Com Amor, Simon | Crítica | Love, Simon, 2018
Com Amor, Simon é cheio de doçura e comparável com as grandes comédias românticas dos anos 1980, dessa vez dando atenção aos homossexuais.
Definitivamente, Com Amor, Simon é o filme que todo nós precisamos. Em primeiro lugar, é uma produção doce como pouco temos visto. E segundo, e mais importante, tem um potencial enorme de servir de empatia. Sem exageros, pode ser muito bem aquele tipo de filme que muda a opinião das pessoas, e não apenas reforça as crenças do direcionamento da história. Com certeza é uma carta para toda uma população homossexual ainda escondidos por variados motivos, mas lembra que existe muita gente boa por aí para dar um ombro amigo e apertar a mão para que o caminho não seja trilhado sozinho.
Assim como uma assinatura de despedida numa carta, Simon (Robinson) dirige suas postagens tanto para o ainda secreto Blue como para a audiência. O que quebra a monotonia que poderia ser essa narração – é algo pessoal, vindo do fundo do coração do personagem. Então, mais que explicar o que estamos vendo, os e-mails do protagonista servem para se explicar e até filosofar porque ele deveria se justificar. Quem tem amigos ou faz parte do guarda-chuva que é o LGBTQ+, sabe que não existe a necessidade de se assumir hétero – o que, se você nunca parou para pensar, é bem injusto com essas minorias. E traz uma das melhores piadas do filme.
Esse é um filme para jovens – em especial os jovens homossexuais, mas por consequência abrange também todo mundo. Tomando isso como uma missão, Berlanti engloba na família de Simon os pequenos desafios. Tanto Jack (Duhamel) quanto Emily (Garner) são bem abertos e receptivos à assuntos que deixariam os mais conservadores de cabelo em pé. Mas é na figura do pai de Simon que há aquela pequena trava, os pequenos machismos tão enraizados que parecem nada. E realmente são coisas aparentemente pequenas, frases curtas que não deixam Simon se soltar. O julgamento passa também pelo microcosmos que é a escola, onde pouco se fala e com apenas um rapaz gay se assumindo – alguém que atrai a atenção, mas poucas vezes defendido.
Caso alguém tenha alguma dúvida, esse é sim um filme romântico. Com alguns poucos clichês, modernizando o gênero. Imaginem só o que era – e muitos de nós passamos por isso – esperar dias ou semanas para ter uma carta respondida. Simon, sendo um jovem dessa geração, não consegue esperar cinco minutos. E não é todo o filme que consegue capturar essa visão e transmitir como é ser alguém diferente do espectro maior de espectadores. E é na montagem que entramos nesse mundo, com cortes rápidos, olhadas no relógio, tudo muito rápido e até desesperador até que a notificação de Blue apareça no e-mail de Simon. Aí sim conseguimos respirar com o protagonista.
Claro que toda a história de amor precisa de um conflito e, como costuma ser, acontece porque o protagonista toma decisão idiota. E essa bola de neve envolve tanto ele quantos os três mosqueteiros dessa produção – Leah (Langford), Abby (Shipp) e Nick (Lendeborg). Pelo menos, diferente de outros clichês, não é uma daquelas decisões que afeta diretamente e exclusivamente o interesse romântico do protagonista. E como esse é um amor mais puro, praticamente idealizado – afinal, Simon não sabe quem é Blue – a espiral de desespero que Simon entra é comparável com sua insegurança de não sair do armário: ele precisa continuar dentro para poder sair. Sim, não faz sentido – e deve ser assim que alguém que precisa se assumir deve se sentir.
Mas essa é uma percepção de um homem cis branco, e creio que a intenção da história é ensinar alguma coisa para pessoas como esse crítico. O que Simon passa é algo como estar numa peça – e não é à toa a escolha desse signo, colocando na própria narrativa que alguns alunos participem de uma adaptação teatral. Se a vida é como Shakespeare definiu, um mundo onde apenas atuamos, a vida de Simon e de tantos outros é uma atuação dupla, tendo que se equilibrar na chantagem de Martin (Miller) e não permitir que sua bolha exploda. Por já estarmos bem acostumados, sabe-se de antemão que isso não dará certo. Mas o que história faz aqui é colocar as peças em movimento – ou os atores da vida – e ver até quando essa situação se sustenta.
