A Mulher de Preto | Crítica | The Woman in Black, 2012, EUA
A Mulher de Preto tem bons momentos no quesito sustos, mas falta ousadia à trama.
Com Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Janet McTeer, Sophie Stuckey e Liz White. Roteiro de Jane Goldman (X-Men: Primeira Classe), baseado no livro de Susan Hill. Dirigido por James Watkins (Eden Lake).
Existe uma relação de amor e ódio no cinema de terror. Há quem ache besteira pagar para ser assustado. Mas o princípio de qualquer filme é que você paga para ser enganado. “A Mulher de Preto” é um livro de 1982 e que já teve uma versão para TV em 1989. A história chamou a atenção de Jane Goldman, co-roteirista de “X-Men: Primeira Classe”. Mas não vi valer a pena a visita à casa de Eel Marsh. A história tem seus pontos de sustos, e aproveita bem o clima soturno do interior da Inglaterra do século XIX. Mas faltou um pouco mais de ousadia aos responsáveis. A principal é não criar uma dúvida se existe uma histeria em massa, ou se é realmente uma presença maligna na pequena cidade. E temos que falar da escolha Radcliffe. Sim, ele merece se distanciar do bruxo que o fez famoso, mas poderiam forçar isso um pouco mais na maquiagem e cabelos do ex-Harry. E, quem sabe, colocá-lo num filme onde ele não precisasse pegar um trem.
Não posso dizer que é culpa de Watkins e Hill. Li um resumo da história do livro, e da versão da TV. A história é mediana mesmo. Mas vamos ao filme, onde o diretor faz um trabalho competente, usando sombras como parte do cenário pra nos criar dúvidas se realmente vimos o que vimos. No oposto, usa luzes brancas bem fortes, em momentos metafísicos. Isso é bem explorada na cena inicial e durante os créditos de abertura. Quando conhecemos Arthur Kipps (Radcliffe) é de se notar que o preto parece engoli-lo. Desde todas suas roupas e acessórios que leva na bolsa de viagem e até no grande armário que fica atrás dele quando seu chefe lhe dá um ultimato no emprego. A jornada de Kipps não é das melhores: prenúncios com gritos, sonhos em vermelho, corvos e uma imensidão branca em volta da mansão Eel Marsh. Tudo combina com o estado de paranoia que o filme vai lhe impor. E aqui temos o velho clichê da cidade-que-sabe-o-que-acontece-mas-nã0-avisa-direito-o-estranho-que-não-é-bem-vindo… e não será o único clichê do filme, você vai ver.
As qualidades do filme ficam principalmente nos prenúncios. A mansão já é assustadora o suficiente, e é interessante ver que Kipps antes de subir até o segundo andar se depara com um busto de Aristóteles (ou algum outro filósofo), como dizendo que ali é a última visão de razão antes de entrarmos no domínio da loucura. A figura do corvo, diversas vezes relacionada à morte, e seu filhote morto também dão pistas do que enfrentaremos a seguir. E prestem atenção numa grande luz que quase cegará vocês. Também posso falar dos sustos que terão. Existem três ou quatro que valem a pena, os quais não usam a velha história de jogar alguma coisa na sua cara. E outros pontos positivos ficam pela atuação de Radcliffe e pelas tomadas de câmera. Notem que quando Kipps volta para a mansão depois de conhecer um pouco mais do que se passa ela cresce na tela, deixando o personagem realmente pequeno em relação ao que enfrenta. Os sons diegéticos também tem grande papel. Eles são bem produzidos pelo designer de som, e deixam os momentos tensos, principalmente um que se assemelha às batidas do coração. São momentos tensos e interessantes de serem notados.
Já os problemas do filme não ficam só pelos motivos que citei na introdução. A história em si é cheia de falhas e faltam muito explicações que os filmes paranormais abordam. E aqui seguem alguns spoilers. Não fica claro porque a presença de Kipps ativa a maldição. E como acreditar que o falecido filho dos Daily consiga se comunicar com a mãe se a Mulher de Preto tem a todas as crianças que ela levou. E por quê Kipps é tão obstinado a descobrir o que acontece, sendo que não é algo que condiz com sua profissão de advogado. Fim dos spoilers. Também certas decisões do diretor de fotografia destoa um pouco entre uma situação e outra, a mais irritante no minuto final do filme: num momento, está perfeita, condizente com a situação e até nos faz esquecer que aquele na tela foi Harry Potter. Mas no corte seguinte, volta pra o normalidade. E se um filme não fica ruim pelos dois minutos finais, eles conseguem abaixar a nota. Faltou muita coragem aqui. O final do filme para a TV ficou muito mais interessante.
E pra finalizar, tenho que deixar um aviso: como em todo filme de terror, eu sugiro que não seja assistido com muita gente. Não levem seus amigos. As pessoas tendem em rir de situações que se assustaram para disfarçar o medo que acabaram de sentir. E isso vai estragar a experiência do cinema. Acredite em mim, eu senti isso. E não foi a primeira vez. Infelizmente, a maioria dos presentes não eram fãs de cinema de terror, mas estavam lá só para ver o novo filme de Daniel Radcliffe. E agora vamos continuar torcendo que ele consiga fazer mais no cinema.
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