Pantera Negra | Crítica | Black Panther, 2018
Pantera Negra já era um marco antes mesmo de estrear – e mesmo não sendo o melhor do Universo Cinemático Marvel, é o mais importante.
Para atrair um público já acostumado com uma fórmula, Pantera Negra se espelha em outros filmes do Universo Cinemático Marvel: ação, doses de diversão e um vilão que é a antítese do herói nos seus princípios. Porém, passada essa primeira camada, o filme é um marco pela escalação do diretor, roteirista e elenco predominantemente negro, além de seu teor político. Isso mostra uma preocupação do estúdio em estar atento às mudanças que nossa sociedade passa e precisa, algo que é, acima de tudo, uma posição e uma afirmação. É cultura pop, mais palatável, sem dúvidas. Mas devemos considerar para quem é a mensagem, um público jovem que está ligado às mudanças e, com incursões mais simples, provavelmente irá buscar voos mais altos.
Sendo a África o berço da humanidade, é justo colocar, nem que seja objeto de imaginação – ou uma justiça histórica – Wakanda como a joia do continente. T’Challa (Boseman), o herdeiro do trono e do manto do Pantera Negra, é o personagem mais complexo do Universo Marvel nos cinemas – ele não é apenas um herói, ele tem responsabilidade com toda uma nação. A trama é baseada na oposição entre guerra e paz e isolamento e abertura. Como Pantera Negra, ele é uma peça de ação naquele tabuleiro, mas precisa de equilíbrio, algo que ele experimenta com Nakia (Nyong’o), um efeito sumarizado no primeiro ataque de T’Challa a um comboio. Lá, a jovem espiã de Wakanda segura o braço forte do monarca para que ele não ataque um personagem que segurava uma arma por um motivo que não compreendia.
É importante também marcar o peso das mulheres nessa sociedade igualitária, onde qualquer um poderia desafiar o então príncipe pelo trono. A Guarda Pessoal do rei é composta de mulheres, com Okoye (Gurira) o braço forte dessa guilda, Nakia tem a missão de expandir os horizontes de T’Challa, e Shuri (Wright) é a mente mais brilhante do país. Alguém poderia perguntar qual é o motivo de uma guarda estritamente feminina, e a resposta é que tratamos de ficção, e ela serve para tudo, inclusive para declarações, e aqui não poderia ser mais clara. O rei é um personagem forte fisicamente, mas tem como guardas pessoais mulheres que aguentam o tranco, além de ser apoiado por outra que é realmente o cérebro da equipe. Assim como o resto do filme, é tudo uma questão de posicionamento.
O universo de músicas, cantos, pinturas tribais e vestimentas de cores vivas, refletido na fotografia de Rachel Morrison – algo que quebra a escuridão das lentes 3D para quem optar pelo formato – representam vários povos africanos. Existe um senso comum e de pouca aproximação histórica que a África é um grande bloco, no máximo divido ao meio, e a escolha do casting e do figurino servem para quebrar essa percepção, mesmo que a trama foque em Wakanda. Assim como o poder escondido do país, grande e multicultural é a África, algo que Nakia sabe e por isso pede que T’Challa mude a maneira de encarar o isolacionismo de seu país.
E depois de bastante tempo, a Marvel apresenta um vilão descente. Algo que, em geral, é o ponto fraco dos filmes do estúdio. Erik “Killmonger” Stevens (Jordan) é alguém forjado por uma situação social, diferente de seres cósmicos e titãs loucos com planos imorais. Como estudo de caso, ele é o típico rapaz negro crescendo nos EUA abandonado pelo sistema – e não estamos falando apenas do governo estadunidense – que serviu por um tempo para a CIA. Como ferramenta, ele se tornou aquilo que era esperado dele. Não é a primeira vez que a analogia Martin Luther King e Malcom X é usada, mas é a que melhor funciona para explicar a relação entre T’Challa e Erik.
Mesmo com pouco tempo, o jovem que marca sua pela a cada morte, justificando que seria por um bem maior, é um personagem com profundidade. Mais que marcas físicas, suas cicatrizes são da alma, uma jornada que o deforma, mas não ao estereótipo do homem da cicatriz, tanto usado para reforçar que um personagem é mal. Pelo contrário, Erik é responsável por vários suspiros pela sua beleza e seu discurso convence o suficiente para atingir gente ferida, como W’Kabi (Kaluuya). Com tantas injustiças, é fácil semear o ódio com uma máscara de justiça – curiosamente Killmonger usa uma por pouco tempo.
Falar das coreografias de luta já é bem lugar-comum – afinal, é o mínimo que se espera de uma superprodução – mas é importante ver como o desafio de T’Challa antes de ser coroado serve de prólogo para seu próprio reinado: força e honra, qualidades que serão postas à prova durante uma crise que se segue, uma em face ao peso da coroa, das responsabilidades e do passado, um fardo de tradições pavimentado não apenas com virtudes. Como o simbólico ritual wakianiano de enterrar o príncipe, para que ele visite seus ancestrais e então ressuscite como rei, a trama é sobre mudanças, algo inerente à vida.
“Em tempos de crise, tolos constroem muros; sábios, pontes”: essa frase extremamente politizada é um dos marcos Pantera Negra, colocando o novo filme do estúdio numa posição marcante: não é o melhor, mas com certeza é o mais importante. Além das cenas de ação, aventura e laços de amizade criados, a mensagem de uma visão de mundo globalizada num cenário político que prega o oposto vem para falar de tolerância e respeito, uma coisa que parece tão simples ao mesmo tempo tão esquecida – e representatividade, principalmente. Em tempos sombrios, um filme luminoso desses pode até não fazer diferença no grande esquema das coisas. Mas Coogle plantou uma semente, e muitos jovens negros representados agradecem.
Elenco
Chadwick Boseman
Michael B. Jordan
Lupita Nyong’o
Danai Gurira
Martin Freeman
Daniel Kaluuya
Letitia Wright
Winston Duke
Angela Bassett
Forest Whitaker
Andy Serkis
Direção
Ryan Coogler (Creed: Nascido Para Lutar)
Roteiro
Ryan Coogler
Joe Robert Cole
Baseado em
Pantera Negra (Stan Lee,Jack Kirby)
Fotografia
Rachel Morrison
Trilha Sonora
Ludwig Göransson
Montagem
Michael P. Shawver
Claudia Castello
País
Estados Unidos
Duração
134 minutos
Centra Extra
Depois da morte do pai nos eventos mostrados em Guerra Civil, T’Challa continuar o legado do Pantera Negra no papel de herói e de protetor de Wakanda, uma posição que o coloca na delicada posição de ser um protagonista do mundo ou manter seu estilo de vida – além de coloca-lo em rota contra seu passado na figura de Erik “Killmonger” Stevens.
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