É verdade que entramos num turbilhão de emoções, pois o conflito entre o medo versus a felicidade dos outros é algo que nos divide. É muito fácil julgar Simon – e tantos outros da vida real – sem estar na pele dele. E é exatamente isso que a história faz. Os conflitos de Simon se tornam nossos conflitos, pois o diretor nos torna cúmplices do segredo dele. Além de Blue, e só mais tarde outras pessoas, só nós da plateia sabemos do peso que ele carrega logo no começo quando Simon diz “tenho um grande segredo”, mas não verbaliza qual é. E não é preciso ser nenhum gênio para chegar nessa conclusão.
Falando sobre deslocamentos, amores, segredos e até um tanto de cretinice, Com Amor, Simon é um dos filmes mais inspiradores dos últimos anos. E na esteira de Me Chame Pelo Seu Nome (Call me By Yor Name, 2017), a trama deixa para trás a parte sofrida de ser um jovem homossexual e troca por aquilo que simplesmente importa: o amor. Sim, um amor jovem, que ainda vai quebrar muito a cara, mas que merece a mesma liberdade garantida por aqueles que nunca precisaram declarar coisa nenhuma. A esperança que fica quando sobem os créditos é que a produção não seja importante somente para os jovens homossexuais, mas que mude a percepção rasteira e preconceituosa ainda enraizada na nossa sociedade.
Elenco
Nick Robinson
Josh Duhamel
Jennifer Garner
Katherine Langford
Alexandra Shipp
Jorge Lendeborg Jr.
Keiynan Lonsdale
Miles Heizer
Logan Miller
Talitha Bateman
Tony Hale
Direção
Greg Berlanti
Roteiro
Isaac Aptaker
Elizabeth Berger
Baseado em
Com Amor, Simon (Becky Albertalli)
Trilha Sonora
Rob Simonsen
Fotografia
John Guleserian
Montagem
Harry Jierjian
Duração
110 minutos
Simon é um jovem homossexual que ainda não se abriu sobre sua sexualidade para ninguém, até conhecer online o anônimo Blue. Mesmo mais confiante, Simon começa a ser chantageado e entra numa espiral de mentiras para que se seu segredo não seja espalhado.
Com Amor, Simon é cheio de doçura e comparável com as grandes comédias românticas dos anos 1980, dessa vez dando atenção aos homossexuais.
Definitivamente, Com Amor, Simon é o filme que todo nós precisamos. Em primeiro lugar, é uma produção doce como pouco temos visto. E segundo, e mais importante, tem um potencial enorme de servir de empatia. Sem exageros, pode ser muito bem aquele tipo de filme que muda a opinião das pessoas, e não apenas reforça as crenças do direcionamento da história. Com certeza é uma carta para toda uma população homossexual ainda escondidos por variados motivos, mas lembra que existe muita gente boa por aí para dar um ombro amigo e apertar a mão para que o caminho não seja trilhado sozinho.
Assim como uma assinatura de despedida numa carta, Simon (Robinson) dirige suas postagens tanto para o ainda secreto Blue como para a audiência. O que quebra a monotonia que poderia ser essa narração – é algo pessoal, vindo do fundo do coração do personagem. Então, mais que explicar o que estamos vendo, os e-mails do protagonista servem para se explicar e até filosofar porque ele deveria se justificar. Quem tem amigos ou faz parte do guarda-chuva que é o LGBTQ+, sabe que não existe a necessidade de se assumir hétero – o que, se você nunca parou para pensar, é bem injusto com essas minorias. E traz uma das melhores piadas do filme.
Esse é um filme para jovens – em especial os jovens homossexuais, mas por consequência abrange também todo mundo. Tomando isso como uma missão, Berlanti engloba na família de Simon os pequenos desafios. Tanto Jack (Duhamel) quanto Emily (Garner) são bem abertos e receptivos à assuntos que deixariam os mais conservadores de cabelo em pé. Mas é na figura do pai de Simon que há aquela pequena trava, os pequenos machismos tão enraizados que parecem nada. E realmente são coisas aparentemente pequenas, frases curtas que não deixam Simon se soltar. O julgamento passa também pelo microcosmos que é a escola, onde pouco se fala e com apenas um rapaz gay se assumindo – alguém que atrai a atenção, mas poucas vezes defendido.
