Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro | Crítica | 2018
Mesmo homenageando o trash e o gore, cinema quase inexistente no Brasil, Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro se perde dentro dessa tentativa.
Se Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro tivesse saído de uma onda de filmes trash da década de 1990, ninguém duvidaria. O filme vindo da cabeça de amigos do stand-up nacional é, em suma, uma homenagem a esse tipo de filme que, assim como muita gente, foi o primeiro contato com o terror e o gore na vida. O que não significa que seja uma boa homenagem. Apesar de começar com um bom ritmo, o filme se alonga numa experiência que a partir da sua metade cansa por claramente ser esticada além do que deveria, deixando para trás um rastro tão marcante de que não sabiam fazer com um longa-metragem quanto os litros de sangue falso que são derramados na tela.
A primeira parte da história promete um filme mais interessante, onde os roteiristas se valem do nosso conhecimento da lenda da Loira do Banheiro (Quintela) para fazerem a ação acontecer logo. Há apenas uma curta introdução de como os vídeos toscos, assim com a produção real, dos Caça-Assombrações Jack (Gentili), Fred (Lins), Caroline (Calabresa) e Tulio (Couto) para o Youtube, onde a atualização do cenário trash se dá pelo desejo desses amigos ficarem famosos com o videolog. E o cenário melhora, e muito, quando munidos dessa agilidade e da vontade de mostrar serviço, Bittar abraça o espírito gore, um gênero tão renegado no Brasil, e pinta seu cenário de vermelho.
Há uma certa subversão ao escolher um lugar com nome de Isaac Newton – um homem que viveu pela razão – e o próprio lugar ser uma escola infantil ser cenário de mortes, explosões de cabeças e uma série de profanações, algo que qualquer pai e mãe não quer que seus filhos vivenciem. Mas, crianças e adolescentes que todos fomos, sabemos como é libertador soltar um palavrão ou tentar encontrar pornografia em todo canto possível, um papel representado pela coragem – ou estupidez – de Daniel (Ueta) ficar na escola à noite para seguir os youtubers. Com a intenção de fazer piada e terror, algo inerente ao trash, e com isso conseguindo um pouco de valor, o filme se segura até metade.
O problema é depois. Toda aquela vontade de fazer um filme, ainda que fosse de baixo orçamento, some quando a história dá uma guinada para a escatologia. Se antes a trama chamava a atenção pelo sangue que não pode ser contido por um corpo humano, o filme se perde quando tenta ser um South Park filmado, onde o nojo somente pelo nojo não agrega e nem diverte. Tudo vem, como parece ser comum, de achar que um filme para ser bom, precisa ser longo. E depois da primeira hora de filme, não se surpreenda se você ou a pessoa do lado começar a olhar o relógio imaginando quanto tempo a experiência vai durar – e cada vez que você acha que isso vai acontecer, o diretor nos prende mais um pouco.
Na verdade, depois da cena onde Jack subverte todo o conceito de amizade ao deixar Tulio à própria sorte, o que faz o filme nesse ponto não ser uma cópia de Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984, Ivan Reitman) como poderia se imaginar, falando da desgraça que é o ser humano, sobra praticamente nada para mostrar. É só uma coleção de gritos, gestos obscenos empilhados e cenas grotescas que estão lá só para fechar 100 minutos de história. Além disso, a história não respeita o próprio universo criado, fazendo o poder sobrenatural mais poderoso da Loira do Banheiro ser deixado de lado por um motivo qualquer, uma clara falta de cuidado com o roteiro que parece ter sido montado sem planejamento – o que, pelo menos, faz paralelo com o plano de Jack e companhia.
Essa questão do roteiro se percebe principalmente na conclusão, onde tudo deveria se encaixar. Mas o arrastar que toma conta a partir do segundo até a conclusão da história cai numa correria necessária para acabar o filme – ainda bem – que embola toda a história. Existe um fato importante que se trata do ponto de virada, que deveria ser chocante. Mas é algo tão tenebroso que é impossível não se de conhecimento de alguém por ali – algo que se resolveria, como disse acima, se o não houvesse o problema da falta de carinho com o roteiro como um todo. Bastava uma conversa entre os alunos ou do diretor, por exemplo, para isso se resolver. Não é exagero nenhum que algumas linhas de diálogo, que não tomariam nada do tempo desse longo filme, poderiam ao menos resolver essa questão.
Pode ser que a intenção de Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro é não ser nada além de uma homenagem, algo que é prejudicado pela falta de momentos engraçados no roteiro e da pouca experiência de Bittar como diretor. Se fosse um projeto mais conciso, realizado no formato de um curta ou média-metragem, as gorduras poderiam ter sido aparadas e o dinamismo do começo seria a tônica do resto do filme. Isso não resolveria questões do diretor em sua cadeira, mas não evidenciaria demais seus erros. Se por um lado a produção vale ser assistida por não termos essa tradição no cinema nacional, por outro é uma experiência tão cansativa que a vontade é nem assistir os créditos engraçadinhos no final da projeção.
Elenco
Danilo Gentili
Léo Lins
Murilo Couto
Dani Calabresa
Bárbara Bruno
Pietra Quintela
Matheus Ueta
Sikêra Júnior
Ratinho
Jean Paulo Campos
Digão Ribeiro
Antonio Tabet
Marcela Tavares
Direção
Fabrício Bittar
Roteiro
Danilo Gentili
Fabrício Bittar
André Catarinacho
Fotografia
Marcos Ribas
Montagem
Nicholas Fettback
Bruno Nunes
País
Brasil
Distribuição
Galeria Distribuidora
Duração
100 minutos
Data de estreia
29/nov/2018
Os Exterminadores do Além são um grupo de quatro amigos picaretas que querem fazer sucesso no Youtube para provar que fantasmas existem e precisam ser exterminados. Eles colocarão a credulidade à prova ao serem contratados para investigar uma suposta aparição da Loira do Banheiro numa escola.
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