38ª Mostra de Cinema de São Paulo | Especial | Dia 4
Mais três dias de 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo desta vez com os filmes Inseguro, Pare ou Eu Sigo em Frente (ambos da França) e O Último Trago (México). E você pode rever a cobertura dos dias 1 e 2 e 3.
• Inseguro (Qui Vive | Dir Marianne Tardieu | 2014 | França | (Sinopse e exibições)
Dizem que o trabalho enobrece o homem e, portanto, o trabalho honesto não é ruim. Ele pode ser difícil, mas por mais humilde que seja, ele faz parte de uma estrutura maior. Inseguro trata da não aceitação dessa visão. Chérif (Reda Kateb) é filho de um pai perfeccionista, que trabalha como segurança em uma loja de departamentos, mas que sonha em ser enfermeiro. Entende-se o incômodo do personagem, pois ele está cuidando de um patrimônio, ao invés de vidas. E os jovens que vagabundeiam pelo shopping são uma lembrança constante dessa situação. Eles não chegam a ser bullies, mas não tendo o respeito dele, e nem do chefe, ele sente que o trabalho é pouco reconhecido.
Vemos os primeiros sorrisos de Chérif quando encontra uma turma de crianças que ele cuidava quando era monitor infantil o que é, pelo menos indiretamente, cuidar de vidas. Quando ele conhece Jenny (Adèle Exarchopoulos), a vida parece melhorar: ele é aprovado na parte escrita da prova para enfermeiro e os dois começam a se relacionar.
O diretor mostra Chérif como um homem esforçado e tranquilo. Vemos livros folheados e jogados no chão, ou no colo dele enquanto caiu no sono, ou com eles nas horas vagas do trabalho. Mas parece que o seu nome – Xerife – se torna um peso, e ele precisa se defender dos jovens que lhe tiram a paciência, e que fizeram o sentir mal na frente de Jenny, apesar dela gostar menos da reação dele do que a provocação.
O filme tem momentos singelos, como a animação feita por crianças que representam Chérif, os amigos variados do protagonista (representando a França atual) e a busca pela responsabilidade de cuidar de uma vida. Também é triste, representado pela ajuda financeira que Chérif recebe da mãe, enquanto o amigo Dedah (Rashid Debbouze), que cresceu com ele, está dirigindo um carro importado, além de uma tragédia anunciada.
E durante a reconstituição da cena do crime, pensamento passam pelas cabeças de Chérfi, e se as coisas poderiam ser diferentes. É um conta sobre solidão e oposto, e como a vida nos puxa para certos caminhos que não queríamos (6/10).
• Pare ou Eu Sigo em Frente (Arrête ou Je Continue | Dir Sophie Fillières | 2014 | França | Sinopse e exibições)
Um retrato um tanto engraçado e um outro tanto dramático de um casal que não se completa mais como antes. O casal Pomme (Emmanuelle Devos) e Pierre (Mathieu Amalric) chegam a tentar reacender a chama de quando eram mais jovens. Porém, eles não se entendem mais, e tampouco se completam. É uma dramédia explícita quando o marido corre para pegar um ônibus e não percebe que a esposa está longe.
A diretora mostra esses problemas por meio de uma garrafa de champagne que estoura no congelador – mostrando que nem as coisas mais simples dão certo – e nas cores do figurino, apostando constantemente no azul e no vermelho. É interessante notar que Pomme, ao ficar sozinha na floresta, adota ambos os tons por um necessidade de se completar.
O filme flerta com um nonsense bem regrado, como no diálogo de Pomme com um coelho para que este se matasse, se esfolasse e se cozinhasse sozinho por causa da fome. E, claro, num mundo real, qualquer um teria chamado a polícia. Mas nessa representação do fim do casamento, Fillières é menos didática, e prefere deixar muito por nossa conta. Por exemplo, quando Pomme ajuda o bebê cervo sair do buraco, é ela que faz o mesmo.
A trilha sonora e o clima lembram ligeiramente Na Natureza Selvagem, assim como outros temas com a revolta da protagonista ao se revoltar momentaneamente contra o recém-estilo de vida recém-adotado. O ritmo nesse momento se arrasta até a conclusão, prejudicando a narrativa (4/10).
• O Último Trago (En El Último Trago | Dir Jack Zagha Kababie | 2014 | México | Sinopses e exibições)
Vá assistir esse filme com seus amigos. O road movie mexicano que foca nos idosos é um dos melhores filmes dessa Mostra. Mostrando conversas de bar, promessas feitas, amizades e amor, é um foco diferente que estamos acostumados à ver nos filmes de aventura. Guardadas as devidas proporções, é um Goonies octogenário.
O filme lida também com tragédias, começando pela morte de Pedro (Pedro Weber ‘Chatanuga’), que pede aos amigos Emiliano (José Carlos Ruiz), Benito (Eduardo Manzano) e Augustin (Luis Bayardo) para que eles levem o original da letra de uma canção conhecida no México que ele ganhou do autor. Claro que a morte é óbvia, mas funciona com a comédia. E por serem bem idosos, os três tiveram a suas doses excessivas de tragédia: Emiliano perdeu a filha e a esposa sofre de Alzheimer, e não reconhece mais o marido. Tanto Benito quanto Augustin perderam as esposas; o primeiro, inclusive, é assombrado pelo fantasma da falecida; enquanto o segundo tem que lidar da possibilidade de ser expulso da própria casa porque a nora quer uma sala de ginástica. Benito chega a dizer que eles e os amigos são anomalias.
A história é recheada de diálogos engraçados desde o começo, e você vai identificar naqueles velhinhos a mesma conversa de bar que você tem com seus amigos, inclusive a tiração de sarro. Pedro diz que está triste por saber que o filho e homossexual – convenhamos, uma postura normal para uma pessoa dessa idade – e os três amigos não perdem a oportunidade de rir com amigo, não só para tirar sarro, mas para quebrar um pouco a preocupação do amigo.
Para preencher a história, o diretor enche a narrativa com muitos detalhes que dão corpo à narrativa. Vejam que Dolores, a esposa fantasma de Benito, não chega a tocar o marido. Ou quando ele é hospitalizado por quase ter um ataque do coração depois de tentar transar com uma prostituta, o diretor foca nos pés dele, mas o ângulo sugere outra coisa. As histórias repetidas que os senhores contam, as críticas ao governo, e por nos apresentar personagens tão tridimensionais e tão simpático, esse é um filme que deixará seu coração mais leve. Além de deixar uma mensagem importante que serve para muitos aspectos da vida: Não tem que se chegar primeiro, mas deve-se chegar.
E seja franco, quem mais colocaria velhinhos num bordel (10/10)?
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