Uma Longa Queda | Crítica | A Long Way Down, 2014, Reino Unido

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Uma Longa Queda e uma comédia que acerta mostrar que todos tem problemas, e uns podem ser mais perturbados que outros, mesmo face ao suicídio.

Uma Longa Queda

Com Toni Collette, Pierce Brosnan, Imogen Poots, Aaron Paul e Sam Neill. Roteirizado por Jack Thorne, baseado no romance de Nick Hornby. Dirigido por Pascal Chaumeil.

7/10 - "tem um Tigre no cinema"Nem todos os filmes podem ser resumidos em uma palavra. O que não é necessariamente bom, tampouco ruim. Para Uma Longa Queda, a palavra é “aconchegante”. Essa comédia acerta em mostrar que todos tem problemas, e uns podem ser mais perturbados que outros, mesmo face ao suicídio. Pode ser um filme que mudará a sua vida, ou só para assistir em um reprise. É uma produção doce, engraçada e que trará reações diferentes, e sem consenso algum.

Em uma noite de passagem de ano, Martin (Brosnan) resolve se suicidar. Quando está pronto para se atirar do alto de um prédio, Maureen (Collette) aparece no mesmo lugar para fazer a mesma coisa. Em meio à discussões, juntam-se à eles Jess (Poots) e J.J. (Paul) com a mesma intenção. Uma série de eventos os fazem postergar o ato, e os quatro acabam virando alvo da mídia sensacionalista. Dispostos a virar o jogo, eles se unem para tentar acabar com assédio e, quem sabe, ganhar um pouco de dinheiro com isso.

A maior qualidade do diretor é nos fazer rir do assunto tão sério. O suicídio é uma patologia da nossa sociedade, e que deveria ser visto de um prisma diferente. Bem da verdade, nos sentimos um pouco culpados de rir de Martin enquanto está se equilibrando na escada, ou da sua discussão com Maureen sobre o assunto. Aquele é um momento que, na teoria, é tenebroso. É nesse humor sombrio que começamos a gostar dos personagens. Mesmo de Jess, que tentava se atirar com convicção. Ali se cria o vínculo entre ela e Martin – tanto um quanto o outro estavam decididos à tirar a própria vida, com Martin carregando uma escada por vários lances de escada e Jess sair correndo em direção à beirada –, que se espalhará entre os quatro. E vendo o desespero da jovem, Martin toma as dores dela como um pai. Ainda que perceba isso tardiamente, quando vai buscá-la em uma festa rave. Relutantemente, ele a salva e ali se forma uma estranha ligação/família. Mesmo que seja pouco provável que quatro pessoas queiram se jogar do mesmo lugar ao mesmo tempo, mas são concessões que damos à comédia.

O diretor decide por contar o resto da história em quatro ponto de vistas diferentes, acompanhados por narrações off, que no episódio de Martin são irritantes, aparentemente intermináveis e óbvias no estilo “eu não imaginava que iria encontrar aqueles três de novo. E então…”. Quando centrada nos outros, as narrações diminuem e funcionam melhor. Ainda assim é muito falatório.

A divisão em capítulos serve para conhecermos melhor os personagens e nos importarmos com eles. Cada um tem a sua pequena tragédia, e mesmo no caso de Martin, que traiu a esposa e foi preso – injustamente, diga-se de passagem – o diretor procura não julgar. Assim como Jess, que tem uma personalidade que varia entre o irritante e o doce; Maureen, que é uma mulher com um grande fardo – que ela não vê desse jeito – e J.J., talvez o mais perdido de todos.

E ali vemos os universos de cada um. Jess é fechada: reparem na cena em que enquanto caminha fica olhando os próprios pés, e para a bagunça que é seu quarto, assim como a sua vida – interessante a cena em que ela vai para o lugar onde a irmã foi sequestra e, ao fundo, o diretor mostra um pub chamado White Rabbit (algo vindo de “Alice no País das Maravilhas”). Maureen toma praticamente todo seu tempo à cuidar do filho com paralisia cerebral, e por isso tem medo de se distanciar dele – ela tinha ideia de que seu suicido daria conforto financeiro ao rapaz – e assiste à comédias na TV, para dar um pouco mais de graça à sua vida. J.J. é o que leva o momento com mais tranquilidade, apesar de ser, aparentemente, o que deveria estar mais desesperado – mas a mentira é como um câncer, vai consumindo. A narração de Martin é a mais desinteressante. Ele fala tanto das filhas e da ex-esposa, mas elas não participam da narrativa – não até o fim, pelo menos.

Uma Longa Queda - pôsper brasileiro

Há grandes acertos em Uma Longa Queda. O toque de humor britânico pode ser um desafio, mas as risadas vem fácil, assim como nos conectarmos à essas pessoas, mesmo que a ideia de suicídio esteja longe de nossas mentes. Suas dificuldades podem ser as mesmas, parecidas, ou nada similares com as deles. Porém, quando Maureen se surpreende ao perceber que amizades podem ser formadas depois de tanto tempo, o diretor e roteirista dizem à que vieram. Perto do desfecho, Martin complementa essa percepção ao mostrar a J.J. que essa família – por assim dizer – pode não ser a ideal, mas é o melhor que eles podem ser. Isto deveria ser o suficiente: laços se criam e, sendo toda a vida importante, vale a pena nos segurarmos, nem que seja nesse fiapo.

Veja abaixo o trailer de Uma Longa Queda:

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".