Decisão de Risco | Crítica | Eye in the Sky (2016) EUA

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Divisão de Risco (2016)

Com Helen Mirren, Aaron Paul, Alan Rickman, Barkhad Abdi, Jeremy Northam, Iain Glen, Phoebe Fox. Roteirizado por Guy Hibbert. Dirigido por Gavin Hood (Ender’s Game: O Jogo do Exterminador).

Apresentando um cenário atualíssimo, Decisão de Risco é um filme tenso e mostra que a guerra só tem graça quando ela é de mentira.

9/10 - "tem um Tigre no cinema"

É muito difícil que uma produção belicosa não caiar na armadilha de ser uma ode à guerra. Decisão de Risco é, à primeira vista, um retrato de como os conflitos são travados atualmente com drones e câmeras móveis de vigilância. Porém, fala também de pessoas e como elas são postas à prova de decisões morais, em posições diferentes, longe fisicamente do conflito, e como, mesmo assim, sofrem por isso. É uma discussão sobre os atos cíclicos da guerra, de como decisões difíceis são tomadas, enquanto nós da audiência sofremos com a tensão imposta pelo diretor, enquanto não podemos fazer mais que comemorar a pequenas vitórias.

O tempo da ação desenfreada passou. Por mais nostálgico que seja, o mundo real está deixando cada vez mais para trás filmes como Os Mercenários (The Expendables, 2010, Dir Sylvester Stallone) e focando do céu à terra cirúrgicos ataques. No entanto, podemos cair no lugar comum e dizer que esse tipo de guerra é impessoal e fria, o que é desconstruído por Hood e Hibbert nos diferentes pontos de vista dos personagens, retratados por seus fusos horários diferentes. Há inclusive simbologias interessantes no uso desses cenários, sendo a mais forte a base aérea ser no deserto de Nevada – brincando com o conceito de que o que acontece em Vegas fica em Vegas.

A discussão em gabinetes fechados muda todos os envolvidos. A General Powell (Mirren) se foca na sua missão de anos, mas não se importa em entrar no modo de vingança. O General Benson (Rickman) esquece que tem uma filha da mesma idade da garota queniana em potencial perigo. O próprio Steve Watts (Paul) que precisa confrontar seus superiores e todo o conceito de hierarquia. Não são jogos de guerra, e isso o diretor faz questão de frisar com muita habilidade inclusive no campo musical. Paul Hepker e Mark Kilian aumentam os momentos de tensão com suas notas, mas Hood sabe trabalhar também com o silêncio, algo pouco comum no cinema de ação hoje.

É verdade que o termo ação não se aplica ao filme, pelo menos não do jeito clássico. Desde quando o drone pilotado pelo tenente Watts e a tenente Carrie Gershon (Fox), vigia os céus do Quenia somos telegrafados, mesmo que sutilmente, de seu resultado. A partir daí, são 90 minutos de uma tensão pouco vista no cinema – algo tão agoniante quando no injustiçado Sicario: Terra de Ninguém (Sicario, 2015, Dir Denis Villeneuve) –, em momentos que queremos desesperadamente que sejam resolvidos. Ali acabam os lados, e desejamos apenas que a jovem vendedora de pães escape ilesa do ataque de uma arma com o sugestivo nome de “fogo do inferno”.

Sobram-nos as pequenas vitórias, saindo da beirada da poltrona na esperançosa possibilidade de que nossos desejos deem certo. Nos sentimos assim quando o soldado somali infiltrado compra os pães menina, nos sentimos aliviados pelo plano dar certo, ainda que o pobre Jama (Abdi) seja perseguido pela milícia que toma conta daquela parte da cidade. É interessante que ele vira alvo da nossa atenção por causa disso e o diretor usa a câmera do drone, que são os olhos dos espectadores, para acompanha-lo por um tempo, até quando somos ordenados pelo diretor – e os soldados pelos seus superiores – à voltar ao assunto principal. Somente para sermos massacrados.

Gavin Hood quis mostrar que o custo da guerra moderna não é simplesmente apertar um botão, dissecando todos os passos que precisam acontecer até que aquele que tem as mãos no manche faça o disparo e esperar intermináveis segundos até o impacto da explosão. Decisão de Risco poderia ser um filme glorificando incursões militares em países com situações políticas complicadas, mas há tons de cinza e fuga de maniqueísmos, como vemos na hesitação de Watts e quando os extremistas desmontam a metralhadora do carro de ataque num ato de compaixão. Apesar de pequenas liberdades tomadas no campo tecnológico, é um retrato atual. E é profundamente triste constatar isso.

Sinopse oficial
Em uma guerra contra o terrorismo, até onde vai o conceito sobre moral? Helen Mirren é a Coronel Powell, que se vê em meio a um dilema quando uma garotinha de nove anos resolve entrar na zona do ataque de uma operação altamente secreta. Agora cabe a ela, ao piloto americano Steve Watts (Aaron Paul) e ao governo decidirem entre atacar ou recuar”.

Decisão de Risco | Pôster brasileiro

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".