Jogador Nº 1 | Crítica | Ready Player One, 2018
Jogador Nº 1 funciona além de ser um caldeirão de referências: é uma nova aventura para jovens e que agrada adultos igualmente.
Existe uma divisão muito pedante entre o chamado cinema entretenimento e o cinema arte – como se esquecessem que qualquer cinema é arte. Uma obra como Jogador Nº 1 pode ser vista como rasa e até tola, mas nas mãos de Spielberg é uma ode ao espírito humano. É verdade que é a história tem um roteiro simples, que lembra uma dezena de outras aventuras, mas isso não transforma o filme em algo simplório. A grande questão é quem a história quer atingir, o que pode se tornar um problema depois da sessão que é cheia de cores e com centenas de coisas acontecendo ao mesmo tempo no plano de fundo.
A nostalgia pode ser problema bem grande se não soubermos dosar e entender como as coisas funcionam no universo em que Wade Watts (Sheridan) vive. Abrindo como uma narração off do protagonista e alguns planos-sequência para entrarmos no mundo de 2045, podemos nos deixar levar pelas referências dos anos 1980 que povoam a escrita de Penn e Cline (adaptando o próprio livro). O importante é entendermos que esse não é um filme para ficarmos pescando as referências como o Capitão América, e sim que o filme funciona apesar delas. Afinal, são tantos personagens que se ficarmos caçando como easter eggs deixaremos de apreciar a história – isso fica para a lista caça-cliques.
Portanto, apesar de ser um filme com uma apresentação bem contemporânea, é uma produção que exige do espectador mais cuidado. Assim como a missão de Wade/Parzival, Aech (Waithe) e Art3mis (Cooke), todo o mundo do Oasis está lá para nos distrair. Porque se ficarmos caçando personagens que podem ou não aparecer por uma fração de segundo na tela, deixaremos de aproveitar a experiência, algo que é essencial para James Halliday (Rylance), o criador daquele mundo. E Spielberg tem plena consciência disso. Sabendo que aquele mundo é grande e barulhento, ele é focado.
Vejam, por exemplo, a primeira vez que entramos na corrida da primeira pista. Como é informação demais para absorver, toda a sequência não tem música de fundo. Seria uma saída bem fácil emplacar uma trilha sonora ali, mas o diretor sabe que precisamos entender a trama e essa é toda a questão do mistério que Halliday deixou: é uma questão de escutar o que ele tem a dizer. Entender ao invés de ser passivo. Se nos aproximarmos por esse viés, mesmo uma obra simples, direta e divertida, tem algo a ensinar. Todo aquele mundo manipula os personagens e a nós para um caminho de distração, onde Wade começa a decifrar quando começa a ouvir seus amigos.
Óbvio que é divertido ver personagens diversos passeando pela tela, o que provavelmente faz o filme ser o maior crossover cinematográfico de todos os tempos, mas existe a questão do público-alvo. Se levarmos em conta apenas a história, a geração que cresceu entre os anos 1970 e 1980 se identifica melhor com todo aquele mundo. Os mais jovens, também representados com personagens contemporâneos de Minecraft e Overwatch, se identificarão com o ritmo acelerado, um dinamismo inerente da geração. Mas quando esses universos se encontram, é bem difícil prever a reação desses grupos distintos, e se a cola da diversão é suficiente para uni-los.
Porém, mesmo esse sendo um lugar onde muita coisa acontece, e por isso ouvimos constantemente a voz do Wade nos explicando as coisas – algo quase ininterrupto nos primeiros dez minutos da história – há espaço para discussões mais profundas, ainda que diretas. Afinal, é bem óbvio que a crítica à Sorrento (Mendelsohn) e a sua companhia IOI é a mesma feita à grandes instituições financeiras que depois de nos forçarem a entrar numa espiral de consumo, não pretendem te deixar sair de um espaço limitado – empréstimos, juros abusivos –, um lugar metafórico que na história ganha uma forma física, nada menos que uma prisão.
Sem maiores pretensões, o grande defeito dessa aventura, Jogador Nº 1 não é um só uma produção com referências jogadas no ar e um novo marco nos efeitos visuais. Se nos focarmos apenas nisso, perdemos muito do que Cline e Spielberg quiseram dizer. Claro que você quiser encarar apenas como isso, um caldeirão dos personagens que você sempre quis ver juntos, também funciona. Porém, é preciso encarar desafios, escavar mais fundo até entendermos a verdadeira mensagem da história – não que seja algo de alto grau filosófico, ou que vá mudar a sua vida. É só uma questão de perceber que diversão e reflexão podem andar juntos, sem que um deprecie o outro.
Elenco
Tye Sheridan
Olivia Cooke
Ben Mendelsohn
T.J. Miller
Simon Pegg
Mark Rylance
Direção
Steven Spielberg (The Post: A Guerra Secreta)
Roteiro
Zak Penn
Ernest Cline
Baseado em
Jogador Nº 1 (Ernest Cline)
Trilha Sonora
Alan Silvestri
Fotografia
Janusz Kamiński
Montagem
Michael Kahn
Sarah Broshar
Duração
140 minutos
3D
Relevante
No ano de 2045, a população vive grande parte da sua vida no Oasis, uma realidade virtual onde você pode ser quem quiser. Depois da morte de seu idealizador, começa uma caça ao tesouro proposta por ele próprio, uma aventura que deixará o vencedor não apenas rico, mas com o controle total daquele universo – algo cobiçado tanto por pessoas simples como Wade e grandes corporações. A questão é quem vai chegar primeiro.
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