Caso alguém tenha alguma dúvida, esse é sim um filme romântico. Com alguns poucos clichês, modernizando o gênero. Imaginem só o que era – e muitos de nós passamos por isso – esperar dias ou semanas para ter uma carta respondida. Simon, sendo um jovem dessa geração, não consegue esperar cinco minutos. E não é todo o filme que consegue capturar essa visão e transmitir como é ser alguém diferente do espectro maior de espectadores. E é na montagem que entramos nesse mundo, com cortes rápidos, olhadas no relógio, tudo muito rápido e até desesperador até que a notificação de Blue apareça no e-mail de Simon. Aí sim conseguimos respirar com o protagonista.
Claro que toda a história de amor precisa de um conflito e, como costuma ser, acontece porque o protagonista toma decisão idiota. E essa bola de neve envolve tanto ele quantos os três mosqueteiros dessa produção – Leah (Langford), Abby (Shipp) e Nick (Lendeborg). Pelo menos, diferente de outros clichês, não é uma daquelas decisões que afeta diretamente e exclusivamente o interesse romântico do protagonista. E como esse é um amor mais puro, praticamente idealizado – afinal, Simon não sabe quem é Blue – a espiral de desespero que Simon entra é comparável com sua insegurança de não sair do armário: ele precisa continuar dentro para poder sair. Sim, não faz sentido – e deve ser assim que alguém que precisa se assumir deve se sentir.
Mas essa é uma percepção de um homem cis branco, e creio que a intenção da história é ensinar alguma coisa para pessoas como esse crítico. O que Simon passa é algo como estar numa peça – e não é à toa a escolha desse signo, colocando na própria narrativa que alguns alunos participem de uma adaptação teatral. Se a vida é como Shakespeare definiu, um mundo onde apenas atuamos, a vida de Simon e de tantos outros é uma atuação dupla, tendo que se equilibrar na chantagem de Martin (Miller) e não permitir que sua bolha exploda. Por já estarmos bem acostumados, sabe-se de antemão que isso não dará certo. Mas o que história faz aqui é colocar as peças em movimento – ou os atores da vida – e ver até quando essa situação se sustenta.
É verdade que entramos num turbilhão de emoções, pois o conflito entre o medo versus a felicidade dos outros é algo que nos divide. É muito fácil julgar Simon – e tantos outros da vida real – sem estar na pele dele. E é exatamente isso que a história faz. Os conflitos de Simon se tornam nossos conflitos, pois o diretor nos torna cúmplices do segredo dele. Além de Blue, e só mais tarde outras pessoas, só nós da plateia sabemos do peso que ele carrega logo no começo quando Simon diz “tenho um grande segredo”, mas não verbaliza qual é. E não é preciso ser nenhum gênio para chegar nessa conclusão.
Falando sobre deslocamentos, amores, segredos e até um tanto de cretinice, Com Amor, Simon é um dos filmes mais inspiradores dos últimos anos. E na esteira de Me Chame Pelo Seu Nome (Call me By Yor Name, 2017), a trama deixa para trás a parte sofrida de ser um jovem homossexual e troca por aquilo que simplesmente importa: o amor. Sim, um amor jovem, que ainda vai quebrar muito a cara, mas que merece a mesma liberdade garantida por aqueles que nunca precisaram declarar coisa nenhuma. A esperança que fica quando sobem os créditos é que a produção não seja importante somente para os jovens homossexuais, mas que mude a percepção rasteira e preconceituosa ainda enraizada na nossa sociedade.
Elenco
Nick Robinson
Josh Duhamel
Jennifer Garner
Katherine Langford
Alexandra Shipp
Jorge Lendeborg Jr.
Keiynan Lonsdale
Miles Heizer
Logan Miller
Talitha Bateman
Tony Hale
Direção
Greg Berlanti
Roteiro
Isaac Aptaker
Elizabeth Berger
Baseado em
Com Amor, Simon (Becky Albertalli)
Trilha Sonora
Rob Simonsen
Fotografia
John Guleserian
Montagem
Harry Jierjian
Duração
110 minutos
Simon é um jovem homossexual que ainda não se abriu sobre sua sexualidade para ninguém, até conhecer online o anônimo Blue. Mesmo mais confiante, Simon começa a ser chantageado e entra numa espiral de mentiras para que se seu segredo não seja espalhado.
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