O Regresso | Crítica | The Revenant, 2015, EUA

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O Regresso, novo filme de Alejandro Iñárritu, é contemplativo e tecnicamente impecável, podendo se mostrar um desafio para muitos, mas que vale a pena ser apreciado.

O Regresso (2015)

Com Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Domhnall Gleeson, Will Poulter, Forrest Goodluck, Arthur Redcloud e Grace Dove. Roterizado por Mark L. Smith e Alejandro G. Iñárritu baseado na obra de Michael Punke. Dirigido por Alejandro G. Iñárritu (Birdman).

8/10 - "tem um Tigre no cinema"É verdade que O Regresso traz alguns desafios, sendo o principal a sua longa duração – 156 minutos – o que permite que o diretor use e abuse de longos planos, contemplações da natureza, flashbacks em misto de sonhos e poucos diálogos. Também é verdade que Iñárritu poderia ser mais breve em suas contemplações, o que não quer dizer que o filme se torne maçante em todo o tempo que ele aponta sua câmera para a natureza. O diretor busca mostrar a jornada do herói por meio de vários símbolos, sendo a duração um deles. Ainda que não agrade a todos – perfeitamente compreensível – é inegável a qualidade da direção do mexicano e sua paixão por fazer cinema.

Há uma beleza impressionante em praticamente todos os planos do filme. Várias tomadas de Iñárritu e do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki virariam pôsteres. De longe, a fotografia é o elemento mais bem feito do filme, além de ser o mais fácil de notar seu sentido. Inspirado por diretores como Stanley Kubrick e seu Barry Lyndon (Barry Lyndon, 1975), Lubezki teve muitas dificuldades ao notarmos que, com exceção de uma cena, todo a fotografia do filme usou luz natural. Ainda que o uso de câmeras digitais ajude na exposição, trabalhar com a permissão da natureza é digno de nota.

O outro elemento usado narrativamente e usado de maneira bem mais sutil é a própria lente. Nos seus flashbacks – ou delírios – Hugh Glass (DiCaprio) repete várias vezes para o filho Hawk (Goodluck) a frase que a esposa indígena (Dove) lhe ensinou sobre enquanto tivesse fôlego, lute. Em vários momentos o diretor aproxima a câmera num close muito próximo de Glass nos seus momentos de grande desespero, e aí o seu bafo embaça a lente da câmera. É uma manobra arriscada – em outros filmes chega a ser um efeito galhofa – mas é tão significativo para a história do personagem que é justificado. Nisso, a experiência do protagonista quebra a quarta parede de maneira inusitada.

Os primeiros minutos do filme são bem importantes para apresentar o tom dos personagens. Apesar dos flashbacks de Glass tomarem parte da narrativa, é o presente que o define para a plateia no amor incondicional pelo filho e a oposição que encontra em Fitzgerald (Hardy) na fuga do ataque dos arikara – enquanto um grita para que os companheiros fujam o outro se preocupa em primeiro lugar com as peles que haviam coletado. Interessante também como Fitzgerald é montado pouco a pouco como um personagem detestável, principalmente pelas suas falas. Além de ser movido por motivos financeiros, o que sai de sua boca distorce tanto as palavras de Deus – o que o torna um profano – quanto as dos homens. Acredite ou não numa figura espiritual, isso é importante para o personagem.

Também é importante destrinchar a contemplação da natureza que Iñárritu nos mostra, e por quê escolhe tantos planos longos. Além de ser parte de sua assinatura – numa versão bem mais contida de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) [2014] – simbolicamente é a jornada de Glass. Ferido, mudo e sem poder fazer muito além de se arrastar pelo chão e pelo curso de rios, o personagem viveu tudo aquilo. E vemos apenas uma ínfima parte desses momentos ferais de Glass. E os signos são interessantes de notar, como filmar de baixo para cima – também outra assinatura do diretor – e o corvo devorado, fazendo subversão da figura da morte.

O roteiro de Iñárritu e Smith tem cuidado também de não estereotipar a figura do indígena – embora faça isso de leve com a dos franceses – quando o líder dos arikara lembra quem são os invasores de sua terra, e que a sua selvageria vem de um povo desesperado que hoje passa fome e frio e, além de tudo, tem que se sujeitar à vontade do homem branco. Hawk, personagem criado para o filme, representa o ódio que muitos tiveram para com os indígenas. Sendo ele um mestiço causa asco para Fitzgerald pelo simples fato de existir, quase como uma aberração aos olhos do criador, de novo distorcendo a base religiosa.

A essa altura podemos dizer que Iñárritu trouxe um filme que se destaca mais pela parte técnica do que pela história. Quando percebemos que a história poderia ser contada com menos tempo sem perder essa qualidade em destaque, vale a pena nos perguntarmos da decisão do diretor em contá-la dessa maneira. É uma decisão estética, baseada na crença que a contemplação era necessária para a compreensão da história. Isso pode ser questionado, mas não é o jeito errado de fazer, ainda que projeção ganhasse mais dinamismo com 20 minutos a menos.

Mas o diretor queria que passássemos frio e uma sensação de isolamento tão grande quanto a de Glass. Se isso deixou o espectador incomodado, podemos dizer que Iñárritu conseguiu o que queria. Para completar, O Regresso nos traz um DiCaprio mais atuante com o corpo, gestos e carrancas do que linhas, tanto que as falas de Glass no terceiro ato estão bem longe de serem críveis, o que mostra que ele era um melhor personagem calado. Encontramos ainda mais assinaturas do diretor – o fogo do céu, além das já citadas – pequenas homenagens – porque é impossível não lembrar em certos momentos de Rambo: Programado para Matar e Star Wars. No fim das contas não é filme tão brilhante quanto o anterior do diretor, mas mostra que ele sabe como fazer cinema.

Sinopse oficial

Durante uma expedição na região selvagem inexplorada, o lendário explorador Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é brutalmente atacado por um urso e depois abandonado por membros do próprio grupo de caça. Sozinho e quase morto, Glass se recusa a sucumbir.  Impulsionado por pura força de vontade e amor pela mulher e filho indígenas americanos, ele enfrenta uma odisseia de 320 quilômetros através do Oeste vasto e indomado nos rastros do homem que o traiu: John Fitzgerald (Tom Hardy).  O que tem início como uma busca incansável por vingança, se torna uma saga heroica contra todas as adversidades na direção do lar e da redenção.”

O Regresso | Pôster brasileiro

O Regresso | Leonardo DiCaprio

O Regresso | Leonardo DiCaprio

O Regresso | Tom Hardy

O Regresso | Leonardo DiCaprio

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".