Frozen II | Crítica | Frozen II, 2019
Ao invés de olhar para frente como fez o original, Frozen II prefere olhar para o passado e perde muito do brilho da história que encantou tanta gente.
Uma boa história precisa fugir de certas armadilhas, principalmente quando entram no campo das sequências. Infelizmente, Frozen II cai em duas bem grandes: a de apelar para a magia para qualquer resposta e a do cenário pré-estabelecido para entregar um roteiro preguiçoso. Segurando as pontas nos seus 100 minutos, inclusive com uma cena extra, por momentos de beleza visual e personagens fofos, a continuação não tem intenções de ser algo além da sombra do filme original, incluindo momentos que tiram o protagonismo das irmãs em nome de passagens musicais estendidas que querem dar mais destaque aos personagens secundários da trama, mas que não acrescentam nada à trama.
Para criar interesse, é preciso olhar para frente e não para trás. De certa maneira, é isso que Elsa (Menzel) faz, depois de muitas atribulações, em Frozen (2013, Jennifer Lee). Ao fazer da continuação uma história de origens, o roteiro diverge da intenção da produção de 2013. Além disso, a animação perde algumas das partes mais progressistas que tivemos com Anna (Bell) e Kristoff (Groff), onde o grande desafio do antigo coletor de gelo agora ser menos desajeitado e pedir a princesa em casamento. Existem, porém, momentos interessantes nesse primeiro ato, com um Olaf (Gash) filósofo e mais ciente de sua existência como ser pensante e uma rainha próxima do seu povo – notem que, apesar do status, Elsa nunca usa a coroa.
Depois disso, a experiência se torna incômoda até para os mais jovens, e basta estar numa sessão com crianças para notar isso. Em troca de um roteiro mais bem trabalhado, a dupla Lee e Buck preferem mais músicas, ao ponto de alguns personagens terem duas. Pode ser um pouco divertido a canção brega de Kristoff sobre seu amor, como num clipe cafona no estilo rock arena dos anos 1980, mas, de novo, é uma lembrança da fragilidade do roteiro que se apressa para acelerar a história. Algo que, ironicamente, seria resolvido com uma apelação menor às músicas, ainda que a produção seja, em sua essência, um musical.
Há uma piada em Os Simpsons (1989-) com a participação de Lucy Lawless em que ela responde um questionamento de um fã de Xena: A Princesa Guerreira (Xena: Warrior Princess, 1995-2001), sobre um erro de continuidade num determinado episódio. A atriz responde que, quando uma coisa dessas acontece, é por causa da mágica. Por mais que magia não exista e cada autor possa usá-la a seu bel-prazer, isso é, convenhamos, uma muleta narrativa pessimamente explorada na continuação. A questão não é usar magia para tudo – afinal, essa é a arma de Elsa e não usá-la seria contraproducente – mas sim que a resposta para tudo seja esse elemento.
Apesar de isso ser notado logo no começo quando Elsa acorda os espíritos da floresta por algum motivo – “a wizard did it” -, é quando nos aproximamos do fim que o elemento aparece para reforçar que o roteiro foi tão mal planejado quando o plano da rainha de Arendelle chegar numa ilha mágica. Apesar de fazer todo o sentido em querer proteger a irmã e Olaf, num misto de soberba com amor – ainda que deixa Anna sozinha num lugar mágico e ainda inexplorado pelo quarteto – seus passos seguintes, não fazem. Assim como o roteiro, Elsa não sabe o que fazer para atravessar um oceano. A não ser, é claro, pela mágica que aparece para salvar o dia.
Essa mesma mágica também não faz muito sentido dentro dessa narrativa algumas vezes. Um dos grandes defeitos é quando Elsa encontra as respostas que procurava a origem d’A Voz (Aurora) a chamava. De novo, magia não existe, e cada um conta como ela funciona da maneira que quer, mas é difícil de acreditar que o lugar onde Elsa é levada para entender a fonte dos problemas dessa aventura a aprisione. Talvez fosse uma punição por ela ser quem é, mas a rainha também era quem poderia muito bem trazer o equilíbrio à natureza. Seria mais fácil, o que deixa o novo protagonismo de Anna um tanto forçado.
Quando entramos na parte técnica é que a Disney não deve nada a Pixar. Sem nenhum exagero, visualmente falando, nenhum detalhe está lá por acaso. A técnica do estúdio alcança níveis impressionantes em cada produção e há uma evolução nítida quando comparamos com o filme de 2013. Apesar de não ser só isso. Há verdadeiramente um cuidado com composições, paleta de cores e figurino. Algumas que chamam a atenção: na música “Into the Unknown” (aqui adaptada para “Intuição”), com a urgência da situação vinda pelo corredor vermelho em contraste com o figurino roxo real de Elsa, ou como as roupas molhadas realmente parecem assim depois de Anna sair do rio onde caiu.
Esse mesmo apelo visual tem seus problemas, principalmente por percebermos que Frozen II está mais interessado em fazer um bichinho gracioso que parece parente do pequeno Pascal para vender mais um brinquedo do que contar uma boa história, com direito ao príncipe salvando a princesa. Chega a ser irônico que é exatamente o excesso de magia na narrativa deixe o filme um tanto menos mágico, onde nos pegamos mais impressionados pela inovação tecnológica do que com o destino dos personagens. O problema nem é o mistério e a resolução óbvia do filme – pois foi pensado, no fim das contas, para crianças –, mas as escolhas que marcaram tanto a primeira vez e vemos sendo soterradas.
Elenco
Kristen Bell
Idina Menzel
Josh Gad
Jonathan Groff
Aurora
Direção
Chris Buck
Jennifer Lee
Roteiro
Jennifer Lee
Argumento
Chris Buck
Jennifer Lee
Marc E. Smith
Kristen Anderson-Lopez
Robert Lopez
Fotografia
Mohit Kallianpur
Tracy Scott Beattie
Trilha Sonora
Robert Lopez
Kristen Anderson-Lopez
Christophe Beck
Montagem
Jeff Draheim
País
Estados Unidos
Distribuição
Walt Disney Pictures
Duração
103 minutos
Data de estreia
02/jan/2019
Cena Extra
Três anos depois de aprender e aceitar seus poderes, Elsa agora enfrenta um novo desafio: descobrir a ligação da origem de seus poderes com um antigo feitiço que pode destruir Arendelle. Mais uma vez, ela contarå com a irmã Anna, Kristoff, Sven e Olaf para salvar o dia.
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