Quarteto Fantástico | Crítica | Fantastic Four, 2015, EUA

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Filament.io 0 Flares ×

Ao não aprender com os erros do passado, o novo Quarteto Fantástico não percorreu o caminho para se tornar verdadeiramente fantástico.

Fantastic Four, 2015

Com Miles Teller, Michael B. Jordan, Kate Mara, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey e Tim Blake Nelson. Roteirizado por Simon Kinberg e Jeremy Slater, Josh Trank, baseado nos quadrinhos de Stan Lee, Jack Kirby. Dirigido por Josh Trank (Poder Sem Limites).

4/10 - "tem um Tigre no cinema"Se eu fosse supersticioso, diria que existe uma maldição envolvendo qualquer coisa ligada às versões cinematográficas de Reed Richards e companhia. Como não é o caso, o provável é que os produtores não conseguem olhar para trás e aprender com os erros do passado. E a prova cabal é o novo Quarteto Fantástico. Falta firmeza na direção, carisma na maioria dos personagens, é recheado de atuações que variam entre o fraco e o mediano e nem mesmo os efeitos especiais, que poderiam ser o carro chefe da produção, empolgam. A impressão final é que esse é um filme que serviu apenas para segurar os direitos da franquia na esperança que haja um sucesso comercial suficiente para que na continuação as coisas se acertem.

A princípio, existem bons elementos nessa produção que reinicia o Quarteto no universo Marvel/Fox, e o primeiro ato do filme é a melhor parte da história. Vemos que existe em Trank um lampejo do bom trabalho que ele havia apresentado em Poder Sem Limites (Chronicle, 2012), principalmente no modo que ele apresenta a ligação que os jovens Reed e Ben tem quando criança. Ele prefere mostrar elementos a discursá-los, como as marcas no rosto de Reed – provavelmente causadas pelo abusivo padrasto – e fazer a ligação logo em seguida com o futuro ser de pedra que leva alguns tabefes do irmão, que é uma situação similar. E, sejamos francos, que criança não se interessaria por algo tão legal quanto um transportador de matéria?

Outros elementos visuais que servem à narrativa são algumas coisas bem simples, como a fonte de energia do experimento inicial ser Nintendo 64, ou a passagem de tempo pela cura das feridas de Johnny Storm (Jordan). Já outros, nem tanto e pesam por seus clichês. Então, Ben Grimm (Bell) é o baixinho invocado, representação de alguém como O Coisa. E não que ele seja baixo de verdade (o ator tem cerca de 1,70m), mas Trank constantemente o faz parecer bem menor que seu já alto amigo Reed Richards (Teller, com 1,83m) que, por ser mais esticado em vários sentidos, já é a gênese dos poderes de elasticidade do Sr Fantástico. Johnny é o mais ousado, ou seja, vai pegar fogo como o Tocha Humana. E Sue Storm (Mara) se torna invisível por ser deixada de lado no plano dos colegas de atravessar para a outra dimensão – aliás, num tempo de representatividade, isso soa bem feio. E mal vale a pena falar de Victor von Doom (Kebbell). Sua atuação na normalidade é tão convincente quanto a da encarnação em Destino, que fica sem mover a boca para se expressar.

Depois, há uma preguiça irritante no roteiro escrito e reescrito. É um exagero – ou até um ex-machina, se preferirem – acreditar que uma mente proeminente quanto o Dr Franklin Storm (Cathey) estaria numa feira de ciências numa escola comum. E todos os portões interdimensionais levam ao mesmo lugar, não importam se eles foram feitos numa garagem de subúrbio ou numa grande instalação em Nova York? Assim como é bem difícil aceitar que a segurança do prédio Baxter seja próxima de zero, ao ponto de Reed tirar uma selfie e enviar pelo celular uma foto de um projeto que tenha a absoluta certeza estar numa ala se segurança máxima.

Você poderá notar uma mudança naquelas sutilezas que mencionei no começo, o que mostra como as várias mãos que escreveram o roteiro se atrapalham. Começam os diálogos explicativos – “você está em casa”, diz obviamente Ben para Reed –, e termos da ficção científica são jogados para o quarteto e audiência numa justificativa desnecessária. Na verdade, fica difícil entender porque o filme tenta fazer isso com alguns conceitos quânticos, e ignora quando seria hora de explicar como os poderes de cada um dos quatro funcionam.

Esse filme é uma mistura de muitos maus momentos com outros aproveitáveis. Temos mais ficção científica e menos ação, o que, por si só, daria um ar diferente a todos os filmes de heróis da Marvel que vimos até então, mas é muito pouco equilibrado. No curto filme, só há espaço para quinze minutos de aventura. E enquanto Trank consegue mostrar como Reed está sofrendo por tudo isso que está acontecendo – a transformação dos amigos, a provável morte de Doom – quando vemos que seu sorriso sumiu, há muitas sombras em seu rosto, mas ele ainda tem sinais da juventude como barba rala e espinhas, ele desperdiça toda essas qualidades para construir Destino. Enquanto explorador, ele é o cientista mais estúpido do cinema desde o biólogo de Prometheus (2012), e quando se torna o vilão louco, não dá pra acreditar na sua linguagem corporal, algo extremamente necessário para alguém que não consegue mais abrir a boca para falar ou piscar.

Quarteto Fantástico (2015) || Pôster brasileiro

A falta de equilíbrio é a maior falha desse novo Quarteto Fantástico. Ainda que existam elementos interessantes como o fato de Sue ser adotada e que a questão dela ter um irmão negro é tratada com a naturalidade necessária, o elemento militar, atual e uma crítica ao momento que os EUA passam, falta aventura. Esse precisava ser um filme mais empolgante, com melhores efeitos especiais – O Coisa está sofrível, apesar dos efeitos do Sr Fantástico estarem bem-feitos -, e com melhores soluções para o desfecho. É muito óbvio que as ações solitárias não vão funcionar, então não era necessário que os heróis enfrentassem Destino um a um só para perceber que deveriam ficar unidos. É uma produção que mostra faltar muita estrada para que esse quarteto se torne fantástico.

Sinopse oficial

Quarteto Fantástico é um reboot contemporâneo do time de super-heróis tradicional da Marvel, centrado em quatro jovens desajustados que são teleportados para um universo alternativo e perigoso, que altera sua forma física de maneiras inesperadas. Com suas vidas transformadas, o time precisa aprender a aproveitar suas novas habilidades e trabalhar junto para salvar o planeta de um inimigo já conhecido por eles.”

Veja o trailer de Quarteto Fantástico

[críticas, comentários e voadoras no baço]
• email: [email protected]
• twitter: @tigrenocinema
• fan page facebook: http://www.facebook.com/umtigrenocinema
• grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/umtigrenocinema/
• Google Plus: https://www.google.com/+Umtigrenocinemacom
• Instagram: http://instagram/umtigrenocinema

http://www.patreon.com/tigrenocinema

 

Volte para a HOME

 

Share this Post

About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".