After | Crítica | After, 2019
After é mais um capítulo com influências de obras que já eram problemáticas e sem ter as próprias raízes.
Cada vez que um filme como After aporta nos cinemas – mesmo vindo de outra mídia – fica no ar uma sensação de até quando as podemos suportar cópias da cópia da cópia. Essa redundância, obviamente, não é exclusiva de filmes para adolescentes que procuram uma pegada romântica com uma dose de audácia, mas é difícil entender o hype criado ao ponto de fãs histéricos gritarem a cada beijo do casal protagonista, uma cena que pude presenciar quando os dois vieram ao Brasil. E, mesmo descartando tal catarse, a produção, enquanto filme, tem problemas estruturais, se encontra no mesmo lugar de tantas outras obras, além de não se salvar nem mesmo pela atuação dos personagens, o que distância mais ainda de qualquer empatia que poderíamos ter.
Numa obra que menciona Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, Jane Austin, 1813) e outros clássicos da literatura escritas por mulheres para sustentar seu caminho, ou pelo menos justificá-los, é estranho que Tessa (Langford) já nos diga logo no prólogo que a vida dela é apenas um grande depois de Hardin (Fiennes-Tiffin). A história é eficaz ao menos em mostrar a diferença de personalidades entre o atual namorado de Tessa em relação ao bad boy, mas de tão exagerada lembra a construção daqueles vilões que estão no espectro tão oposto do mocinho que beira a incredulidade. É bem difícil acreditar como jovem como Noah (Arnold) se despede namorada sabendo que ficará semanas, talvez meses, sem vê-la.
É um mar de estereótipos que começam desde do namorado mais jovem até as colegas de turma de Tessa que só pensam em drogas, bebidas e sexo sem se preocupar com a faculdade. Ou como Hardin está constantemente vestindo preto. Ou como não sobra espaço para a sororidade num livro escrito por uma mulher – e quando isso acontece, uma cena perto da conclusão joga por terra essa interação. Ou ainda como o personagem negro parece mais um acessório de que alguém com vontade própria – e o pior é perceber que Landon (McGhie) tem uma mãe branca, quando se não fosse assim com certeza mudaria a relação entre personagens secundários.
É difícil até mesmo dentro das partes técnicas algo para podermos levar para fora da sessão. Fora uma cena quando Tessa sai do dormitório e a câmera abre mostrando a enormidade do campus e as possibilidades da personagem que não sabe se vai cursar administração ou economia, o filme cai no mesmo problema das produções de adolescentes que transformam o que deveria ser um filme numa sequência de pequenos vídeo-clipes para vender músicas que provavelmente estão (ou estarão) na lista das mais tocadas. Isso vem da pouca experiência de Jenny Cage como diretora, então podemos dar mais crédito a ela nas próximas tentativas, mas aqui ainda não temos um potencial em vista.
Apesar deste não ser um filme de super-heróis, é difícil não se irritar com a perfeição de Hardin. É como ele fosse um presente dos deuses para quem o deseje, com seu jeito de não e encaixar nas regras, gritando metaforicamente como é solitário, misterioso, e que se esconde numa máscara que precisa ser revelada pela mocinha. Mesmo dentro do universo dele com Tessa, a diretora apela para os elementos mais básicos para contar uma história, como na primeira vez que o casal tem um encontro romântico ele estar de preto – e dirigir um carro preto que parece saído de uma funerária – e Tessa de branco para reforçar a pureza da personagem. Para completar o quadro, a autora deixa no ar que o personagem inclusive tem entre as pernas um grande diferencial, digamos assim.
Parece uma piada fazer personagens tão dentro de caixas. O curioso que por causa desses elementos, a história poderia ser facilmente uma alegoria de como o gênero está saturado. Mas não. Baseada na obra de Todd, o filme de Cage se encontra no meio do caminho entre A Saga Crepúsculo, sem o sobrenatural, e a de Cinquenta Tons de Cinza, com menos perversidade sexual. Se as obras de inspiração já tinham problemas por si, aqui temos essa colcha que usou de obras questionáveis em vários níveis para se tornar palatável para uma nova geração de jovens garotas que acreditam que o amor pode mudar até o mais cretino dos personagens.
E, além de tudo, temos as atuações. Podemos até entender que Langford e Fiennes-Tiffin estão no começo de carreira, mas é culpa também da diretora em não conseguir tirar mais de seus dirigidos. Percebe-se um esforça da protagonista que ainda consegue sorrir e mostrar insegurança pelas feições, mas Hardin passa para nós a impressão de ser uma estátua, pois não muda nem a expressão nem o modo de falar. Engessado como um robô, a falta de nuance durante as mudanças de humor do personagem mostra a tanto a incapacidade de versatilidade dele quanto a falta de força na direção que não conseguiu tirar nada do ator além da cara congelada.
Se a sua ideia de entretenimento ainda circular por histórias de mulheres que se sentem atraídas por homens diferentes de seus namoradinhos de infância, mas que por dentro são muito fofos, After é feito para você. Entre personagens que são extremados nas suas personalidades – poder ser aquele emo ou a mãe superprotetora – a produção tinha um potencial inicial de seguir as autoras que cita (Emily Brontë e Austen) e realmente mostrar que não é preciso mudar ninguém e nem esperar alguém para ser feliz. Ao invés disso, investe no caminho mais comum e com respaldo de obras pasteurizadas, deixando o público mais alheio às mudanças desse mundo.
Elenco
Josephine Langford
Hero Fiennes-Tiffin
Shane Paul McGhie
Direção
Jenny Gage
Roteiro
Susan McMartin
Tamara Chestna
Jenny Gage
Baseado em
After (Anna Todd)
Fotografia
Tom Betterton
Adam Silver
Trilha Sonora
Justin Burnett
Montagem
Michelle Harrison
País
Estados Unidos
Distribuição
Aviron Pictures
Diamond Films (Brasil)
Duração
106 minutos
Data de estreia
11/abr/2019
Tessa está começando uma nova vida na faculdade longe de casa. Lá ela conhece o atraente e misterioso Hardin e começa a se atrair por ele, mesmo parecendo errado.
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