Uma Família Feliz | Crítica | Happy Family, 2017, Alemanha

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Pode ser que a protagonista manteve sua alma, mas Uma Família Feliz nunca teve uma para apreciarmos.

Elenco: Emily Watson, Jason Isaacs, Nick Frost, Jessica Brown Findlay, Celia Imrie, Catherine Tate, Ethan Rouse, Jessica McDonald | Roteiro: David Safier, Catharina Junk, Benedikt Niemann, Kirstie Falkous, Jens Benecke, Matthias Parchettka | Baseado em: Happy Family (David Safier) | Direção: Holger Tappe | Duração: 96 minutos

O pior de uma animação que já sai do estúdio com cara de ser muito parecida com outra que envolve vampiros e mais monstros é ser sem graça. Uma Família Feliz é claramente pensada para os mais novos por sua inocência e lições de moral, mas falha miseravelmente no quesito comédia ao modernizar personagens clássicos inserindo tons de filmes de super-heróis e fazendo piadas com arrotos e flatulências. Mesmo que intenção fosse de fazer o entretenimento o mais raso e direto possível, a produção falha pela falta de dinâmica, conclusões que vem de lugar nenhum e um roteiro pessimamente desenvolvido.

A questão do dinamismo já é percebida na introdução dos personagens. Para um filme infantil, são muitos minutos tomados para a introdução de Drácula (Isaacs) no seu castelo, na esperança que seus morcegos-asseclas, algo como os Minions, façam alguma coisa realmente engraçada. Com exceção de Emma (Watson, dublada no Brasil por Juliana Paes), que entendemos bem rápido que é desastrada e azarada – tanto que disca números a mais a ponto de ligar para a Transilvânia –, todo o resto da família toma um tempo desnecessário, mostrando a inexperiência dos seis envolvidos no roteiro, do diretor e do montador para fazer que a história nos seja cativante. E se com apenas dez minutos de projeção o sono já te toma, o resto é quase torturante.

Podemos até levar em conta que o visual desse Drácula é um destaque da narrativa ao não se inspirar na figura clássica do personagem. Ao contrário, esse senhor dos vampiros se atualizou com o tempo. Na verdade, ele é futurista como um supervilão, com seu smartphone de vidro, um sistema de som moderno e é cheio de gadgets (botas de propulsão, um jato supersônico e um traje que o protege da luz do Sol). Ele tem até um plano de destruição global, que o coloca na mesma esteira de outros vilões com temperamento parecidos. E para aplacar a questão da alimentação pouco ortodoxa para audiências menores, esse Drácula usou seus séculos de tempo livre para inventar uma pílula que tira a sede por sangue humano.

Da mesma maneira que algumas franquias animadas, que geraram mais continuações que deviam, e deram chances à quem era da equipe técnica, o roteiro adicional do filme foi escrito por profissionais do cenário alemão de animação (a dublagem inglesa é para aumentar o alcance da produção) e nota-se aí a falta do cuidado. Por exemplo, quando a família vai embarcar numa viagem para rncontrar a bruxa que os amaldiçoou, Max (Rouse) comenta que a mãe não poderia sair no sol pelo fato dela ser uma vampira. Mas os roteiristas esquecem que ela teve que andar ao ar livre até a van que os levou até o aeroporto. Pior, Max, por ser o inteligente da família, pula em conclusões que vem de lugar nenhum: como ele sabe que a mãe é uma vampira com alma (algo que só Drácula sabia), e a louca fórmula de água benta é um mistério.

Aliás, na tentativa de não ofender ninguém, o filme também se perde. Então religião não é citada, e a criação de água benta passa por um processo químico ao invés de precisarem de um líder religioso, usando um item de uma religião já deixada para trás. E deus nos livre de ver alguém chupando sangue para se alimentar. E na sua bagunça de ter um número grande de gente escrevendo, a história se permite uma leve insinuação sexual quando Frank (Frost) chega num resort no meio de um deserto no Egito. Não é mérito julgar se isso é bom ou ruim, mas alguns elementos clássicos poderiam ser mantidos com um pouco mais de atenção ao que estavam produzindo.

Porém, é imperdoável como a história é esticada para que o roteiro passasse da duração de um especial para TV. Nos seus longos 90 minutos – pode parecer pouco, mas não é o caso – a história é alongada quando Baba Yaga (Tate) manda a família para o meio de um deserto no Egito. A parte é tão problemática que quando um se separa, o roteiro não consegue mostrar uma narrativa distinta que funcione para cada um. Em primeiro lugar, não dá para acreditar que a amiga de Emma que foi deixada para trás fica tricotando com Baba Yaga ao invés de resgatar os amigos do meio do deserto.

E aí que Emma se torna a pior mãe do mundo, e talvez a mais desligada. Poderíamos até aceitar que, agora transformados em monstros, a família não passaria necessidades fisiológicas humanas como precisar de água. No entanto, eles sentem calor e sede e por isso é impossível acreditar nas atitudes dela quando diz à Drácula que os três estariam bem sem ela, mesmo perdidos no meio do deserto. E ainda estando lúcida, achar que Drácula seria uma boa pessoa? Sem querer dar aula de literatura para ninguém, ele é O Drácula. Na verdade, a única personagem sensata é Sheila (McDonald) que num relance de perspicácia faz um pergunta óbvia quando vão enfrentar o monstro em seu castelo.

Fora o fato de ser muito bem feito – as cores e as iluminações das cenas parecem pinturas de tão bonitas – Uma Família Feliz poderia ser um daqueles filmes que vão direto para home-video e que caem naquelas bacias das lojas de departamento junto com outras animações vendidas baratas. O descaso com a história é que enterra o filme e não há um apelo cômico sequer, nem mesmo para quem ainda é muito jovem. Os mais pequenos irão se incomodar com um filme que não acaba e os mais velhos irão se desligar nos primeiros minutos com essa produção que poderia vir acompanhada com algumas cápsulas de cafeína para tentar mantê-los acordados.

Uma Família Feliz | Trailer

Uma Família Feliz | Pôster

Uma Família Feliz | Cartaz nacional

Uma Família Feliz | Galeria

Uma Família Feliz | Sinopse

Tudo que Emma quer é um tempo de qualidade com família, sem que Frank esteja sempre cansado do trabalho, e que os filhos não briguem. Nessa infelicidade, ela é amaldiçoada por um feiticeira por ordens de Drácula, que se apaixonou por Emma. Agora a família tem que se unir para desfazer o feitiço enquanto aprendem a se amar novamente.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".