de idiota mais de uma vez, levando aquele tapa clássico na nuca que, aparentemente, é comum de qualquer cultura. O filme é feito para todas as idades, pelo menos a partir dos mais jovens. A violência é amenizada pela maioria dos seres sangrarem azul e por acontecerem, pelo menos algumas, fora do campo, só se mostrando a sombra. No fim, “John Carter” é um filme divertido, cheio de ação, mas com algumas pontas soltas. Por exemplo, faltou explicar melhor o que unia esses povos. É uma pena que a Disney já tenha declarado que o filme deu um enorme prejuízo ao estúdio, arrecadando só um pouco mais do que custou para ser feito. O Rapaduracast #274 comentou alguns pontos sobre o assunto, e dando uma luz ao ataque recebido pela imprensa estadunidense ao filme. Vamos ter que esperar a boa vontade da Disney, ou nos contentarmos com os livros (que tem diferenças significativas, pelo pouco que sei) para saber mais da história de John Carter de Marte.