A Guerra dos Sexos | Crítica | Battle of the Sexes, 2017
Além de ser um ótimo filme, A Guerra dos Sexos levanta uma bandeira e por isso ganha mais importância.
Estamos numa época que algumas produções afirmam o óbvio. Se fosse uma passeata como a marcha para a ciência, A Guerra dos Sexos levantaria uma placa dizendo não acreditar que em 2017 ainda é preciso pedir igualdade de gêneros e pelos direitos dos LGTBQI (desculpem se me engano no acrônimo). O filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris pode ser visto importando mais pela sua mensagem do que o jeito que é feito, mas isso não impede a dupla de trazer um filme com momentos empolgantes, doces e divertidos enquanto escancarara uma faceta que nos parece muito comum, mesmo passadas quatro décadas.
A produção poderia ser usada como cartilha, inclusive, pois Billie Jean King (Stone) representa a maioria dos pesos impostos às mulheres – ainda que a personagem verdadeira não tenha passado exatamente por tudo isso. Ela vive num mundo que desrespeita sua capacidade com desculpas biológicas num mundo dominado por homens velhos, por piadistas e pelo conservadorismo vindo de todos os lados. Então, apesar do ritmo acelerado e muitas vezes divertido da trama, é interessante notar como Faris e Dayton isolam Billie Jean nos seus momentos mais desafiadores, seja antes de um grande jogo ou na questão dela se descobrir lésbica e não poder expressar essa sua parte.
E para não cair na mesma armadilha que tantos filmes e outras mídias fazem ao representar as mulheres, diretora e diretor não permitem que Bobby Rigs (Carell) seja representado bidimensionalmente: sim, ele é um escroto sexista, mas isso serve como uma imagem do personagem, algo que não representa como ele é em casa, onde é praticamente submisso à esposa Priscila (Shue) e um pai amoroso. O que acontece é que é tudo um jogo de como a publicidade aprisiona os personagens. É óbvio que é mais fácil para Bobby manter as aparências, pois a sociedade não vai cobrá-lo, do que para Billie Jean com seus conflitos internos e externos – se provar com uma grande tenista e poder sair do armário – mas é interessante seguir esses antagonistas.
À primeira vista, poderíamos nos apressar em dizer que essa é uma história simples; porém, ela é somente na superfície. A produção tem mais importância pela causa, pela bandeira que carrega, sendo inclusive uma manifestação político-social. Mas Faris e Dayton usam também de belos simbolismos para isso, como a mis-en-scene do covil sombrio e sério de Jack Kramer (Pullman) quando ele nega um prêmio igualitário para o torneio feminino de tênis, as discussões similares nos banheiros masculino e feminino – o que levanta a questão de que se existe mesmo uma separação entre universos dos gêneros. Há também momentos doces para apreciarmos como o mesmo batom (um símbolo de desejo) que Bille Jean e Marilyn (Riseborough) compartilham e um pouco antes, quando a cabeleira corta a franja da tenista, clareando sua visão.
Também temos que congratular Faris e Dayton nas questões técnicas da produção que nos colocam nos anos 1960 seja por meio da fotografia com seus tons amarelos e marrons assim como o grão – algo que tem feito tanta falta no digital – ou detalhes como não esconder que um dos patrocinadores da Liga Feminina foi uma conhecida empresa de cigarros. E tanto para quem não conhece a história como aos que estão familiarizados com ela, a reconstrução dos jogos é fidedigna, além de nos colocar dentro da quadra por meio de sons de saques, batidas e de bolas e das respirações típicas dos jogadores – o que torna o filme atrativo por vários motivos.
Se há algo simples na construção do roteiro é que já vimos alguma coisa assim antes. O jeito de Billie e Bobby treinarem e o modo que isso é representado em tela lembra muito o jeito que Rocky e Apollo faziam em Rocky: Um Lutador (Rocky, 1976, John G. Avildsen) – enquanto estava tão confiante à ponto de fazer piadas com seus treinos – jogando com animais, usando panelas – a outra estava dando sua vida nos treinos, pois ela sabia que era uma oportunidade única. E assim como o filme de 1976, esse é um drama extremamente humano, então Faris e Dayton conseguem fazer que nos importemos com Billie Jean nas suas dores físicas e emocionais, enquanto acompanhamos sua evolução.
E apesar da história por baixo do ritmo contagiante, há um quê de simplicidade em Guerra dos Sexos: o que se pede, já há muito tempo e a sociedade sexista finge que não quer ouvir, é que as mulheres não sejam subestimadas; e, claro, pedem igualdade. E isso não se resume apenas ao fato de Billie Jean ser mulher. Há um personagem que em determinado momento do filme diz à protagonista “Um dia, seremos livres para ser quem somos…mas hoje, dançamos“. Então há também uma tristeza implícita na morosidade das mudanças. Por enquanto, a produção celebra a figura de Billie Jean e sua importância, celebrando um passo dado. Amanhã é hora do próximo.
Elenco
Emma Stone
Steve Carell
Sarah Silverman
Bill Pullman
Alan Cumming
Elisabeth Shue
Austin Stowell
Eric Christian Olsen
Direção
Jonathan Dayton
Valerie Faris
Roteiro
Simon Beaufoy
Fotografia
Linus Sandgren
Trilha Sonora
Nicholas Britell
Montagem
Pamela Martin
País
Estados Unidos
Reino Unido
Distribuição
Fox Searchlight Pictures
Duração
121 minutos
O filme dramatiza o caminho até o confronto entre a tenista Billie Jean King e Booby Rigs . Também abre a discussão da descoberta da sexualidade da tenista e um grito pelo igualdade de gêneros e direitos das minorias.
[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema
• Assine a nossa newsletter!
Apoie o nosso trabalho!
Compartilhe!
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Mais