Sete Minutos Depois da Meia Noite | Crítica | A Monster Calls, 2016, Espanha-EUA-Reino Unido
Sete Minutos Depois da Meia Noite é uma experiência dura de ser encarada e exatamente por isso que é tão importante ser vivida.
Elenco: Sigourney Weaver, Felicity Jones, Toby Kebbell, Lewis MacDougall, Liam Neeson | Roteiro: Patrick Ness | Baseado em: A Monster Calls (Patrick Ness) | Direção: J. A. Bayona (O Impossível) | Duração: 108 minutos
Como seres humanos, às vezes gostamos de pensar que somos de algum jeito especiais: o povo escolhido, a nação abençoada por Deus, os melhores do mundo. Essas são, no entanto, fugas da falibilidade da vida. Buscamos nos esconder em coisas como a arte de coisas que não há escapatória, até das mais naturais como a morte. Sete Minutos Depois da Meia Noite coloca essa fuga em termos simbólicos, representado por um gigante que a passos largos se aproxima de você cada vez mais, algo tão grande que eventualmente não poderemos sequer desviar os olhos, numa trama profunda e melancólica que é tão forte quanto os braços do personagem que sai da terra para fazer que encaremos a nossa própria complexidade de frente.
Parece inerente ao ser humano temer tudo o que não conhece – e a sociedade está cheia de exemplos nas suas mais variadas camadas. No entanto, o medo da morte parece ser mais comum, ainda que muitos lugares ela seja encarada com naturalidade. Prova disso são as variadas pesquisas que tentam prolongar a nossa vida indefinidamente, seja num nível biológico ou transcendental. Posto de lado as questões filosóficas, Conor (MacDougall) vive com um peso que alguém tão jovem não merecia. A doença da mãe (Jones) lhe traz pesadelos que envolve uma igreja, um cemitério, gritos e a ausência de uma conclusão. Cada vez que Conor acorda ele não quer saber de seus sonhos, o que desperta o Monstro (Neeson), um ser Elemental e milenar que acompanha a humanidade a eras.
O Monstro do Freixo é uma metáfora para a realidade, por mais fantástico que esse ser seja. Aos poucos ele vai trazendo a realidade para Conor por meio de três histórias. Para traduzir visualmente essas diferenças, mas de modo sutil, Bayona começa com papel e aquarela. O conto do príncipe, que ocorre a centenas de anos atrás, passa pela mente do jovem tomando forma apenas pelas pinceladas que passeiam no papel. Até então é apenas uma história com uma lição que nada tem a ver com contos de fadas. Conor se sente revoltado com o resultado, mas o Monstro apenas aponta que a humanidade e tão complexa e contraditória que nem sempre é possível entende-la.
Conor, dividido nesse mundo entre não ser muito novo nem muito velho, carrega um peso nos ombros tão grande que é quase uma tortura. Suas frustações são exprimidas tanto em violência contida – por permitir os ataques de um colega maior e mais velho na escola – quanto reprimida. É na segunda história que essa característica desperta. Para traduzir isso em imagens, Bayona começa o conto do Monstro pelo mesmo jeito que o anterior, mas introduz elementos 3D e cenários realistas que dessa vez tem consequências no mundo real. Aos poucos, com o desfecho se aproximando, a realidade vai batendo à porta de Conor, culminando na terceira história que se passa totalmente no mundo físico.
A revolta de Conor é compreensível e bem mais interessante ao percebemos a nuances desse estado. Perdido e invisível no sentido metafórico – um pai distante, uma avó (Weaver) que dá ordem expressas para que ele não toque em nada enquanto estiver na casa dela – o modo do jovem se expressar o coloca em situações que, normalmente, ele seria punido de algum jeito. É um grito contido que só é liberado em seus pesadelos e que o Monstro vem para fazê-lo entender. A verdade é que o filme é tão cheio de nuances e tão poético que começa a ficar cada vez mais difícil de analisar temas sem entrar no território dos spoilers. E muito deve ser guardado para o filme.
Nenhum de nós gosta de viver em dor e admitir isso pode ser tão doloroso quanto. Existe uma falácia que como é bela a verdade, mas existem verdades que preferimos morrer a admitir. E o estranho, ou complexo, é que admitir também significa morrer um pouco. De certa maneira a morte está presente à nossa volta e perceber isso pode ser tão devastador como uma tortura física e queremos nos livrar dela de qualquer jeito. É duro chegar a essa conclusão e se escrever sobre isso não é fácil, vivenciar é pior ainda. E como todos nós já passamos por perdas significativas na nossa vida, em algum momento iremos nos identificar com a narrativa de Conor.
Sete Minutos Depois da Meia Noite tenta por meio de diálogos, metáforas, movimentos de câmera e fotografia traduzir essa loucura que é a vida e as ações complexas e contraditórias que nós somos. Assim como não é fácil fazer isso, tampouco é fácil expressar em palavras. É o típico caso que é o sentir é tão forte que extrapola os limites da razão. O que Bayona e Ness pretendiam era passar uma miríade de sentimentos – doçura, raiva, ódio – em alguns poucos minutos que durante a sessão parecemos a ponto de explodir – aliás, é o sentimento que passo enquanto escrevo essas linhas – para depois tentar nos acalmar e aceitar esses desígnios que só seres humanos têm entre risadas e choros.
Sete Minutos Depois da Meia Noite | Trailer
Sete Minutos Depois da Meia Noite | Pôster
Sete Minutos Depois da Meia Noite | Imagens
Sete Minutos Depois da Meia Noite | Sinopse
“Sete Minutos Depois da Meia Noite conta a incrível história de um garoto que se sente invisível. Connor tem uma vida cheia de problemas, a mãe (Felicity Jones) com câncer, a avó (Sigourney Weaver) que não gosta muito dele, um pai ausente (Toby Kebbell) e os colegas de escola não o deixam em paz. Seu único amigo é um monstro-árvore (Liam Neeson) com quem se encontra todas as noites para contar e ouvir histórias”.
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